PREVENÇÃO NA ORDEM DO DIA

Parques de Campinas fecharão toda vez que chover 80mm no prazo de 72h

Decisão foi anunciada pela Prefeitura para precaver novos acidentes

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
28/01/2023 às 10:09.
Atualizado em 28/01/2023 às 10:09
Funcionário a serviço da Prefeitura de Campinas realiza a poda em espécies no Bosque dos Jequitibás: técnico em eletrônica morreu ao ser atingido por uma árvore em dezembro (Rodrigo Zanotto)

Funcionário a serviço da Prefeitura de Campinas realiza a poda em espécies no Bosque dos Jequitibás: técnico em eletrônica morreu ao ser atingido por uma árvore em dezembro (Rodrigo Zanotto)

A Prefeitura fechará os 25 parques de Campinas sempre que chover 80mm (o equivalente a 80 litros por metro quadrado) no prazo de 72 horas, enquanto outras cidades da região tomam medidas preventivas para evitar acidentes com quedas de árvores. A decisão foi divulgada em decorrência da morte da menina Isabela Tibúrcio Fermino, de 7 anos, atingida por um eucalipto que caiu, na terça-feira (24), no Parque Portugal (Lagoa do Taquaral), a principal área de lazer de Campinas, que recebe um público em torno de 25 mil pessoas no final de semana.

"Uma chuva de 80mm é suficiente para saturar, encharcar o solo, o que justifica o fechamento para precaver novos acidentes", disse na sexta-feira (27) o secretário municipal de Serviços Públicos, Ernesto Dimas Paulella. Para ele, a saturação foi a causa das duas mortes por queda de árvores em Campinas no prazo de 27 dias. No dia 28 de dezembro, o técnico em eletrônica Guilherme da Silva de Oliveira Santos, de 36 anos, morreu quando o carro que dirigia foi atingido por uma árvore do Bosque dos Jequitibás, enquanto transitava pela Rua General Marcondes Salgado, no bairro do Bosque.

Parques fechados 

Após a morte trágica de Isabela, a Administração fechou, por tempo indeterminado, as 71 áreas de lazer e esportivas da cidade. Paulella disse na sexta-feira que esses espaços continuarão fechados, no mínimo, até a sexta-feira da próxima semana (3 de fevereiro) em virtude da previsão de novas chuvas. Campinas tem previsão de chuvas isoladas hoje e pancadas acompanhadas de trovoadas de amanhã até terça-feira, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). 

"Apesar de não ter chovido nos últimos dias, o solo continua muito encharcado", esclarece o secretário. De acordo com ele, Campinas registrou, acumulado, 280mm em apenas três dias da semana passada, em virtude das tempestades registradas de terça a quinta-feira. Uma nova avaliação da situação das áreas de lazer e esportivas será realizada no dia 3, quando ocorrerá a definição da continuidade ou não do fechamento das áreas de lazer.

Paulella informou que, em uma semana, incluindo a última terça-feira, o município registrou 300 quedas de árvores de grande porte. Os incidentes quintuplicaram os pedidos para poda de árvores, com o volume passando de 50 por semana para 250 na Prefeitura. "Esse procedimento tem de seguir critérios técnicos. É imprescindível atendê-los para a poda acontecer", reforçou Paulella. Segundo ele, estão sendo realizadas 20 podas diariamente e o trabalho será reforçado a partir da próxima semana, quando mais uma equipe passará a atuar. Ao todo, serão sete turmas com 10 trabalhadores cada. 

Entrada da Lagoa, que está fechada por tempo indeterminado depois da tragédia envolvendo a garota Isabela (Kamá Ribeiro)

Entrada da Lagoa, que está fechada por tempo indeterminado depois da tragédia envolvendo a garota Isabela (Kamá Ribeiro)

Região

Outras prefeituras da região também reforçaram a vistoria e poda para evitar quedas. Valinhos divulgou que, desde quarta-feira (25), uma força-tarefa faz vistoria e mapeamento das árvores com risco de queda. Os trabalhos foram iniciados em locais de lazer com grande circulação de público, como o Centro de Lazer do Trabalhador (Parque CLT), Pq. dos Lagos, Pq. Monsenhor Bruno Nardini (Pq. da Festa do Figo) e grandes praças. Em seguida, as equipes percorrerão os bairros e outros locais.

Em Sumaré, o trabalho é realizado por uma equipe composta por três engenheiros - agrícola, agrônomo e florestal -, acompanhada por um técnico ambiental, que percorre os espaços públicos arborizados. Já a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Hortolândia não cogita o fechamento dos parques da cidade. "Um dos desafios da Secretaria de Meio Ambiente é a substituição de espécies plantadas há mais de 20 anos de maneira inadequada. Em 2022, foram plantadas, de forma adequada, cerca de 35 mil mudas em Hortolândia", justificou por meio de nota. 

Paulínia também montou uma força-tarefa para vistoriar as árvores em parques públicos. Na quinta-feira, os trabalhos foram concentrados nos parques Zeca Malavazzi, no Jd. Itapoan, e das Flores, no Jd. Primavera. A ação preventiva envolve as pastas de Obras e Serviços Públicos, Meio Ambiente, Defesa Civil e o Consórcio Paulínia Sempre Limpa. 

Apuração

O Ministério Público e a Polícia Civil vão apurar a morte de Isabela. A Promotoria abriu um procedimento para fazer a averiguação e solicitou um parecer do Centro de Apoio à Execução (Caex) - órgão técnico do MP -, que deverá examinar as condições fitossanitárias das árvores da maior área de lazer do município, que recebe um público em torno de 25 mil pessoas nos finais de semana.

O procedimento inicia a fase em que o promotor tomará todas as medidas necessárias à apuração dos fatos. Ele pode requisitar informações, determinar diligências e realizar outras ações. Não há prazo para encerrar um procedimento administrativo na área cível. Dependendo do resultado, a medida pode gerar a abertura de um inquérito civil ou criminal. O Caex conta com profissionais das mais diversas áreas de formação incumbidos de subsidiar a atuação do promotor de Justiça em assuntos para além do Direito. 

De outro lado, a Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar o caso, que foi registrado no 4º Distrito Policial, que fica próximo à Lagoa do Taquaral, como morte acidental. O inquérito deverá ser concluído no prazo de 90 dias, podendo ser prorrogado pela Justiça a pedido do delegado responsável. Para a Prefeitura de Campinas, que administra o parque, a morte de Isabela foi uma fatalidade provocada pelo encharcamento do solo em razão das pesadas chuvas da semana passada.

De acordo com o secretário da Pasta de Serviços Públicos, aparentemente, o eucalipto que caiu estava sadio, não apresentando sinais de ação de brocas ou fungos. Amostras foram coletadas para análises independentes do Instituto Biológico e do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). O mesmo procedimento foi adotado pela Administração em relação à figueira branca que caiu e causou a morte de Guilherme Santos no final de dezembro. Os resultados divulgados esta semana apontaram que a árvore estava sadia. 

CPI

As quedas de árvores levaram o vereador Paulo Gaspar (Novo) a apresentar requerimento junto à na Câmara Municipal para formação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), visando a se houve negligência da Prefeitura no manejo. Já o vereador Higor Diego (Republicanos) protocolou indicação à Administração solicitando a realização de podas de árvores em escolas e creches municipais como ação preventiva ao retorno às aulas na rede, previsto para a próxima semana. 

Com a redução das chuvas nesta semana, todos os sete municípios da região que estavam em estado de alerta passaram para observação, de acordo com o Sistema Integrado de Defesa Civil (Sidec), mantido pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil. Nas últimas 72 horas - entre as manhãs de terça e na sexta-feira - Campinas registrou o acumulado de 28,4mm de chuva. As outras cidades são Capivari, Hortolândia, Monte Mor, Paulínia, Sumaré e Cordeirópolis, onde a precipitação variou entre 0,2 e 7,8mm. 

As intensas chuvas da semana passada levaram a Prefeitura de Campinas a decretar estado de emergência. A medida permite a realização de obras sem a necessidade de licitação para reconstruir as quatro pontes que caíram, além de outras que foram danificadas e muros de gabiões que desabaram no município.

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