memória

Palácio dos Jequitibás faz 50 anos

Os detalhes arquitetônicos, a estrutura impecável e a tecnologia de ponta eram referência. As janelas tinham brises ? inovação para a época

Rogério Verzignasse
04/11/2018 às 08:58.
Atualizado em 05/04/2022 às 22:28

No finalzinho de outubro de 1968 — há 50 anos — o Correio Popular publicava a fotografia do radiante prefeito Ruy Hellmeister Novaes, rodeado de assessores engravatados na inauguração do Palácio dos Jequitibás. Sobravam razões para entusiasmo. Aquele edifício que brotava do chão foi pensado para ser um ícone de modernidade e eficiência. Os detalhes arquitetônicos, a estrutura impecável e a tecnologia de ponta eram referência. As janelas tinham brises — inovação para a época —, dispositivos que até hoje servem para o controle da luminosidade nas janelas. Os pisos, pilares e paredes eram revestidos com o imponente mármore branco, que formava uma composição charmosa com taco, em cada departamento. Luminosidade e temperatura ambiente foram planejadas. Há cinco décadas, o prédio já se destacava pelos vãos livres e o número reduzido de paredes de alvenaria. Havia flexibilidade espacial, e um cuidado enorme na harmonia paisagística com o verde no entorno. O projeto vencedor foi escolhido por meio de concurso público lançado em 1957, e tinha como autores os arquitetos Rubens Gouveia Carneiro Viana e Ricardo Sievers. A imponência do prédio impressionou até profissionais experientes do ramo. Leôncio Menezes, por exemplo, hoje com seus respeitáveis 90 anos de idade — e ainda integrante do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU) — foi naquela década engenheiro contratado pela Prefeitura e, por algum tempo, ocupou a Secretaria Municipal de Obras. “Sem dúvida alguma, o edifício representou um marco no ambiente construtivo da cidade. Estrutura sólida, acabamentos funcionais. Era o que havia de melhor no mercado da construção”, diz. “Ainda hoje, o prédio é moderno. O conjunto de elevadores é impecável, tem excelente desempenho, como em poucos prédios da cidade.” Visionário? Os historiadores e antigos secretários de Ruy Novaes contam que a construção do prédio era mais uma etapa do projeto político desenvolvimentista que, desde o primeiro mandato do prefeito (1956-1959), alargava avenidas e levava infraestrutura urbana par os bairros. No primeiro mandato, aliás, ele lançou o concurso públicos do projeto arquitetônico do novo Paço. O próprio Ruy — com atuação no setor imobiliário — assumira a incorporação do Edifício Itatiaia, projetado por Oscar Niemeyer, joia arquitetônica diante da Praça Carlos Gomes. Perdulário? Mas, claro, o afã progressista teve um preço alto. Depois de apoiar a tomada do poder pelos militares, Ruy Novaes assumiu para seu segundo mandato como prefeito (1964-1969), e se meteu logo de cara em uma polêmica imensa. Amparado com relatórios técnicos do próprio governo municipal, ele determinou a demolição do Teatro Municipal. Por gerações, ele recebeu críticas severas da classe artística, inconformada com a decisão. Mesmo assim, ele não se abateu e já pensava na transferência do Paço para um edifício moderno. Para tanto, ele negociou a ocupação de parte do terreno da Santa Casa por meio de um contrato inicial de permuta, e comandou os investimentos milionários na execução da obra. Mas, naturalmente, ele continuava sendo alvo dos olhares céticos da oposição. E até de quem não tinha vínculo partidário algum. Como o experiente jornalista Moacyr Castro — que fez carreira no jornal O Estado de S.Paulo e foi colaborador do Correio por muitos anos. Ele, testemunha ocular do fato, conta que as lideranças militares do regime estiveram presentes na cerimônia de entrega do prédio e fizeram críticas severas ao prefeito que, na visão deles, investiu uma fábula para construir um prédio daquele porte, ao mesmo tempo que havia núcleos miseráveis nas grandes cidades. Os críticos de Ruy não perdoavam o prefeito por seu comportamento perdulário. Governo prevê reformas de R$ 5,8 milhões O governo municipal dá a largada, nas próximas semanas, em um projeto que prevê investimentos de R$ 5,8 milhões na reforma de toda a estrutura hidrossanitária do Palácio dos Jequtibás. Ao longo de 40 meses, serão reformados 120 banheiros, e mais copas e dependências anexas. Além da substituição dos antigos canos de ferro, será feita a troca do conjunto de torneiras, registros e válvulas. De acordo com a arquiteta Adriana Barbosa Rangel, diretora do Departamento de Gestão Predial, as intervenções no edifício são feitas de maneira ininterrupta, com orçamento definido a cada serviço. Há 20 anos, lembra, aconteceram as intervenções na rede elétrica. O sistema de segurança contra incêndio também foi adequado. “Nossa preocupação é garantir uma estrutura funcional, sem deixar de respeitar a concepção arquitetônica do edifício”, afirma. SAIBA MAIS Antes de se mudar para o Palácio dos Jequitibás, a Prefeitura funcionava no Palácio dos Azulejos, prédio histórico e tombado como patrimônio arquitetônico de Campinas. Atualmente, o imóvel abriga o Museu da Imagem e do Som (MIS). O prédio foi a sede do governo municipal entre 1908 e 1968. Inaugurado oficialmente em 1968, o Palácio dos Jequitibás teve sua construção iniciada em 1966. No começo, havia apenas o pavimento térreo. A torre com os pavimentos superiores foi finalizada em 1972. O nome era decorrência dos inúmeros jequitibás-rosa da gleba. Desde sua inauguração até o ano de 2005, prédio abrigou também a Câmara.

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