Após um hiato de 8 anos, estudantes assumem como 'vereadores'
Alguns dos vereadores-mirins empossados no Parlamento Jovem: bom jeito de aprender sobre política (Divulgação)
Vestindo camisa xadrez em tons de roxo e com o cabelo modelado com gel, Douglas Henrique Inácio dos Santos, de 13 anos e sem partido, assumiu ontem a presidência do Parlamento Jovem de Campinas com a proposta de lutar para que as escolas tenham psicólogos que possam atender os estudantes e encaminhar os que precisam de tratamento para o Sistema Único de Saúde (SUS). “Muitos alunos precisam disso”, afirmou. Os 33 jovens vereadores, dos quais 18 são meninas, foram eleitos em suas escolas e diplomados e empossados ontem na Câmara Municipal. Um dos vereadores-mirins é surdo, e será acompanhado, durante as reuniões, por um tradutor de libras. Todos os novos vereadores terão um vereador como padrinho para acompanhá-los e orientá-los. Dos 33 vereadores, 17 vão dedicar um tempo aos jovens parlamentares. Na cerimônia, não faltaram discursos em defesa da democracia, da participação popular e do empoderamento feminino. E também declarações de “fora Temer” e “Lula livre”. A partir de agora, os jovens atuarão como parlamentares, seguindo as regras da Câmara, incluindo reuniões ordinárias semanais onde apresentarão e votarão seus próprios projetos de lei. Os que forem aprovados por eles, segundo o presidente da Câmara, Rafa Zimbaldi (PSB), poderão se tornar projetos reais a serem apresentados pelos vereadores “de fato”. “Com o Parlamento Jovem, os estudantes se envolverão cada vez mais com suas comunidades e praticarão a cidadania”, afirmou. Quatro chapas se inscreveram para disputar a presidência do Parlamento, e a encabeçada por Douglas venceu com 51% dos votos. Uma das chapas foi formada apenas por meninas. A estudante Luara Íris Segatti Magno, aluna da escola Professora Clotilde B. Von Zuben, considerou importante a representatividade da mulher na política, em uma sociedade que, segundo ela, é machista e diminui muito o papel da mulher. “É importante estar aqui representando todas nós. Um dos nossos projetos é mostrar a importância da participação do jovem na política, ter uma vivência diferente”, disse a jovem vereadora. O estudante Mikael Saba, da escola Padre Emílio Miloti, que concorreu à presidência, disse que participou do processo eleitoral porque queria entender como funciona o processo político, para ajudar nas mediações e para que todos tenham direito de voz. Já Pila Faria, aluna da escola Alencar Castelo, defendeu que política é dialogo, e se a população precisa de algo é a política que pode fazer acontecer. “Política é a voz da população, é ajuda. Muita gente pensa que política é só um grupo de pessoas que está comandando, que está mandando e desmandando em tudo. Nossa chapa quer mudar esse pensamento, que mostrar que politica, na verdade, é ajuda”, afirmou. O Parlamento Jovem estava desativado desde 2010 e foi retomado após a reforma administrativa ocorrida na Câmara. O projeto atende escolas municipais a partir da formação específica dos professores pela Escola do Legislativo de Campinas. Os estudantes tiveram aulas sobre o funcionamento da Câmara e participaram de reuniões de preparação no Legislativo. Nas escolas, chapas foram formadas para disputar a eleição. Em três escolas, venceram as formadas só por meninas. Para Rafa Zimbaldi, a eleição de 18 vereadoras para o Parlamento Jovem indica um interesse crescente das meninas pela política, que poderá se refletir no futuro em uma Câmara com uma presença maior de mulheres.