Eufemizar a dor e minimizar a morte foram comportamentos que se juntaram a esse olhar simplista, hoje, atenuado, mas não reconsiderado
O avanço da pandemia do coronavírus pelo mundo, com suas implicações devastadoras na vida humana, nas relações sociais, no cotidiano, no trabalho e na economia, detonou uma outra crise global. Trata-se da disputa política e da guerra de informações que sucederam-se à Covid-19, gerando intrigas, manifestações oportunistas e uma improdutiva batalha de achismos, além de embates entre líderes de organizações e chefes de Estado. Esse roteiro segue causando divergências e gerando faíscas, pois em seu alicerce estão não só as personalidades intempestivas, mas também crenças, posições políticas e ideologismo exacerbado, como se fosse possível politizar um drama desse tamanho. Mas, na realidade, é o que está acontecendo. De outro modo, a pandemia tem alimentado um debate sobre o papel dos meios de comunicação de massa. Com a devida lupa, o público vigia os enfoques da cobertura jornalística, não só o conteúdo editorial, mas também as opiniões manifestadas por articulistas e colaboradores. Esse conjunto forma um sólido e vasto painel multifacetário, o sentido da própria pluralidade que se deve buscar num serviço que lida com o público. Neste contexto, decorrente do próprio debate incendiário entre visões antagônicas do espectro político-ideológico, um questionamento tem ganhado corpo: a imprensa, de forma geral, tem sido alarmista ou tem cumprido seu papel, noticiando a realidade? Guardadas as proporções da amostragem e considerando a grandiosidade do tema, a imprensa tem sim se esforçado para tentar oferecer ao leitor informações confiáveis e com embasamento científico capazes de ajudar no enfrentamento da doença. Praticamente 100% das equipes de jornalismo da maioria dos veículos em todo o mundo estão mobilizadas, em tempo real, incluindo o Correio Popular, na cobertura, na análise e na repercussão da pandemia. Não há na história contemporânea, excetuando-se a Segunda Grande Guerra, com um outro perfil de imprensa, uma força-tarefa tão robusta como essa. Falhas, obviamente, existem. E a própria sociedade, com o apoio dos especialistas, tem sido esse fiscal diário. O que incendiou essa visão de cobertura alarmista, de forma indevida, foi a tentativa de parte da opinião pública, influenciada por lideranças políticas, de considerar a Covid-19 uma doença com grau baixo de letalidade, ignorando as evidências que saltavam aos olhos do mundo. Eufemizar a dor e minimizar a morte foram comportamentos que se juntaram a esse olhar simplista, hoje, atenuado mas não totalmente reconsiderado. A realidade se impõe e o jornalismo profissional serve como parâmetro.