REPERCUSSÃO

Para vereadores, volta de Hélio é 'cortina de fumaça'

Declarações, em entrevista ao Correio, depois de dois anos de silêncio, surpreendem vereadores

Milene Moreto
milene@rac.com.br
22/04/2013 às 07:24.
Atualizado em 25/04/2022 às 19:23

Hélio voltou à cena com um blog, no qual tem postado, desde ontem, vídeos e comentários (Dominique Torquato/ AAN)

O reaparecimento do prefeito cassado Hélio de Oliveira Santos (PDT) causou surpresa ontem em Campinas e repercutiu entre as principais lideranças da cidade. Há quase dois anos em silêncio e sem se pronunciar uma única vez após sua cassação em agosto de 2011, o pedetista, em entrevista exclusiva ao Correio, fez acusações contra o Ministério Público (MP), o governo do Estado de São Paulo e deu a entender que falará sobre relações “não republicanas” dos vereadores em questões urbanísticas.

Para parlamentares que estiveram à frente das denúncias e do processo que levaram à cassação, o ex-prefeito colocou uma “cortina de fumaça” nas irregularidades que envolveram a Sanasa. Alegam que a volta à cena neste momento não esclarece pontos nebulosos de sua gestão e esconde motivações político-eleitorais. A Promotoria optou por ignorar as acusações e o governo estadual informou que não se manifestará.

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Hélio voltou ao cenário público com um blog, no qual tem postado, desde ontem, vídeos e comentários sobre as principais denúncias contra a equipe que compunha seu governo.

O ex-comandante do Palácio dos Jequitibás, que chegou a obter 80% de aprovação de seu governo, disse agora que vai contribuir para as articulações eleitorais com foco em 2014 e que acredita nas políticas públicas implementadas pelo PT com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hélio é próximo a Lula, mas essa relação e a inserção do pedetista nas costuras eleitoras do Partido dos Trabalhadores é considerada uma estratégia de risco.

A principal crítica de Hélio foi sobre a abertura da investigação do Ministério Público, quando ocorreu a primeira operação que levou lobistas e empresários para a cadeia, em setembro de 2010. Para ele, houve interesse político na tentativa de interferir em seu trabalho na campanha de Dilma Rousseff.

O pedetista disse ter sido alvo de investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) no período em que mantinha foro privilegiado por ser prefeito. “Disseram que não me investigavam. Mas saiu uma página inteira no Estadão de uma escuta telefônica de uma conversa com a ministra Marta Suplicy (PT). Isso não é uma investigação? É piada”, disse o prefeito cassado.

O promotor do Gaeco responsável pelas investigações, Amauri Silveira Filho, contou que preferiu ignorar ontem as declarações. “Vi que tinha uma reportagem sobre o dr. Hélio, mas acabei não lendo. Pulei para a página de Esportes porque estava mais interessante. Pelo pouco que entendi, acho que dr. Hélio está tentando se dar uma importância maior do que teve ou tem nas investigações do Ministério Público”, afirmou.

Hélio é atualmente investigado pela Promotoria num processo que apura a prática de lavagem de dinheiro entre os denunciados pelo Caso Sanasa.

Cassação

Sobre seu processo de cassação, o ex-prefeito afirmou que não foi omisso em relação às denúncias de irregularidades na Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento SA (Sanasa), empresa pública e principal foco da investigação. Para ele, medidas adotadas no seu governo, como a substituição do presidente Luiz Augusto Castrillon de Aquino, desconstroem a tese do relatório da Comissão Processante (CP) do Legislativo que resultou na perda do seu mandato. O pedetista foi cassado por omissão e negligência.

Os dois principais condutores do processo de cassação de Hélio na Câmara, os vereadores Artur Orsi (PSDB) e Rafa Zimbaldi (PP), disseram que as alegações de Hélio não trouxeram esclarecimentos de pontos importantes que até hoje não foram debatidos pelo ex-prefeito.

Zimbaldi, na época presidente da comissão, disse que Hélio permanece defendendo os integrantes do seu governo em vez de apontar para o responsável pelas irregularidades. “Ele defende que ninguém tem culpa, todos os questionamentos que ele colocou não são verdadeiros, nós sempre dissemos que ele nunca teve envolvimento criminal. Sua responsabilidade era nas questões administrativas. Até hoje, ele protege seus ex-funcionários”, afirmou.

Sobre as pretensões eleitorais de Hélio, o pepista afirmou que o prefeito cassado é um cidadão que pode participar das articulações no momento em que achar oportuno. “Mas eu acho que a credibilidade é questionável”, disse Zimbaldi.

Deboche

Para os parlamentares, os argumentos apresentados por Hélio para justificar sua inocência, e até mesmo a ausência de esclarecimentos no momento da crise política, não foram suficientes para “clarear” pontos ainda nebulosos da gestão do PDT. O vereador Artur Orsi (PSDB), autor da denúncia contra Hélio na Câmara, disse ontem que as falas do ex-chefe do Executivo não passam de “firulas”.

Segundo o tucano, Hélio faltou com a verdade. “Ele deveria abrir o jogo, falar sobre o que aconteceu na casa de Aquino às vésperas da demissão dele. Tomara que fale tudo agora no blog. Se isso ocorrer, com certeza mais gente envolvida será punida. As declarações foram totalmente intempestivas e não entraram no cerne do problema, que é a corrupção”, afirmou Orsi.

O tucano afirmou que a entrevista é desconexa. “Ele atacou para se defender. Levantou uma cortina de fumaça nas questões da Sanasa, do envolvimento da sua mulher (Rosely Nassim Jorge Santos), não explicou as denúncias. Além de ser muito cara de pau, é um deboche com os campineiros.”

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