SAÚDE

Pacientes 'importados' ajudam a lotar hospitais da rede pública

No ano passado, 15% das crianças internadas no SUS, em Campinas, eram de cidades da região

Bruna Mozer
27/04/2013 às 07:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 18:34

A vinda de pessoas de outras cidades em busca por atendimento médico em Campinas é um dos fatores que contribui diariamente com a alta demanda nos hospitais e com a superlotação, inclusive nos leitos pediátricos.

Dados da Secretaria de Saúde apontam que, no ano passado, cerca de 15% das crianças internadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) vieram de municípios vizinhos, principalmente Hortolândia, Sumaré e Monte Mor. Ao todo, foram registradas 4,5 mil internações pediátricas, sendo cerca de 670 de moradores de fora.

A avaliação do chefe de gabinete da Secretaria de Saúde, Edson Silveira, é de que a busca pelo atendimento em Campinas contribui com o cenário, mas não impacta de forma significativa a falta de leitos nos hospitais da cidade.

Muitas pessoas de fora, afirma, vêem Campinas como um lugar de atendimento de referência, por possuir serviços especializados em maior quantidade. "O atendimento (pelo SUS) é de universalização, a gente tem de tratar.”

Os problemas de atendimento na pediatria vieram à tona depois de uma diligência realizada no Pronto-Socorro Infantil do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, na última terça-feira (23), que flagrou falta de leitos e de estrutura para internação de crianças — no local, 6% vêm de fora.

A vistoria foi realizada pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) e o Sindicato dos Médicos de Campinas (Sindimed), que chamaram a situação de “cenário de guerra”. Foram flagradas salas improvisadas para internação e menores que deveriam estar na UTI em leitos comuns.

A Prefeitura afirma que não há déficit de leitos infantis e que a alta demanda é resultado de uma sazonalidade, quando a procura é maior por causa das mudanças de temperatura e doenças da época, como a gripe.

Campinas possui ao todo 236 leitos, 139 custeados pelo SUS e 97 pela rede particular. Para esse período, a Administração considera que seriam necessárias mais 60 vagas — 20 de UTI.

O hospital Mário Gatti é onde há menor procura de pessoas de cidades vizinhas. Apesar disso, bastam alguns minutos para encontrar uma mãe à espera de um médico no pronto-socorro infantil.

Esse é o caso de Natali Monteiro de Andrade, de 20 anos. Ela mora em Sumaré e às 19h deSTA SEXTA-FEIRA (26) aguardava desde as 15h que sua filha de 7 meses fosse atendida.

“Todo mundo diz que aqui é melhor. Nem procuro o atendimento lá (em Sumaré). Todos dizem que não resolve.” Para chegar até o Mário Gatti, ela pegou dois ônibus e levou uma hora. Para voltar, a noite, também tomaria mais um ônibus para chegar em casa.

Solene Messias, de 43 anos, esperava para ser atendida no pronto-socorro adulto. “Aqui demora, mas pelo menos saio com todos os exames feitos. Eu procurei ajuda em Hortolândia e até agora não descobriram o que eu tenho.” Ela suspeita estar com dengue.

Os dados da Secretaria de Saúde incluem os hospitais Ouro Verde, Mário Gatti, Maternidade e Celso Pierro (PUC). O Hospital de Clínicas da Unicamp, por ser estadual, já tem caráter para atender as cidades da região — é onde se estima haver maior procura de moradores da região.

Para a diretora do CRM, Silvia Mateus, a vinda de pessoas de outras cidades reflete a dificuldade de atendimento nesses locais.

Segundo ela, não são apenas os hospitais que passam por essas dificuldades. Unidades de pronto atendimento e pronto-socorro sofrem a mesma situação. Uma vistoria realizada em 2011 no PA Anchieta, segundo Silvia, confirmou que 40% da demanda era de pessoas de outras cidades.

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