campinas, 246 anos

Pânico com a gripe espanhola

1918, quase 30 anos após a 1ª epidemia, Campinas tem novo susto

Francisco Lima Neto
14/07/2020 às 11:21.
Atualizado em 28/03/2022 às 21:33
Enfermaria improvisada em clube paulista: depois do trauma com a febre amarela, Campinas enfrenta novo surto, desta vez da gripe espanhola (Reprodução)

Enfermaria improvisada em clube paulista: depois do trauma com a febre amarela, Campinas enfrenta novo surto, desta vez da gripe espanhola (Reprodução)

Vinte nove anos após a primeira epidemia de febre amarela em Campinas, a cidade voltou a sofrer com outro grande surto, em 1918. Naquele ano foi a vez da gripe espanhola apavorar os campineiros. No final da segunda década do século 20, Campinas era uma cidade moderna e uma das mais bem-sucedidas economicamente no estado e no País. Na memória dos cerca de 74 mil habitantes ainda estavam vivas as lembranças terríveis das duas últimas décadas do século anterior, em que sucessivas epidemias de febre amarela quase acabaram com a cidade. Não à toa, várias vias do Município receberam o nome de médicos e outros que atuaram naqueles anos para salvar o maior número de vidas possível. No ano de 1918 ainda estava acontecendo a 1ª Guerra Mundial, o que por si só causou a escassez de muitos produtos importados normalmente consumidos em Campinas. Depois os produtos nacionais também passaram a faltar. Várias notícias davam conta de que a gripe espanhola podia chegar ao Brasil. Até que ela chegou e se espalhou pelo Rio de Janeiro de forma avassaladora. Depois de muitas discussões, os médicos definiram a doença como uma gripe muito agressiva e letal, se não tratada de forma urgente. Não havia remédio específico para aquele novo mal. Mais uma vez o pânico se instalou e os boatos pipocavam em todo canto. Os jornais atuavam de todas as formas possíveis para combater as histórias infundadas e para manter o moral elevado. Cortiços Naquele mês de outubro de 1918, apesar de a cidade ter evoluído muito na questão sanitária em relação à época da febre amarela, faltava água corrente em diversos bairros, a cidade ainda tinha muitos cortiços, com situação higiênica difícil. A doença se espalhava mais facilmente com as aglomerações e falta de higiene. Logo, os pobres seriam os mais atingidos. No dia 24 de outubro, os primeiros casos da doença foram reportados à Delegacia de Saúde de Campinas. Houve grande união de todas as partes para impedir que a doença se espalhasse. A Santa Casa de Misericórdia abriu 60 leitos em duas salas para tratar dos indigentes e outras instituições se mobilizaram para tratar os doentes. A propagação era lenta na cidade. O prefeito, Dr. Heitor Penteado, proibiu aglomerações, encontros, reuniões, cancelou as aulas, fechou clubes e outros locais de lazer. Alguns atentavam contra as medidas, continuavam a frequentar o bosque, outros visitavam os adoentados, mesmo com os apelos contrários das autoridades. O isolamento era a melhor maneira de enfrentar a doença. Alguns estabelecimentos aproveitaram a situação para subir os preços de forma absurda. Para coibir a prática, a Administração comercializou ovos e frangos no Mercado Municipal, além de manter constante fiscalização pela cidade. A limpeza pública foi reforçada. Entre os meses de outubro de dezembro daquele ano, quase 7 mil moradores já tinham ficado doentes, pouco mais de 200 morreram. A doença invadiu o ano seguinte fazendo vítimas, mas nada comparado aos tempos da febre amarela.

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