EPIDEMIA

Pacientes com sintomas de dengue relatam demora no atendimento em UPAs

Prefeitura negou ausência de médicos e pediu que unidades de pronto atendimento sejam buscadas apenas por pacientes com sintomas mais graves

Paulo Medina/ [email protected]
22/02/2024 às 09:01.
Atualizado em 22/02/2024 às 09:01
População reclamou da longa espera nas UPAs São José (foto) e Carlos Lourenço; (Rodrigo Zanotto)

População reclamou da longa espera nas UPAs São José (foto) e Carlos Lourenço; (Rodrigo Zanotto)

Um dia depois da Prefeitura de Campinas mudar o protocolo de atendimento da dengue, pacientes com casos suspeitos e confirmados ainda procuram as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) mesmo com sintomas leves. A nova orientação da Secretaria de Saúde é deixar as UPAs apenas para situações de maior gravidade, portanto pacientes com febre devem procurar os centros de saúde imediatamente após o sintoma começar. Na quarta-feira (21), a reportagem percorreu UPAs da cidade e ouviu relatos de pacientes que esperam até cinco horas por atendimento, sendo que os especialistas alertam que a demora no atendimento de pessoas infectadas e com comorbidades aumenta os riscos. 

Com sintomas de dengue, a salgadeira Thaís do Nascimento Gomes, de 29 anos, mora no Jardim Centenário e apontou uma espera de cerca de cinco horas na UPA Carlos Lourenço. “Cheguei aqui às 6h e tive o primeiro atendimento somente agora, às 11h, e ainda estou esperando para fazer o exame da dengue. Estou com muita dor no corpo, febre, dor de cabeça e só tem um clínico-geral aqui para atender. É muito ruim a demora, estou com dores. Vou fazer um hemograma e sair daqui somente na parte da tarde”, disse. Perguntada sobre os motivos de não ter procurado um centro de saúde, ela falou as unidades estavam fechadas no horário em que ela sentiu dores. “Pensei que fosse mais rápido na UPA, mas não é.”

Com suspeita da doença, o motorista de ônibus Dione Rodrigo da Silva, de 36 anos, morador da Vila Santana, no distrito de Sousas, chegou às 7h na mesma UPA. Quatro horas depois, ele conseguiu o primeiro atendimento no local. “Comecei a sentir dores no corpo, febre e dor de cabeça na terça à noite. A dengue está descontrolada demais e só tem um clínico-geral aqui. Cheguei às 7h e fui atendido pouco depois das 11h. Precisam dar mais agilidade ao atendimento”, opinou. Silva afirmou ainda faria o exame para confirmar a doença. “Eu vim cedo pra cá, porque o centro de saúde de Sousas estava fechado”, falou. O motorista de ônibus faltou ao trabalho e confidenciou que ao menos sete colegas no serviço também estão afastados por causa da dengue. A empresa que ele trabalha, instalada em Campinas, atua no transporte escolar e em linhas rodoviárias.

Na UPA São José, a moradora do Jardim Monte Cristo, Vilneia de Paula Rosa, de 55 anos, contou que chegou na unidade por volta das 9h45, pegou a senha 330 e às 13h20 ainda aguardava para tomar medicação. Ela teve a confirmação de que está com dengue no início da semana e retornou para a unidade após apresentar dor de cabeça, cansaço e fraqueza.“Fui atendida pela primeira vez às 12h30 e agora, quase 13h30, estou esperando para tomar medicação, mas tem 40 pessoas na minha frente”, esbravejou. “É uma falta de respeito. Sexta-feira passada cheguei aqui às 14h e só saí da UPA por volta das 20h30”, completou.

O analista de logística Lucas dos Reis Duraes, de 26 anos, do Jardim Santa Cruz, fez o exame de dengue na UPA. Ele chegou por volta das 8h40 e saiu da unidade às 12h10. “Saí da empresa porque não estava bem mesmo, fiz o exame e fui liberado. Faz uns dois dias que estou com febre e dor no corpo. O problema foi passar pelo médico, que levou de três a quatro horas. É a segunda vez que pego dengue.” 

Rosana dos Reis, de 30 anos, é do Jardim Campo Belo e chegou na UPA São José por volta das 8h20, pegou a senha 308 e recebeu a informação de funcionários da unidade que a espera estava em quatro horas, “se fosse urgente”. “Se não for urgente, demora mais. Estou com diarreia, dor de cabeça e nos olhos, muito forte.”

O infectologista Arnaldo Gouveia Junior ponderou que as pessoas com comorbidades possuem mais riscos e precisam ser atendidas de maneira mais ágil em unidades de saúde.

“Tem um subgrupo que é imprevisível. A gente sabe que pessoas que têm dengue pela segunda vez, assim como gestantes, pessoas nos extremos de idade, com diabetes, pressão alta descontrolada, que têm as chamadas comorbidades, têm maior risco de passar pela chamada fase crítica entre o terceiro e o sexto dia. É uma fase em que algumas pessoas podem ter uma desregulação na resposta imunológica. Na hora que cessa a febre, principalmente pelo quarto, quinto dia, o paciente começa a ter queda de pressão, sangramentos, os sinais da dengue grave. É muito importante que a pessoa, pelo menos na fase que a febre está baixando, vá ao médico. Quando a dengue complica, usualmente é junto com o fim da febre”, explicou o especialista.

OUTRO LADO

Diante da reclamação dos pacientes sobre a falta de médicos na UPA Carlos Lourenço, a Prefeitura afirmou que a informação “não procede”. “A unidade trabalha com 4 clínicos e 2 pediatras. As UPAs trabalham com equipes completas. Essas unidades, assim como os pronto-socorros, devem ser buscadas pelos pacientes com suspeita ou dengue confirmada se apresentarem outros sintomas como tontura, dor abdominal forte, vômito, suor frio ou sangramentos”, respondeu a Administração em nota oficial.

Em relação aos relatos de que a população por vezes procura uma das UPAs devido ao horário e dias de funcionamento dos centros de saúde, a Prefeitura disse que são 12 os centros de saúde que abrem aos sábados, mas que o número pode aumentar se for detectada a necessidade de uma maior assistência.

“A orientação continua sendo a de que pacientes que tenham febre procurem os centros de saúde mais próximos de sua casa. Assim, evita-se deslocamentos sem necessidade e espera nas unidades de prontoatendimento (UPAs) uma vez que os casos mais graves têm prioridade no atendimento.”

O protocolo da Secretaria de Saúde diz que o paciente procurar o pronto-socorro de um dos hospitais ou as UPAs em caso de sintomas como tontura, dor abdominal muito forte, vômitos repetidos, suor frio ou sangramentos.

A Prefeitura ainda lembrou que tem um mutirão marcado para sábado nos bairros Vila Vitória, Mauro Marcondes, Vida Nova I, Vida Nova II e Parque Aeroporto. Ao todo, 18,4 mil imóveis já foram vistoriados pelos agentes de saúde. Mais de mil toneladas de lixo e entulho descartados irregularmente já foram recolhidos durante as operações de combate à dengue.

6 MIL CASOS

Na atualização de quarta-feira (21), o Painel Interativo de Arboviroses mostrou que os casos cresceram de 5.355 para 6.025 em Campinas, alta de 12,5%. Entre os bairros mais afetados, o Jardim Eulina registra 523 casos, seguido do Jardim Aurélia, com 202, Sousas, com 181, e Santo Antônio, com 168 infecções.

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