Promotor aponta que desde 2012 havia recomendação para retirada da árvore
No dia 24 de janeiro deste ano, um eucalipto caiu no Parque Taquaral, resultando na morte de Isabela Tibúrcio Firmino, uma criança de 7 anos; a Promotoria alega que a Prefeitura pode ter comprometido a integridade da cena ao remover parte da copa da árvore sem uma justificativa plausível, prejudicando as investigações sobre o caso (Alessandro Torres)
Em uma nova Ação Civil Pública (ACP) ajuizada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) contra a Prefeitura Municipal de Campinas, na quarta-feira (25), a promotoria afirma que a morte de Isabela Tibúrcio Firmino, uma criança de 7 anos, resultante da queda de um eucalipto no Parque Taquaral em 24 de janeiro deste ano, poderia ter sido evitada se a Administração municipal tivesse seguido um parecer técnico elaborado pela empresa PlantCare. Essa empresa foi contratada pela própria Prefeitura e, desde 2012, alertava que a árvore representava alto risco de acidente. Apesar desses avisos, a Prefeitura persiste na negação, mantendo a versão de que a árvore estava saudável.
Na ACP, o promotor responsável pelo caso, José Fernando Vidal de Souza, sustenta que as características identificadas em 2012 já justificavam a supressão preventiva do eucalipto, com o intuito de prevenir um tombamento imprevisível que poderia causar acidentes. "O tombamento e o acidente poderiam ter sido evitados, se PMC (Prefeitura Municipal de Campinas) tivesse avaliado o Talhão de eucalipto, em momento oportuno e tomado as medidas adequadas. A PMC teve praticamente uma década para realizar as avaliações e supressões necessárias, no entanto não tomou as medidas necessárias, mesmo alertada e informada do estado decadente do Talhão de eucalipto e do risco de acidente, em estudo por ela mesmo contratado", diz trecho.
O suporte a essa argumentação é reforçado por imagens disponíveis no Google Street View do ano de 2012, que evidenciam o declínio vegetativo na área circundante, o tombamento de outras árvores no entorno, a inclinação natural na direção da via principal de acesso ao público e a presença de uma zona de risco ocupada por mesas, bancos, edificações e um elevado fluxo de pessoas.
A promotoria também imputa à Prefeitura a alteração da cena do acidente. Conforme expresso no texto da Ação Civil Pública (ACP), funcionários teriam removido parte da copa do eucalipto tombado sem justificativa plausível, considerando que o parque estava fechado e sem acesso ao público.
"Dessa forma as análises realizadas pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e IB (Instituto Biológico), após o acidente foram parciais e avaliaram apenas parte do tronco e do sistema radicular, ficando prejudicada as análises realizadas, devido a retirada da copa do indivíduo (árvore) (...) (e) fez com que informações essenciais não pudessem ser colhidas para análises, dificultando a investigação", diz trecho.
Na formulação da ACP, o promotor afirma ainda que, até o momento, a Prefeitura "não aparenta dar as devidas atenções ao caso, mesmo tendo ocorrido o óbito de uma criança, em decorrência do tombamento de uma árvore, que se fosse monitorada já teria sido removida antes de ter causado o acidente".
Em relação ao Talhão de eucalipto, a ACP destaca que a Prefeitura não prestou esclarecimentos sobre os pontos questionados e não forneceu informações adicionais sobre o protocolo de fechamento e reabertura dos parques. "Apenas a precipitação acumulada de 80 mm não é suficiente para garantir a segurança dos usuários", afirma o documento. Atualmente, a ocorrência de 80 milímetros de chuva em um período de 72 horas resulta no fechamento de todos os parques municipais.
Segundo o MPSP, é imperativo que o município adote medidas destinadas a preservar a integridade física dos usuários do parque, considerando os diferentes setores presentes no local, como os culturais, ambientais e de eventos, abrangendo o Complexo Taquaral como um todo.
Além disso, entre os pleitos apresentados ao Judiciário, destaca-se a solicitação para a elaboração de um inventário detalhado das árvores no espaço e a imposição de uma indenização no valor de R$ 2 milhões por danos morais coletivos relacionados aos riscos constantes à saúde, à vida e à integridade física da população de Campinas, em decorrência do não cumprimento das normas adequadas de manejo da arborização urbana no município.
OUTRA ACP
No dia 11 de outubro, o MPSP ingressou com outra Ação Civil Pública contra o município, devido à prática de poda drástica e à ausência de manejo adequado das árvores na área do parque Bosque dos Jequitibás.
No local, Guilherme da Silva de Oliveira Santos morreu após ter o veículo atingido pela queda de uma figueira em dezembro de 2022. Na ocasião, segundo relatos dos bombeiros, o acidente ocorreu por volta das 8h30, quando a árvore do Bosque dos Jequitibás caiu na Rua General Marcondes Salgado, atingindo também duas residências, um poste e outros quatro veículos.
Nesta ACP, a Promotoria busca a condenação do município e propõe a criação de um Plano Diretor específico para o parque. Ela também solicita a realização do replantio de espécies removidas, a execução de um estudo abrangente no sistema viário circunvizinho ao Bosque dos Jequitibás, para evitar a circulação de veículos pesados capazes de contribuir para a desestabilização do solo, e que o Poder Público local pague R$ 1 milhão a título de danos morais coletivos.
PREFEITURA RESPONDE
O secretário de Serviços Públicos de Campinas, Ernesto Dimas Paulella, não concedeu entrevista. Em nota, a Prefeitura informou que o manejo das árvores da Lagoa do Taquaral foi feito "a partir de laudos técnicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e do Instituto Biológico (IB), que sugeriram a retirada de todos os eucaliptos do espaço".
Além disso, ela informa que "esses institutos atestaram que a árvore que caiu na Lagoa do Taquaral estava sadia".
"Ela não apresentava qualquer comprometimento, como doenças ou pragas, que pudessem causar a queda. Como comprovação, a Administração Municipal possui os laudos, que demonstraram tratar-se de um acidente provocado pelo excesso de chuvas e ventos".
Sobre o inventário das árvores da Lagoa do Taquaral, a nota afirmou que já foi concluído. Ela afirma que árvores exóticas foram substituídas por mudas de espécies nativas e que cerca de 43 mil árvores já foram inventariadas nos bairros Chapadão, Taquaral, Chácaras Primavera, Bonfim e região. O inventário das árvores em outras regiões da cidade continua em andamento.
"A Administração está à disposição do Ministério Público e da Justiça, confiante de que sua defesa vai atestar a lisura da Prefeitura no caso", conclui.
Sobre o Bosque do Jequitibás, a Prefeitura já havia respondido que a Figueira que tombou em 28 de dezembro de 2022 encontrava-se em estado saudável" e sem doenças, tendo caído devido às condições climáticas atípicas, conforme laudos do IPT, IB e Instituto Agronômico de Campinas.
Em relação ao manejo, a Prefeitura disse, na época, que o Bosque dos Jequitibás é um remanescente da Mata Atlântica Nativa, e a supressão de árvores ocorre apenas quando estritamente necessário, embasada em laudos técnicos.
Quanto ao replantio de árvores, a Prefeitura mencionou que somente em 2023 "foram plantadas 800 árvores no Bosque dos Jequitibás, para compensar as espécies retiradas e recompor a flora do parque".
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