Testemunhas da história, pedras têm apelo ambiental, mas dividem opinião de motoristas e moradores
Ruas de paralelepípedos resistem ao tempo e permanecem nas vias de Campinas (Dominique Torquato/AAN)
Resquícios do início da urbanização, algumas ruas de paralelepípedo resistem em bairros como o Cambuí, a Vila Industrial e o Centro de Campinas. Apesar de testemunhas da história da cidade, porém, elas não são unanimidade e dividem opiniões de motoristas e moradores. De um lado, quem defende as pedras alega questões ambientais, estéticas e de patrimônio para que sigam existindo. Do outro, os críticos defendem a cobertura com asfalto para tornar o trânsito mais “suave”, além de facilitar a manutenção.
A Prefeitura não tem um levantamento de quantas ruas ou quilômetros de vias públicas em Campinas são revestidas com paralelepípedos. Além disso, elas não são reconhecidas oficialmente como patrimônio da cidade pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). O órgão de preservação nunca tombou uma delas, mas tem adotado a prática de recomendar a manutenção da via em locais onde o paralelepípedo é parte do conjunto de imóveis tombados.
Entre as vantagens apontadas por especialistas, a questão da absorção da água das chuvas pelos pequenos espaços entre as pedras é a mais importante. Isso não acontece com o asfaltamento, que impermeabiliza o solo. Além disso, as pedras são mais duráveis que o asfalto.
Quem é a favor da permanência dos blocos antigos se justifica, também, com o argumento da segurança aos pedestres. Para eles, os veículos diminuem a velocidade nesses trechos. “Acredito que deve continuar assim. Além de ser mais bonito, os carros correm menos, em dias de chuva principalmente”, afirmou a dona de casa Maria Simone do Carmo Lima, de 30 anos.
A opinião é a mesma do aposentado Oswaldo Ribeiro de Azevedo, de 65 anos. Ele afirma que as ruas revestidas pelos blocos são mais bonitas. “Remete a tempos antigos, quando as pessoas olhavam mais ao seu redor e esqueciam um pouco da correria do dia a dia. É muito mais charmoso e bonito, sem dizer dos benefícios ambientais.”
A turismóloga e administradora Giovanna Pires também apoia a permanência. “As ruas ficam menos quentes e mais confortáveis, mas acho que faltam mais informações históricas desses pontos. A Prefeitura podia colocar placas com datas de sua origem, meio histórico mesmo”, afirmou.
O aposentado Benedicto Edson de Azevedo Marques gosta do modelo antigo, mas acredita que ele traz problemas. “Faz barulho, o carro trepida, em dias de chuva fica muito perigoso, já que quase não há aderência. Acho que tem que ser asfaltado.” O publicitário Cláudio Ayabe disse já ter batido o veículo em rua de paralelepípedo. “Estava chovendo e o freio não segurou. Se fosse em uma rua com asfalto, não teria acontecido.”
O professor de arquitetura e urbanismo João Verde disse que a aprovação de pavimentação de determinados trechos ocorre se há riscos de acidentes. “Tem pontos em que, com o passar dos anos, a pedra ficou muito lisa e, com isso, acidentes podem ocorrer, principalmente em descidas. Existe um trabalho de manutenção, mas ele é caro demais.”
Por outro lado, ele afirmou que há vias, principalmente no Cambuí, onde é impossível a pavimentação. “Quando construíram o Cambuí, quase não fizeram local para o escoamento de água. E hoje, é impossível pensar em pavimentação em certos pontos do bairro. Já fica alagado só com os blocos, imagine sem.”