QUESTÃO DE SEGURANÇA

Parques fechados frustram o sábado de lazer da população de Campinas

Apesar de a medida ter sido amplamente divulgada, muitas pessoas alegaram desconhecer a informação e foram até os espaços públicos para se divertir

Alenita Ramirez/ [email protected]
29/01/2023 às 10:40.
Atualizado em 29/01/2023 às 10:40
Na Lagoa do Taquaral, que recebe até 25 mil frequentadores aos finais de semana, o movimento foi pequeno, à exceção da pista externa do parque, onde muitas pessoas fazem corridas e caminhadas (Kamá Ribeiro)

Na Lagoa do Taquaral, que recebe até 25 mil frequentadores aos finais de semana, o movimento foi pequeno, à exceção da pista externa do parque, onde muitas pessoas fazem corridas e caminhadas (Kamá Ribeiro)

A Prefeitura de Campinas manteve a medida de fechamento dos parques neste final de semana e o cenário nas áreas percorridas pela reportagem do Correio Popular na manhã de sábado (28) foi o mesmo: portões cerrados, baixa movimentação e comerciantes desolados. Mesmo com a ampla divulgação do fechamento dos espaços públicos pela imprensa, muitos visitantes desavisados foram ater as áreas de lazer guiados por informações desatualizadas que constam na internet. Quem foi pego de surpresa e estava na cidade a passeio, teve que buscar outras alternativas de lazer ou voltar para casa. A maior parte dos que "deram com a cara na porta" veio de cidades da região. Na sexta-feira (27), a Prefeitura divulgou que a partir de agora 25 parques da cidade serão fechados sempre que chover 80 milímetros (o equivalente a 80 litros por metro quadrado) no prazo de 72 horas. A previsão é de mais chuva hoje.

Entre os turistas da região estava o casal de médicos aposentados Sueli e João Paulo Ribeiro, de 60 e 61 anos, que são de Urupês, a cerca de 330 km de Campinas. Os dois levaram, logo pela manhã, o neto André, de 3 anos, para passear no Bosque dos Jequitibás, mas depararam com o portão fechado. "Meu netinho queria vir e achávamos que estaria aberto. É triste porque a criança não entende, mas vendo por esse lado da prevenção, o fechamento é a melhor atitude. O jeito agora é procurar praças que só têm brinquedos", disse Sueli.

O estudante de química na Unicamp, Raul Claudino, de 20 anos, também levou a namorada Lia Elisabete Andrade, de 21 anos, que é de Fortaleza, para um passeio no Bosque. Ele mora em Barão Geraldo e não sabia que o local estava fechado. "Pesquisei no Google o endereço do Bosque, pois viemos de Uber, e lá dizia que o local estava aberto. Agora é dar uma volta a pé pela cidade", disse Claudino, resignado.

Mas não foram apenas os moradores de outras cidades que foram pegos de surpresa. A dona de casa Rosemeire Santos, de 43 anos estava acompanhada de uma prima que não quis se identificar e da filha desta, Bruna Mezetti, de 23 anos. Elas moram no Distrito Campo Grande e foram até o Bosque para curtir a manhã de sábado. O passeio, obviamente, foi frustrado. "O jeito é ir para casa. Compreendemos a decisão da Prefeitura, pois por aqui passam muitas crianças e jovens e as árvores são antigas. Além disso, o solo está encharcado", ponderou Bruna. 

No Parque Portugal (Lagoa do Taquaral), palco da tragédia registrada no último dia 24, quando um eucalipto caiu, atingiu e matou a pequena Isabela Tibúrcio Fermino, de 7 anos, a situação era a mesma. Em situação normal, o local recebe um público em torno de 25 mil pessoas no final de semana. No sábado, o movimento era muito inferior.

O empresário Jairo Salgado, de 63 anos, e a dona de casa Cláudia Regina Teixeira, de 52 anos, não conseguiram passear pelo local, como haviam planejado. O casal é de São Paulo. "Estamos em um hotel e como não conhecíamos a Lagoa do Taquaral, decidimos vir cedo. Não sabia que estava fechado, mas se foi por segurança, é bom evitar para não perder mais vidas. Agora vamos caminhar no shopping", disseram, desolados.

Boa parte dos turistas que estava na manhã de sábadona Lagoa não sabia da tragédia, caso da enfermeira Daniela Coutinho Carvalho, de 36 anos, que é de Hortolândia e foi no local com o marido e as filhas, de 5 e 7 anos. Quando soube do motivo do fechamento, a família ficou em estado de choque. "A gente sempre vem aqui. As meninas estavam empolgadas para passear. Que triste", disse Daniela.

O fechamento dos portões da Lagoa não afetou a pista externa. As pessoas que frequentam o local para se exercitar, seguem com a rotina normal. Caso da empresária Gabriela Melissa Oliveira, de 25 anos, que faz caminhadas no local há três anos, de três a quatro vezes por semana. "Acho que tinha que fechar mesmo, pois o solo está muito úmido. Eu sempre caminho na pista externa por causa do percurso que é maior, mas há trechos que dá medo, pois tem quedas de galhos", contou a jovem, que estava acompanhada do namorado.

No Parque Ecológico Monsenhor Emília Salim, o cenário se repetiu, mas com um número menor de pessoas. Um casal que mora nas proximidades levou os netos, de 1 e 7 anos, para brincar no acesso de entrada do parque. "A gente sabia que estava fechado e mesmo que estivesse aberto, não entraríamos, pois sabemos do risco existente. O fechamento dos parques é importante, mas desde que se tome uma ação para resolver o problema. No período de fechamento é preciso fazer avaliação das árvores e ver o que fazer com as que estão com problemas", cobrou a engenheira civil Márcia Jacob, de 66 anos. "O risco de queda de árvores está em toda a cidade. Temos árvores de crescimento rápido e frágeis. Então, não vale apenas fechar parques, mas avaliar o que se tem e fazer ações", completou.

Comércio

Com o baixo número de visitantes na Lagoa do Taquaral desde a última terça-feira, os comerciantes amargam dias de queda no faturamento. Segundo eles, a redução gira entre 50% e 70%, dependendo do tipo de negócio. Dono de uma banca de vendas de coco, um comerciante que não quis se identificar disse que suas vendas caíram cerca de 70%. "A maior parte dos frequentadores da Lagoa é de famílias, com crianças. Elas vêm aqui com interesse de passeio, mas como está fechado, vão embora", lamentou.

A atendente de uma banca que vende milho, Disraelly Valentim, de 21 anos, também sentiu a baixa no movimento no local. "Além do público que frequenta a Lagoa ser família, não há opção de banheiro aqui por perto para o público. E isso afasta até os que vêm para, pelo menos, passear do lado de fora. É claro que o fechamento prejudica os comerciantes, mas o que vale mesmo é a segurança, ela é prioridade em tudo", considerou a jovem. "A Prefeitura teve oportunidade de tomar medidas antes da tragédia que aconteceu aqui, mas não tomou. Há pouco tempo atrás o bonde ficou uma semana sem funcionar porque tinha caído um galho na pista. Já era um aviso", criticou.

Em nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura informou que os parques seguem fechados até dia 3 de fevereiro, quando será feita uma reavaliação da medida. "A Prefeitura divulgou amplamente o fechamento dos parques, inclusive reforçou a informação ontem (sexta-feira)", justificou o texto.

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