DIA DOS PAIS

Paternidade depois dos 50: desafio, emoção e gratidão

Maturidade traz prós e contras, mas é encarada com alegria pelos ‘pais tardios’

Cibele Vieira
13/08/2023 às 10:09.
Atualizado em 13/08/2023 às 10:09
“Minha filha me completou, mas penso em questões práticas sobre quanto tempo eu vou durar, se será suficiente para ajudá-la a se tornar uma pessoa mais independente”, confessou o psicólogo Vinicius D’Ottaviano (Divulgação)

“Minha filha me completou, mas penso em questões práticas sobre quanto tempo eu vou durar, se será suficiente para ajudá-la a se tornar uma pessoa mais independente”, confessou o psicólogo Vinicius D’Ottaviano (Divulgação)

Eles já tinham passado dos 50, 60 anos de idade quando o primeiro e sonhado filho chegou. Entre alegrias e novas rotinas, os pais tardios contam como se sentem diante da nova realidade, que consideram gratificante, mas também desafiante. Carlos Alberto Rodrigues de Souza, 64 anos, foi pai há três meses quando nasceu o pequeno Jayme, e Vinicius Sampaio D’Ottaviano, de 57 anos, é pai há quatro anos da garota Valentina. Ambos aproveitam cada momento e, agora, reconhecem estão “completos”. Eles se cuidam para que possam acompanhar o crescimento dos filhos por um longo período.

Vinicius D’Ottaviano relata que não teve pressa na vida e inicialmente se ocupou estudando. Cursou cinco faculdades (Filosofia, Teologia, Artes, Psicologia e Direito) até optar por se tornar bailarino clássico e atuar como psicólogo. O casamento ocorreu quando completou 50 anos, com uma esposa cerca de 15 anos mais nova, e três anos depois nasceu Valentina. “Para mim foi tranquilo, o parto foi planejado e a paternidade ocorreu de forma muito responsável, embora ela tenha nascido na pré-pandemia. Isso nos deixou sem uma rede de apoio”, conta. O nascimento da filha resgatou o lado mais espiritual e consolidou os valores de Vinicius. “Me senti completo”, confessa.

Ele consegue se dedicar e priorizar a relação com a filha, pois a atividade profissional como psicólogo permite horários mais flexíveis. Com isso, ele pode ficar períodos maiores com ela em casa – o que a rotina de trabalho mais rígida da esposa não permite – além de acompanhá-la em várias atividades, inclusive levar e buscar na escola, o que faz de bicicleta. 

PRÓS E CONTRAS DA MATURIDADE

Embora a maturidade tenha vantagens, como a antecipação de soluções práticas devido à experiência e o conhecimento acumulado, Vinicius observa diferenças em relação a outros pais, mais novos. Mesmo com um vigor físico acima da média da idade, a disposição é uma das preocupações que ele tem. “Levar ao parquinho já se torna um pouco complicado, porque é um corre pra lá e pra cá que fico exausto”, comenta. Por outro lado, ele ressalta que “ser pai muito jovem também não recomendo, pois observo muitos pais imaturos, alienados, sem planejamento e muitos casos de abandono emocional dos filhos”. Sua preocupação real como pai percorre outros caminhos, que passam pelo tempo. “Penso em questões práticas sobre quanto tempo eu vou durar, se será suficiente para minha filha se tornar uma pessoa mais independente, inclusive financeiramente”, revela. 

Ao comentar sobre a responsabilidade de pai – que coloca uma pessoa no mundo sabendo que terá de cuidar dela até morrer – ele questiona: “quando ela estiver na faculdade, daqui 15 anos, vai precisar de orientações, e eu estarei com 72 anos, será que vai dar certo? Mas espero durar 100 anos, me manter bem e com saúde”, brinca.

Atuando como psicólogo terapeuta de casais e perito judicial em casos de abuso infantil, Vinicius fica muito incomodado com as questões de violência contra mulher. “As estatísticas mostram que a cada três mulheres, uma vai sofrer violência, isso me angustia ao pensar em minha filha”. Por isso, ele alerta: “é bom o casal fazer um ‘test drive’ antes de ter filhos, se planejar (inclusive financeiramente) e, quando os filhos vierem, trabalhar o psicológico, o espiritual, o emocional e o pedagógico”. Ele comenta que Valentina é a primeira filha – e pretende que seja a única. 

EXPERIÊNCIA RECOMENDADA

Carlos Alberto Rodrigues de Souza é advogado com atuação em Campinas e Valinhos. Ele vem de uma família onde foi filho único. Mesmo tendo sido casado por 30 anos, comenta que os próprios filhos não vieram “por vontade de Deus”. Entretanto, no segundo casamento, com apenas um ano e meio de relacionamento nasceu o primeiro filho, Jayme, que hoje está com três meses de vida. “É uma das experiências mais fascinantes que já tive na minha vida, recomendo para quem ainda não experimentou o sentimento de ser pai”, reforça Carlos, ainda emocionado com a novidade.

Sua rotina com a chegada do filho não mudou muito, pois a esposa – 30 anos mais jovem – deixou o trabalho para se dedicar exclusivamente à maternidade. “O que mudou é que hoje não vejo a hora de chegar ao final da tarde para voltar para casa depois do trabalho e ficar com ele”, afirma. 

O tempo é uma das maiores preocupações de Carlos em relação à paternidade. “Espero que Deus me dê mais alguns bons anos de vida para que eu possa realmente deixar todos os ensinamentos que gostaria de passar a ele em relação à formação, retidão e caráter que gostaria que meu filho tivesse. Gostaria de poder vê-lo se desenvolver no plano pessoal e, quiçá, no profissional também”. Ele comenta que não sente nenhuma dificuldade em relação ao exercício da paternidade, pois considera ter acumulado, pelo tempo de vida, um bom conhecimento e agora só pede para ter “um tempo de razoabilidade para que consiga transferir um pouco desse conhecimento a ele”. 

Exercer a paternidade na idade madura é, nas palavras do advogado, “deslumbrante, diferente e faz muito bem”. Ele considera que a experiência a esta altura da vida muda muitos conceitos, aflora a sensibilidade e ajuda a ter mais discernimento com as pessoas, graças à paciência e aos sentimentos mais fraternais que se desenvolvem. “Por mais que eu tenha aprendido ao longo dos anos, acho que faltava essa experiência para que eu ficasse pleno em termos de conhecimento de vida”, conclui. 

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