Estabelecimentos comerciais e de serviços oferecem redução de 5% a 30% sobre os preços praticados para quem fizer a quitação por esse meio eletrônico
Os postos de combustíveis de Campinas estão entre os estabelecimentos que oferecem descontos para o pagamento feito via PIX: estratégia é aprovada pelos consumidores (Rodrigo Zanotto)
O comércio de Campinas moderniza o desconto à vista e passa a oferecer a vantagem também para o Pix para reduzir os custos de operação, aumentar o capital de giro e fugir dos altos juros. Para atrair os consumidores, são oferecidas reduções de 5% a 30% nos preços, dependendo do segmento. O procedimento tem sido adotado, entre outros estabelecimentos, por postos de combustíveis e lojas.
Um posto no Jardim Guanabara concede desconto de 5,75% para o abastecimento com gasolina comum pago em dinheiro ou com Pix. Com isso, o litro do combustível cai de R$ 5,39 para R$ 5,08. No caso do etanol comum, a redução faz com que o preço passe de R$ 3,79 para R$ 3,60. O benefício é anunciado em uma placa colocada ao lado de um painel com os valores cheios para chamar a atenção dos consumidores.
"Qualquer desconto sempre ajuda e é bem-vindo", considerou o motorista de táxi Arlindo Messias de Oliveira. A economia para encher o tanque do carro com gasolina chega a R$ 13,95. O desconto oferecido é até superior às taxas de operação praticadas pelas operadoras de máquinas de cartões, que cobram a partir de 1,39% sobre o valor pago para os débitos automáticos, mas que pode chegar a 4,74% para crédito à vista. "É uma forma de aumentar o fluxo de caixa e também de buscar cativar o cliente", explica o gerente do posto de combustíveis, César Eduardo Perez.
Comércio
Uma farmácia de manipulação dá desconto para pagamento à vista e outro para o Pix, com o acumulado médio ficando entre 5% e 7%, dependendo do produto. "O sistema de transferência é seguro, o dinheiro cai na conta na hora e posso conseguir desconto para pagamento à vista ao comprar a matéria-prima. Divido essa vantagem com o consumidor", explica a gerente Lorena Mello. De acordo com ela, esse modo de pagamento eletrônico já representa 30% das vendas da farmácia.
A estratégia para estimular o uso do Pix também é usada por grandes redes de lojas, principalmente para as compras on-line. Uma empresa, que tem 26 filiais físicas na Região Metropolitana de Campinas (RMC), oferece desconto de 10% a 30%, mas para determinados produtos e por um curto período de tempo, geralmente de um dia. Nesse caso, a tática é estimular a compra por impulso.
Outra rede de lojas está com uma promoção de sorteio de prêmios para as compras no site com pagamento através do Pix. Ela vende, por esse meio, um smartphone por R$ 3.894,05, contra R$ 4.499 no preço normal, uma diferença de 13,45%. Os consumidores também recebem o produto mais rápido, podem ter frete grátis e até mesmo parcelar a compra por esse meio. É uma alternativa para fugir da alta inadimplência, que em janeiro em Campinas chegou a 1,073 milhão de consumidores, e também dos juros altos.
"As empresas estão apelando para o Pix porque ele tem custo e risco zero, o dinheiro é instantâneo", afirmou o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes. De acordo com ele, os descontos para a transferência eletrônica começaram a ganhar corpo após o setor registrar vendas abaixo das expectativas durante a Black Friday e na Copa do Mundo.
O diretor-geral de Operações de uma rede de eletroeletrônicos, que dá desconto tanto no site quanto nas lojas físicas, Eduardo Slem, disse que a estratégia ampliou o uso do Pix pelos clientes. "Já é a segunda escolha de pagamento, passando o boleto, atrás só do cartão de crédito. E tende a crescer, pois é vantagem para todos. A aprovação da compra é muito mais rápida e a entrega, também", disse.
Para o diretor-geral de uma consultoria especializada em varejo, Marcos Gouvêa de Souza, o sistema eletrônico permite às empresas gerar caixa imediato, fugindo das intermediações das maquininhas ou das operadoras de cartão de crédito. "A propensão à infidelidade do cliente é cada vez maior. Ele recebe muitos estímulos de promoções e oportunidades de pagamento para ser capturado e retido. Além disso, as empresas têm mais dados sobre hábitos de consumo do cliente, do item preferido ao horário em que costuma comprar", explicou.
"O empresário pode traçar estratégias de precificação de venda para estimular o uso desse meio de pagamento, que o custo pode ser zero ou relativamente menor do que os cobrados em outras operações, como cartão de débito ou boleto bancário", afirmou a assessora econômica da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Kelly Carvalho. O sistema eletrônico é considerado vantajoso em relação ao pagamento em dinheiro, que gera preocupação e envolve cuidados com a segurança.
Crescimento
O Pix entrou em operação no Brasil em novembro de 2020 e sua utilização vem crescendo mês a mês. No primeiro bimestre deste ano, foram 5,14 bilhões de transações em todo o país, alta de 93,93% em comparação a igual período de 2022, de acordo com relatório do Banco Central. As estatísticas oficias apontam ainda que entre janeiro e fevereiro passados o pagamento por esse sistema eletrônico movimentou R$ 2,17 trilhões, aumento de 69,68% em comparação aos R$ 1,28 trilhão dos dois primeiros meses de 2022.
O crescimento do montante é impulsionado até mesmo por práticas simples que ocorrem nos cruzamentos das cidades. É caso do vendedor de balas Isaías Medeiros, que ao pendurar os saquinhos nos espelhos retrovisores dos carros informa que aceita o pagamento e donativos via Pix. "Sempre cai alguma coisa. Há casos em que as pessoas fazem transferência de valores que são muito mais altos do que custam as balas", revelou.
Atualmente, há mais contas de Pix do que população no país, isso porque o cliente pode ter um cadastro em cada banco em que tem conta. De acordo com o Banco Central, o Brasil atingiu em fevereiro o recorde de 393,1 milhões de contas cadastradas, alta de 2,23% em comparação as 384,5 milhões de janeiro. Os 8,56 milhões de novos registros feitos no mês passado equivalem a 2,67 vezes a toda população das 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas, estimada em 3,2 milhões de moradores.
Para o advogado especialista em Direito Bancário Rafael Guazelli, as recentes novidades desse tipo de transferência eletrônica ampliaram as possibilidades e elevaram a segurança dos usuários. "A flexibilização do horário noturno permite que os usuários indiquem que os limites sejam reduzidos a partir das 22 horas, e não mais das 20 horas, como antes. Essa ampliação do horário atende a quem costuma se organizar no período noturno e, principalmente, às empresas de comércio on-line, que têm no período da noite um 'horário nobre' de vendas pela internet", esclareceu.
Ele acrescentou que o fim do limite por transação permite que um usuário utilize todo o seu teto diário, por exemplo, em uma única operação. "É uma opção que aumenta as possibilidades de pagamento do correntista sem prejudicar os seus níveis de segurança temporários", acrescentou o especialista.
Porém, como toda operação bancária, o advogado observou que o Pix exige cuidados contra golpes e fraudes, o que leva o Banco Central a adotar, periodicamente, melhorias para elevar a segurança dos usuários e dos bancos. Para Guazelli, os usuários devem desconfiar de ligações, mensagens de texto via WhatsApp, promoções exageradas e páginas e links suspeitos que pedem o pagamento por esse meio eletrônico. "São medidas necessárias que devem fazer parte diária dos correntistas. A maneira correta de se fazer a transferência é por meio do site ou aplicativo do banco", advertiu.
"Não à toa, seu uso é grande entre o comércio e o sucesso é crescente. Segundo Bancos do Banco Central, 23% das compras realizadas via internet são pagas via Pix, contra os 5% registrados no final de 2020", completou.