Iniciativa é da Secretaria de Estado da Educação e tem por objetivo proteger crianças e adolescentes de crimes virtuais
No encontro de ontem, pais e estudantes assistiram a palestras e a um episódio da série "Adolescência"; combate ao cyberbullying exige compromisso de todos (Rodrigo Zanotto)
Ao menos 100 pessoas participaram na manhã de ontem do Dia "C" da Convivência Escolar, na Escola Estadual Dona Veneranda Martins Siqueira, no Jardim Mercedes, no distrito do Ouro Verde, em Campinas. O evento, o primeiro de uma série proposta pela Secretaria Estadual de Educação, faz parte de uma mobilização estadual voltada aos pais e responsáveis por estudantes dos últimos anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. O objetivo é orientar e apoiar a família no combate aos crimes práticos na internet.
Em Campinas, 70 das 97 escolas da Diretoria de Ensino Oeste - que estão distribuídas nas regiões do Oziel, Campo Belo, Ouro Verde e Campo Grande - participaram da ação que aconteceu simultaneamente das 9h às 11h, com palestra, debates e exibição de um episódio da série da Netflix, "Adolescência". De acordo com a dirigente Patrícia Adolfo Lutz, as unidades de ensino que participaram da ação somam 50 mil estudantes, com idades entre 11 e 17 anos. "As escolas engajaram as comunidades, os pais, os responsáveis para discutir o uso racional das redes sociais. Estamos felizes com o retorno desta mobilização de trazer os pais para esse momento de conscientização e auxiliá-los nessa perspectiva de como ajudar os seus filhos a utilizarem as redes sociais de uma forma saudável racional e benéfica", comentou a dirigente.
A dona de casa Stefânia Lourdes da Costa Gasparini, de 45 anos, e a gerente de loja Patrícia Santiago Correia, 29 anos, têm filhos naquela escola. Elas fizeram questão de marcar presença no evento. Além da companhia dos dois filhos, Stefânia também estava com o marido.
As duas mães admitiriam que não monitoram as redes sociais dos filhos e também não tinham a dimensão dos riscos que as plataformas oferecem às crianças e adolescentes. "Meus filhos ficam o tempo todo no celular, jogando. Não vigio o que eles fazem, mas observo muito o comportamento deles. Mas, a partir de agora, vou passar a investigar. Foi muito importante participar deste evento", comentou Stefânia.
Ambas as mães disseram que ficaram chocadas com uma cena do episódio, em que mostra um adolescente de 13 anos esfaqueando uma colega da escola. O garoto da ficção, segundo elas, mostrava total frieza, inclusive no contato com os pais. "Vi que nós, pais, facilitamos um pouco, deixando os filhos no celular. Minha filha fica muito ao celular e esse evento nos mostrou a importância de estar ali, observando, acompanhando", falou Patrícia, mãe de Sandinara, de 13 anos, e de outra menina de 7 anos.
"Hoje em dia é muito difícil controlar os filhos no uso do celular porque a tecnologia está presente em tudo, é televisão, YouTube. Então tudo tem uma influência grande", acrescentou. Sandinara admite que passa horas em jogos, vídeos no TikTok e trocando mensagens com colegas no WhatsApp. Mas ela garante que a comunicação é saudável e nunca ousou fazer acessos inapropriados. "Nunca sofri preconceitos ou ouvi algo diferente. Quando há coisas que não gosto, passo para outro vídeo. Mas hoje vi que uso muito as redes sociais e que devo parar um pouco pra não chegar aos limites", comentou a adolescente.
Um dos temas de reflexão durante o encontro foi o Cyberbullying, que ocorre no ambiente online, através das redes sociais, aplicativos de mensagem, jogos, e celulares para intimidar, assustar ou humilhar uma pessoa. O crime pode ser praticado por colegas de escolas, "amigos" virtuais e até criminosos e são caracterizados pela repetição de comportamentos agressivos e pela possibilidade de o assédio se espalhar rapidamente. O autor geralmente intimida a vítima, ameaçando divulgar conteúdos na rede.
A série "Adolescência", lançada pela Netflix, explora o impacto das redes sociais e do ambiente on-line na vida de adolescentes. A trama se baseia em um crime escolar e busca analisar como comunidades extremistas conseguem ludibriar jovens, levando-os a atos de violência. A série também aborda a importância do diálogo entre pais e filhos para prevenir situações de risco. "Hoje é um dia muito especial. Estamos aqui acolhendo e abraçando a comunidade para debatermos um tema de extrema relevância, o impacto do uso das redes sociais pelos nossos estudantes, de forma consciente e muitas vezes não consciente. Queremos pensar em possibilidades de identificar e fazer com que eles saiam desse papel de vítimas e de sofrimento e passem a ter condições socioemocionais para superar esses sofrimentos e melhorar essas características para que eles se sintam mais seguros e protegidos", comentou a diretora da Escola estadual Dona Veneranda Martins Siqueira, Edmárcia Teixeira.
No Estado existem 4.266 escolas estaduais que atendem estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e das três séries do Ensino Médio. De acordo com a coordenadora do Programa de Convivência de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva), Daniele Quirino, o Dia "C" Convivência Escolar teve início na semana passada, em outra cidade do interior e deve acontecer a toda a rede. O objetivo é atingir ao menos 1 milhão de pessoas até o final da primeira quinzena de junho. "Escolhemos Campinas porque conheço o trabalho que é realizado aqui, pela Diretoria de Ensino. Sabemos das mudanças que vêm acontecendo aqui e decidi ver de perto o que tem motivado esses jovens", disse Daniela.
A coordenadora do Conviva admite que a Secretaria Estadual de Educação registrada casos de cyberbullying, porém ela defende que os números são baixos se considerar o tamanho da rede, que é a maior das Américas. "Passamos em números de Nova York, por exemplo. Então, considerando o tamanho da rede, o problema não é tão grave proporcionalmente falando, mas uma vida é mais importante. Então, não importa se estão acontecendo dez mil casos, por exemplo, para nos mobilizarmos. Aconteceu um, a gente tem que parar todo mundo e falar sobre isso para que não aconteça o segundo. O trabalho de prevenção ao cyberbullying já vem acontecendo de forma sistematizada na rede, apenas com os estudantes. Esta é a primeira vez que a gente chama os pais para essa conversa", explicou.
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