SANTA BÁRBARA

'Pajé' transforma sítio em farmácia natural

Ele mesmo preparou um óleo natural para massagem feito com a erva baleeira, e se livrou das dores da coluna que o torturavam

Rogério Verzignasse
rogerio@rac.com.br
19/04/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 16:19

Objetos artesanais mantidos no sítio servem não só como decoração, mas também lembram a cultura indígena herdada pelo proprietário ( Carlos Sousa Ramos/ AAN)

Rosivaldo Pereira dos Santos, de 54 anos, é conhecido por todo mundo que mora ali pelo Cruzeiro do Sul, bairro rural de Santa Bárbara d'Oeste. O homem, que se aposentou depois de trabalhar três décadas na indústria, gastou o que tinha para comprar 6,6 alqueires de terra. E passa o tempo cultivando o chão. Índio, como é chamado, é descendente de caetés. Ele decidiu usar todo o conhecimento que herdou da família para transformar o Sítio Nossa Senhora Aparecida em uma gleba tomada por ervas medicinais, culinárias e aromáticas. Orgulhoso, ele se apresenta como pajé. E fala das propriedades de cada planta com desenvoltura, como se tivesse formação em botânica. Índio moderno, aliás. Se veste com calça jeans, usa celular, tem Facebook. Passa todo o tempo que tem livre navegando na internet, coletando informações e pesquisas sobre a fitoterapia. Só os objetos decorativos em forma de lança no rancho lembram do passado do clã. Ah, sim. Ele tem quatro colares feitos com bolinhas (as contas de quem reza o terço), com pequenos crucifixos de madeira nas pontas. Meio curandeiro e meio católico, Índio recita versículos bíblicos e celebra a espiritualidade. Os ancestrais moravam um uma aldeia na Bahia. Sua mãe, Odete, despertou a paixão de Marinho, negociante de pele clara e sangue europeu, dono de uma casa de farinha na cidade. É, uma história de amor que só podia acontecer no Brasil: mistura de raças, culturas, crenças, valores. Rosivaldo nasceu na pequena Caculé, as 782 quilômetros de Salvador. Menino ainda, trabalhou na roça. Moço, se mudou para Americana e arrumou emprego em uma fábrica. Foram 30 anos de labuta. E a aposentadoria foi antecipada pelas hérnias de disco que o atormentavam. Foi aí que o homem, depois de aposentado, resolveu mudar de vida. Cercou a gleba e se meteu as cultivar tudo quanto era erva medicinal. Ele mesmo preparou um óleo natural para massagem feito com a erva baleeira, e se livrou das dores da coluna que o torturavam. Ah, um detalhe. O arvoredo, os canteiros e trilha viraram um tipo de ponto turístico. Pesquisadores, estudantes, grupos da terceira idade, curiosos de monte passam por lá. No sítio, passa gente que procura boldo para tratar o fígado, graviola para emagrecer, guaçatonga para diminuir o colesterol, arnica para cicatrizar ferimentos. E Índio vai relacionando o nome das ervas que tratam depressão, artrose, reumatismo, problemas circulatórios. Uma a uma, fala a que tem propriedade anti-inflamatória, analgésica, antibiótica, estimulante. A propriedade, diga-se de passagem, já serviu para estudos de campo de técnicos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e da própria Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), importantes centros de pesquisa com departamentos voltados à fitoterapia. O homem podia, sim, ganhar muito dinheiro como fornecedor de farmácias de manipulação. Mas ele entrega de graça a muda ou a raiz para o cidadão que passa pelo sítio e não tem um tostão no bolso. “A natureza é presente de Deus. E nasce do chão o remédio para qualquer mal”, diz,.Ah, sim. O homem precisa sobreviver. Além da aposentadoria dos tempos de fábrica, ele conta com o dinheiro quer arrecada arrendando dois dos alqueires para o cultivo de cana-de-açúcar. Dá para viver sem luxo, no rancho onde ele mora com a mulher Erivalda, a sogra, duas filhas e uma netinha.É um lugar com bancos pesados de madeira na varanda, redes penduradas, mobília rústica. A paisagem ao redor é de impressionar: córrego limpinho, lago com parapintangas e tambaquis, árvores tomadas por esquilos. Ah, cobra não tem. O pau-d'alho e o capim-gordura as espantam para longe. E, se os pernilongos e mosquitos do matagal estiverem incomodando, basta arranca do chão umas folhas de “hortelã do Brasil” (que não tem nada a ver com a hortelã popular). A erva tirada do pé serve como repelente natural quando esfregada na pele. “Ah, eu acredito no que herdei dos meus ancestrais. A mata nos dá tudo para termos uma vida saudável, equilibrada. As ervas precisam ser descobertas pelos mais jovens, A gente tem de resgatar o chá que a vovó fazia na roça, e curava de tudo”, fala.SAIBA MAIS As pessoas interessadas em fazer contato com Índio podem escrever para o endereço eletrônico rosivaldo.plantas@live.com ou telefonar para (19) 9-8767-3058. O Sítio Nossa Senhora Aparecida fica ao lado do posto ambiental da Guarda Municipal de Santa Bárbara, no Cruzeiro do Sul. O bairro rural se localiza às margens da estrada vicinal que liga a cidade ao distrito de Caiubi.

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