Para analistas, home office deve se firmar no pós-covid

Com o surgimento da pandemia da covid-19, decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no início do ano passado, milhões de pessoas se viram obrigadas a trabalhar em casa para cumprir as regras de isolamento social, única forma conhecida até hoje para evitar a contaminação pelo vírus. Assim, o home office, uma modalidade de trabalho prevista para solidificar-se no futuro, foi adiantada por força da crise sanitária inesperada.

O químico Fábio Roberto Zambello não gosta de trabalhar em casa

De acordo com especialistas, o trabalho em casa, ou pelo menos o modelo híbrido que mistura o novo modelo com o antigo, veio para ficar. Esse é mais um desafio para aqueles que não gostam ou que estão com dificuldades de se adaptar às novas diretrizes laborais. A boa notícia é que parte desse efeito negativo, sentido por alguns profissionais, pode ser porque estamos em home office durante uma pandemia, em condições compulsórias e muito difíceis, com crianças em casa full time, isolamento social, restrições de mobilidade e sobrecarga de tarefas domésticas.

Essa é a percepção de alguns especialistas que estudam e acompanham as transformações em curso no mundo do trabalho. É o caso da pedagoga pela Unicamp e doutora em psicologia pela PUC-Campinas, Rita Pimenta Devotto, professora de Administração da Facamp.

Ela prevê que após a pandemia, os benefícios do trabalho remoto e do home office serão percebidos de forma mais positiva pelos trabalhadores. E vai além: "acredito que qualquer empresa que tentar forçar o retorno ao escritório em tempo integral enfrentará um dilema: muitos profissionais experimentaram os ganhos positivos do trabalho remoto e home office".

Para Devotto, a pandemia rompeu barreiras culturais e tecnológicas que impediam o trabalho remoto. Mas na sua avaliação, esse movimento será mais acentuado em alguns segmentos do que em outros. "Está em curso uma mudança estrutural no local de trabalho, mas o potencial futuro do trabalho remoto está concentrado entre trabalhadores altamente qualificados", acrescenta a especialista.

Trabalho híbrido

De acordo com a docente, as pesquisas com funcionários em trabalho remoto apontam que, quando a pandemia passar, a maioria vai querer escolher onde trabalhar, com muitos preferindo uma combinação flexível de escritório e casa, o chamado trabalho híbrido.

Por outro lado, à medida que a pandemia avança, as preocupações com a saúde mental dos colaboradores passam a ser uma das principais razões para retornar ao escritório. "Isso ocorre porque alguns colaboradores se sentem cansados e desconectados, sentem falta de trabalhar presencialmente e podem ter mais dificuldade em colaborar em ambientes remotos", ensina a docente.

É o caso, por exemplo, do químico Fábio Roberto Zambello, que trabalha no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), onde fica o novo acelerador de partículas brasileiro, o Sirius. Zambello trabalha com a segurança do laboratório, e, devido à função que exerce, à geração da qual pertence e ao seu temperamento, não gosta de trabalhar em casa.

"Eu gosto de presencial. Meu trabalho é rodar, é ver as coisas acontecer, ver se vai ter algum problema, como fazer auditoria interna para ver se os produtos químicos estão sendo guardados corretamente. Produto não pode vencer no laboratório porque vira explosivo, e isso não dá para controlar de casa", explica.

Enquanto isso, outros profissionais se adaptaram ao trabalho em casa. É o caso da gerente de contas Yriana Borgonov. Moradora de Paulínia, ela tem três filhos e antes da pandemia viajava a São Paulo todos os dias para trabalhar. Com a pandemia, entrou em home office. "No começo foi difícil. Mas, já estou 100% adaptada. Não preciso sair de casa e consigo conciliar melhor a minha vida profissional com a pessoal". Ela conta que a empresa oferece todo o suporte para que seus funcionários possam trabalhar em casa. A estrutura oferecida contempla subsídio para a montagem de um escritório equipado com cadeiras, headsets, mouses, mesas e o que mais for necessário para o desempenho das tarefas. "Eu amo home office", afirma a gerente.

Guias abordam bem-estar no trabalho em casa

Uma força tarefa chamada PsiCOVIDa foi criada no ano passado para contribuir com o bem-estar durante a pandemia, por meio de conhecimento científico. Pesquisadores membros criaram cartilhas, guias e vídeos gratuitos com linguagem acessível a diversos públicos. A professora da Facamp integrou duas equipes de pesquisadores e produziu dois guias destinados a trabalhadores e a gestores. Um deles aborda a questão do bem estar no trabalho em tempos de pandemia para profissionais em home office. O outro trata do redesenho do trabalho em tempos de pandemia, dirigido a trabalhadores e gestores.

"Esses guias foram elaborados com base em evidências científicas e visam contribuir para o entendimento dos processos de adoecimento e bem estar no trabalho, bem como sugerir estratégias para se manter ativo e produtivona pandemia", afirma. Os links para baixar os guias estão abaixo.

-  Guia de bem estar no trabalho em rempos de pandemia para profissionais em home office: https://www.pucrs.br/coronavirus-provz/wp-content/uploads/sites/270/2020/06/2020_06_02-coronavirus-cartilhas-psicovida-bem-estar_no_trabalho_em_tempos_de_pandemia.pdf 

-  Guia para trabalhadores e gestores sobre o redesenho do trabalho em tempos de pandemia: https://www.pucrs.br/wp-content/uploads/2020/05/Cartilha_Redesenho_do_Trabalho_Final.pdf 

- Ambos estão disponíveis também no site da PsiCOVIDa: https://linktr.ee/ftpsicovida 

“Esses guias foram elaborados com base em evide?ncias cienti?ficas e visam contribuir para o entendimento dos processos de adoecimento e bem estar no trabalho, bem como sugerir estrate?gias para que os profissionais em home office possam se manter ativos, produtivos e sauda?veis durante a pandemia de covid-19”, afirma a professora.