Comandante diz que, se for acionada, polícia vai trabalhar no campus como no resto da cidade
Estudante carrega faixa contra a PM durante ato na reitoria: polícia garante que atuação não seria repressiva ( Carlos Sousa Ramos/AAN)
A Polícia Militar (PM) enxerga o campus da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) como mais um bairro a ser patrulhado na cidade. Se um convênio entre a universidade e a corporação fosse consolidado hoje, aconteceriam rondas de rotina com viaturas durante o dia e a noite, assim como ocorrem em qualquer região do município. O formato de vigilância seguiria também os mesmos moldes do que é utilizado na Universidade de São Paulo (USP) com PMs circulando pelo campus.A afirmação é do coronel e comandante da PM na região de Campinas, Carlos de Carvalho Junior. Ele reiterou que a presença da corporação no local só ocorrerá mediante um convênio — fora isso, os policiais só entram na área quando solicitados, e a maioria dos chamados ocorre somente em situações de emergência.Para ele a reação dos estudantes desfavorável à PM é equivocada. Ele afirma que o trabalho no local não teria caráter opressor, mas que atos ilícitos não seriam tolerados. “Se uma viatura se depara com uma situação de drogas, arma ou veículo suspeito, não tem como fingir que não está vendo. É contra a atuação da PM. Não existe. É nosso papel cumprir a lei. E sem excessos. Abordagem normal, como em qualquer outra parte da cidade”, disse.Ele acredita que a manifestação dos universitários é exagerada. “A PM cumpre a lei. Não pode ser permissiva e fazer nada com algo que está errado. A lei se aplica em todo território nacional. Mas nossa atuação (na Unicamp) seria em casos de crimes. Se na universidade estivesse ocorrendo qualquer tipo de manifestação, um protesto, por exemplo, não é nosso papel impedir. Atuamos quando há algum problema como briga ou tumulto. A vida na comunidade universitária não teria qualquer alteração”, afirmou.A sinalização positiva da reitoria da Unicamp em aceitar a presença da PM no campus gerou uma crise de grandes proporções com os estudantes da universidade que são contrários a essa atuação. Há dez dias eles invadiram e ocuparam o prédio da reitoria. A reintegração de posse do edifício de dois andares foi expedida no dia seguinte à invasão. No documento a ordem era para tentar uma conciliação e reintegração de posse de forma pacífica. A universidade tenta esse desfecho desde a semana passada. Amanhã uma nova assembleia dos estudantes deve definir a desocupação do prédio. Na última sexta-feira eles se reuniram com representantes da reitoria para negociar suas reivindicações, entre elas o compromisso da universidade em não permitir que a PM atue no campus. A Unicamp não deve formalizar o convênio com a PM. O anúncio da decisão deve ser feito nos próximos dias. Documento “Quanto à reintegração de posse, estamos esperando uma decisão do reitor. Ele é quem dará o aval para o uso da força policial no caso. Mas acredito que isso não será necessário, já que a liminar de reintegração pede para tentar uma conciliação, sem uso de forças policiais. Para isso, não há um prazo estipulado. Pode levar um mês ou mais”, disse Carlos de Carvalho Junior. O comandante revelou que espera a saída pacífica dos invasores. “Estamos de prontidão para qualquer decisão. Mas nós também esperamos uma saída pacífica, sem problemas. Usar a força policial nessa situação é desgastante, já que os estudantes vão querer resistir”, disse. Quanto ao convênio ele afirmou que não há qualquer negociação. “Hoje não há negociação nenhuma entre polícia e reitoria. Iremos continuar com nosso patrulhamento que ocorre no Distrito de Barão Geraldo, na Cidade Universitária. Quando uma emergência ocorrer e nos acionarem entraremos imediatamente no campus para atender a solicitação”, afirmou o comandante. A presença da PM no campus da Unicamp já foi motivo de polêmica e protesto da comunidade acadêmica em anos anteriores. Em 2010, quando as festas no interior da universidade foram proibidas e a polícia passou a fazer rondas no local para evitar que elas acontecessem, os estudantes se mobilizaram contra a ação e protestaram até que a circulação dos policiais no local fosse interrompida. Agora, com a nova ameaça, os estudantes voltaram a se mobilizar contra a ação. A presença da PM na USP, em São Paulo, também foi combatida pelos estudantes da universidade, mas mesmo sob protestos a polícia passou a patrulhar o campus em setembro de 2011. A ação aconteceu depois de um aluno ter sido morto no estacionamento da faculdade. No mês seguinte da entrada da PM no campus, três alunos foram presos após serem flagrados fumando maconha. Alunos tentaram impedir que policiais levassem os detidos da universidade para a delegacia entrando na frente da viatura com livros. Mas não adiantou, e eles foram autuados por porte de entorpecente. 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