ENTREVISTA

Otávio Rizzi Coelho destaca importância do SUS na vida dos brasileiros

Para o cardiologista, o sistema precisa mais de gestão que de recursos

Daniel Rocha/ [email protected]
07/04/2024 às 10:26.
Atualizado em 07/04/2024 às 10:26
Otávio Rizzi Coelho visitou a sede do Correio a convite de Ítalo Hamilton Barioni (Alessandro Torres)

Otávio Rizzi Coelho visitou a sede do Correio a convite de Ítalo Hamilton Barioni (Alessandro Torres)

Otávio Rizzi Coelho, renomado cardiologista com mais de cinco décadas de experiência, traz em sua trajetória profissional a marca da excelência. Graduado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde atualmente desempenha o papel de professor convidado, ele compartilha conosco não apenas sua jornada pessoal, mas também insights valiosos sobre a evolução da Cardiologia tanto no cenário nacional quanto internacional.

Nesta entrevista exclusiva, a convite do presidente-executivo do Correio Popular, Ítalo Hamilton Barioni, Otávio Rizzi Coelho, honrado com o título de Cidadão Emérito pela Câmara de Campinas em 2015, destaca a importância da atualização profissional e da abordagem multidisciplinar para garantir um atendimento médico de qualidade.

Além disso, ele aborda temas relevantes como a prevenção de doenças cardíacas, ressaltando o papel fundamental do Sistema Único de Saúde (SUS) na vida dos brasileiros. O médico também enfatiza a necessidade premente da construção de um hospital metropolitano em Campinas, visando atender de forma abrangente toda a região. Acompanhe abaixo esta entrevista na íntegra.

Doutor, conte-nos um pouco sobre a sua vida antes da medicina.

Bom, a minha família é daqui de Campinas e eu nasci aqui também. Toda a minha formação acadêmica também se deu aqui, primeiramente, na antiga Escola Alemã, que naquela época já tinha o nome oficial de Rio Branco. Posteriormente, eu fiz todo o Secundário (equivalente atual aos ensinos Fundamental II e Médio) no Colégio Culto à Ciência, que era de uma qualidade impressionante. Tanto é que você tinha de prestar um exame de admissão para poder estudar nele. E no meu último ano de escola, o antigo terceiro científico, eu tive muita sorte porque as turmas foram divididas em dois grupos, a da Engenharia e a da Medicina, e isso foi muito bom pra mim, porque quando eu prestei o vestibular, eu consegui passar de primeira na Faculdade de Medicina de Botucatu (atualmente pertencente à Unesp), onde eu cursei o primeiro ano, para logo em seguida eu me transferir para a Unicamp, onde eu me formei em 1972, e a partir daí toda a minha vida profissional como médico e cardiologista, especificamente, esteve vinculada a ela, nestes últimos mais de cinquenta anos.

O seu pai foi psiquiatra. O senhor não teve interesse em seguir a mesma especialidade dele?

Eu fui tentado, porque o meu pai, junto ao Otávio Bierrembach de Castro (presidente da Sociedade Hípica de Campinas entre 1962 e 1967) eram sócios da Casa de Saúde que levava o nome deste último. Foi um hospital de referência em Psiquiatria no interior de São Paulo e eu me chamo Otávio, inclusive, em homenagem a ele. E com um pai e um padrinho psiquiatras, o caminho era ir para a Psiquiatria, mas eu gostei mesmo foi da Cardiologia.

E quando o senhor optou pela Cardiologia?

Eu acho que desde o começo. Eu sempre gostei da Cardiologia. Não tem lá uma explicação muito boa pra isso. Mas Campinas, à época da minha formação, era muito pequena. Devia ter uns 300 mil habitantes, no máximo, e os médicos, cuja quantidade não dava pra encher duas Kombis, se frequentavam muito e dentre eles estava alguns amigos do meu pai que me ajudaram muito na minha escolha. Além disso, Campinas foi o berço de um dos cardiologistas mais importantes que nós já tivemos no Brasil, o professor Luiz Venere Décourt e, nessa época, ele era catedrático da segunda clínica médica da USP. Com muitos parentes aqui na cidade, ele era uma referência para quem queria seguir na Cardiologia e o foi para mim também. Ao terminar o curso de Medicina, eu fui fazer residência no Hospital do Servidor Público Estadual, mas antes, por estar na faculdade, a minha ida ao Exército foi adiada e após o término do curso, eu fui, de fato, convocado, e servi no Hospital Geral do Exército, em São Paulo, o que atrasou um pouco a minha formação. Após isso, concluí a residência e me especializei em cardiologia na USP, no que viria a ser o embrião do Instituto do Coração (InCor). No início de 1977, eu voltei para Campinas e comecei a trabalhar em vários hospitais da cidade, como o Irmãos Penteado, o Centro Médico e a Maternidade, mas sempre de olho na Unicamp. No começo de 1980, eu fui convidado para ser assistente da disciplina de Cardiologia. O Hospital de Clínicas (HC) estava ficando pronto, mas nele ainda não havia internações, só atendimentos ambulatoriais. As internações só começaram a ocorrer uns três anos depois. Mas, hoje, veja, a Unicamp é invejável em termos de produção acadêmica e científica e a Medicina é uma das unidades de melhor produção.

O cardiologista Otávio Rizzi Coelho foi agraciado com o título de Cidadão Emérito em 2015; a honraria foi concedida em uma cerimônia na Câmara que contou com a presença do então prefeito Jonas Donizette, do atual presidente do Legislativo, Luiz Rossini, e do vereador Luiz Henrique Cirilo (Câmara Municipal Campinas)

O cardiologista Otávio Rizzi Coelho foi agraciado com o título de Cidadão Emérito em 2015; a honraria foi concedida em uma cerimônia na Câmara que contou com a presença do então prefeito Jonas Donizette, do atual presidente do Legislativo, Luiz Rossini, e do vereador Luiz Henrique Cirilo (Câmara Municipal Campinas)

Falando nisso, inclusive, como o senhor vê a evolução da Cardiologia no país ao longo das últimas décadas?

Olha, quando eu me formei, o infarto do miocárdio já era a doença que mais matava no Brasil. E nos anos 70 e início dos 80, toda a preocupação da Cardiologia era com a mortalidade hospitalar que girava em torno de 30% dentro dos hospitais. Aí, na Irlanda, começaram a surgir as primeiras unidades coronárias, no final dos anos 60. No começo da década de 70, essas unidades começaram a ser implantadas aqui no Brasil. O Hospital de Clínicas da USP montou a sua e outros hospitais começaram a fazer o mesmo. Com o tratamento das arritmias, a mortalidade começou a diminuir, mas ela ainda permanecia muito alta, em torno de 15 a 18%. Aí chegaram os trombolíticos, um medicamento que você injeta na veia do paciente que infartou e ele dissolve o coágulo do coração que leva ao infarto e conseguimos novamente reduzi-la para a metade do que já havia sido conquistado. Hoje, em pacientes que são bem tratados, ela gira em torno de 6%. Então, eu pude acompanhar essa mudança absolutamente inacreditável. Se alguém falasse lá no começo, quando eu iniciei os meus estudos, que isso iria acontecer, eu tenho certeza de que ninguém iria acreditar.

E para além do tratamento do infarto?

Para além do tratamento do infarto, muitos outros eventos importantes aconteceram na área. O primeiro deles foi o conhecimento bem feito do que nós chamamos de "fatores de risco". Isso começou em 1948, em Framingham, nos Estados Unidos, uma pequena cidade próxima a Boston, onde todos os pacientes foram acompanhados para saber por que eles morriam do coração. Foi identificado que pressão alta, diabetes e tabagismo, por exemplo, levava a um aumento das doenças cardíacas e não havia muito que se fazer. Mas, nos anos 80, no Japão, o bioquímico Akira Endo desenvolveu as estatinas e estas revolucionaram a Cardiologia. Em 1994 foi apresentado um estudo em que se concluía que ao atuarem dentro da célula hepática, elas reduziam o colesterol do plasma. E esse estudo, chamado de "4S", mostrou que quem tomou estatina teve uma redução de 42% de mortalidade em relação a quem não a havia tomado. E, a partir daí, após milhares de estudos, nós usamos estatina para praticamente todos os doentes, tanto em prevenção primária, como em prevenção secundária. Isso mudou completamente a evolução dos doentes com doenças isquêmicas do coração. Alguns anos antes, em 1988, também ficou bastante conhecido um estudo sobre o uso da aspirina no tratamento de doenças cardíacas. A gente vê que isso não é tão antigo e, antes disso, não havia nada. Então, o reconhecimento dos fatores de risco, a estatina, a aspirina, mais a cirurgia de revascularização da ponte de safena, e depois, a angioplastia e a colocação de stents, foram uma revolução completa no tratamento das doenças do coração. Outra doença, por exemplo, que afeta muito o coração, é a diabetes e havia um remédio para tratá-la que é a rosiglitazona, que diminuía a glicemia, controlava a doença e estava tendo um grande sucesso de venda no mundo todo. Aí teve um cardiologista que publicou um trabalho mostrando que apesar de ela controlar bem o diabetes, aumentava o risco de infarto. Isso foi em 2007. Em 2008, o FDA, órgão norte-americano equivalente a Anvisa aqui no Brasil, publicou uma norma que obrigava que todo novo remédio para diabetes teria de contar com um estudo de segurança do coração. E foi aí que surgiu o Ozempic, o Forxiga e a Empaglifozina e isso revolucionou, tanto o tratamento da diabetes, quanto o do coração, e hoje, grande parte desses remédios nós usamos não só para tratar a insuficiência cardíaca, mas também para prevenir a insuficiência renal e para melhorar o prognóstico do doente pós-infarto, sendo diabético ou não.

Por isso a necessidade do profissional da área de saúde estar sempre atualizado?

Correto. E isso implica em uma grande responsabilidade das universidades, pois são elas que preparam o aluno. Imagine alguém que se formou em 2004. Essa pessoa faz a residência e sai dela como um bom médico, porém, se esse profissional não realiza a educação médica continuada, ele não terá conhecimento suficiente para atender o doente comum e, por isso mesmo, as universidades têm de manter cursos de pós-graduação lato-sensu, para manter os seus formandos, não só na Cardiologia, mas nas outras áreas da Medicina também, em permanente atualização. E hoje, a Unicamp e a USP, por exemplo, fazem isso muito bem. O InCor e a Fundação Zerbini têm um departamento de educação médica continuada, ambos com programas invejáveis.

A gente falou anteriormente sobre o infarto e outras doenças que afetam o coração. O que é preciso ser feito para que a gente possa evitar o aparecimento dessas enfermidades?

Olha, nós temos que começar a aplicar a "prevenção primordial", que é aquela que acontece já na pré-escola, porque se a criança não aprende a comer bem, tanto na pré-escola, quanto na escola, ela vai comer mal quando for adolescente e continuar a fazer isso enquanto adulta, então é preciso que nós comecemos no primordial. Existem algumas experiências internacionais referentes a isso e os resultados são muito bons, particularmente, um grupo de experiência liderado por um cardiologista de origem espanhola, mas radicado nos Estados Unidos, o Valentin Fuster. Ele fez isso na Colômbia, na Espanha e em diversos outros lugares e realmente funciona. Então, nós temos que fazer isso, não só no posto de saúde ou na unidade básica de saúde, nós temos que começar na pré-escola e na escola. Hoje eu sei que as secretarias de Saúde e de Educação de Campinas têm programas nesse sentido e que estão funcionando.

O planejamento da merenda passa por isso?

O planejamento da merenda é algo muito importante e pouco valorizado no dia a dia, porque quando você pega o mapa da obesidade no mundo, você tem um aumento anual da ocorrência de sobrepeso e obesidade em todo o planeta, em especial entre as crianças, e isso tem acontecido porque muitas vezes o alimento saudável é mais caro para as famílias do que o ultraprocessado, com gordura hidrogenada, com sódio exagerado etc. Quando eu comecei a fazer Cardiologia, a nossa preocupação era o infarto, depois nós começamos a nos preocupar com o doente antes dele infartar e agora nós estamos nos preocupando com a criança para que ela não venha a ter um problema cardíaco evitável.

E em relação à academia e ao ensino, qual é a importância de uma abordagem multidisciplinar para se poder entender o paciente de modo mais amplo?

Olha, o especialista é a melhor pessoa do mundo para tratar a sua especialidade, mas não necessariamente a melhor pessoa do mundo para tratar o paciente, porque quando eu trato o coração do paciente, eu tenho certeza de que sei fazer isso muito bem. O problema é que nunca é só algo referente ao coração. Por exemplo, o paciente é diabético, tem insuficiência renal, alguma doença neurológica ou reumática, alteração da imunidade, então tem toda uma complexidade envolvendo essa pessoa doente e, por isso mesmo, aos poucos, os médicos foram revertendo essa superespecialização, para voltar a reintegrar. 

O cardiologista Otávio Rizzi Coelho atende paciente em seu consultório (Alessandro Torres)

O cardiologista Otávio Rizzi Coelho atende paciente em seu consultório (Alessandro Torres)

E sobre o SUS? O que o senhor pode comentar a respeito?

Olha, eu sou pré-SUS. Quando eu estava na faculdade, quem eram os doentes que iam à Santa Casa? Eram os chamados indigentes. Tem nome pior do que esse? Eram os trabalhadores rurais e aqueles que não tinham Carteira de Trabalho assinada e, portanto, não podiam se utilizar de nenhum dos institutos de aposentadorias e pensões de uma determinada categoria profissional. Eles não tinham direito a nada. Eram atendidos, entre aspas, de favor. Tanto é que a classificação era indigente. E era uma tristeza. Tanto que durante a faculdade, o Departamento de Medicina Preventiva tinha um programa no Jardim das Oliveiras, na saída pra Valinhos, e cada aluno "ganhava" uma família e era preciso acompanhá-la do ponto de vista social e isso foi muito útil pra mim, porque sempre é muito importante conhecer e conviver com todas as diferenças. Aí quando teve a criação do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), só tinha direito a assistência médica quem tinha a carteira assinada. Bom, eu não preciso dizer que uma minoria de pessoas faziam parte desse grupo, portanto, a grande maioria da população brasileira não tinha direito a nada. Então, quando o SUS foi criado, a mudança foi da água para o vinho, simplesmente pelo fato de uma pessoa não ser mais indigente, mas um cidadão, que tem direito à assistência médica total, e, olha, o SUS é muito bom e quando há problemas, em geral, eles são mais de gestão do que de recursos. Olha, quando o SUS começou, foi uma beleza comparada ao que era antes e, progressivamente, foi melhorando. A Cardiologia, por exemplo, avançou muito graças ao SUS.

Aqui na RMC existe uma discussão sobre a construção de um hospital metropolitano e a Unicamp tem capitaneado essa reivindicação junto ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Qual é a necessidade da realização desta obra?

Isso é uma necessidade para anteontem. Olha, o que nós temos de medicina de alta complexidade no entorno de Campinas? Nada. No início da conversa, eu disse que Campinas, quando eu comecei a cursar Medicina, tinha cerca de 300 mil habitantes, certo? O Hospital de Clínicas foi idealizado em meados dos anos 70 e o Pronto-Socorro, praticamente, não tinha movimento. Mas a população cresceu muito e o que foi feito de lá pra cá? Nada. Os hospitais construídos são todos locais e é preciso ter mais que um hospital metropolitano. É preciso ter um hospital de trauma, um hospital de cardiologia, outro de oncologia, além do hospital de média complexidade para dar vazão ao que é necessário e deixar o Hospital de Clínicas com a sua vocação primária, que é a de fazer coisas muito mais sofisticadas, como realizar transplantes de medula, hepáticos, renais, cardíacos e cirurgias muito complexas que não podem ser contaminadas pela média complexidade. Mas se o paciente aparece à porta, o que se há de fazer? Vai avisá-lo que aquele é um procedimento de média complexidade e que ele não será atendido? Não. Você vai atendê-lo, correto? Então, eu acho que o governo do Estado precisa, sim, fazer isso. A Unicamp participou de diversas discussões sobre o assunto e eu tinha a impressão de que a coisa já estava mais bem encaminhada, porque essa discussão começou há uns três anos e já era para o projeto executivo estar em andamento.

E aqui em Campinas, atualmente, são realizados transplantes cardíacos?

Opa! Nós começamos a fazer transplantes cardíacos há alguns anos e obtivemos um grande sucesso. O número atual varia de 12 a 15 por ano. O problema do transplante é que você precisa ter "um banco de receptores". Então eu preciso ter diversos pacientes com insuficiência cardíaca grave, porque quem vai receber o transplante precisa ter o tipo sanguíneo e o painel de imunidade adequado, pra poder, quando aparecer o órgão, usá-lo. Hoje, o grande transplantador de corações no estado de São Paulo é o InCor, que tem uma estrutura invejável; o Albert Einstein também faz muitos transplantes cardíacos pelo SUS e o Hospital de Clínicas também e é uma coisa importante porque o transplante cardíaco, além de ser muito útil para o paciente, também é útil para o hospital, porque para realizá-lo é preciso ter um serviço de Anatomia Patológica e Imunologia de Primeiro Mundo, ou seja, é preciso ter toda uma infraestrutura funcionando e o HC da Unicamp tem um serviço de captação de órgãos que é invejável e um serviço de transplantes hepáticos, renais, cardíacos e de medula muito ativo.

Otávio Rizzi Coelho participa da inauguração da nova área de ecocardiografia do HC da Unicamp (Divulgação/ Unicamp)

Otávio Rizzi Coelho participa da inauguração da nova área de ecocardiografia do HC da Unicamp (Divulgação/ Unicamp)

Como se deu a implantação da Faculdade de Medicina?

Na época, Campinas se mobilizou muito pra que houvesse na cidade uma faculdade de Medicina. O Correio Popular foi fundamental nessa conquista. O (jornalista) Luso Ventura talvez tenha sido aquele que tenha capitaneado esse movimento. Muitos políticos locais estavam envolvidos nisso, dentre eles, o Rui de Almeida Barbosa, que era presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo; médicos, como o meu pai e o Roberto Franco do Amaral e muitas outras personalidades mais. Dado isso, em 1963, não só a Faculdade de Medicina foi criada, como toda a Unicamp, através de um decreto. O governador à época era o Ademar de Barros. Mas só havia o curso de Medicina. As coisas eram tão mal arrumadas nessa época que o curso básico, primeiro, segundo, terceiro ano da faculdade, funcionava nos dois primeiros andares do prédio da Maternidade. O Eduardo (Pereira) de Almeida (presidente da Maternidade de Campinas entre 1950 e 1966) tinha conseguido construir o novo prédio da instituição com doações da população e também com uma grande ajuda do Correio Popular, mas não conseguiu terminá-lo, então o primeiro e o segundo andares estavam no chão, no contrapiso. E a Unicamp, que na época não era a Unicamp ainda, era só a Faculdade de Medicina, foi ministrar o curso básico lá, onde eu tive aulas de Farmacologia, Fisiologia, Histologia, Anatomia e muitas outras. Eu sou da quinta turma da Faculdade e os alunos que estavam nas cadeiras clínicas do quarto, quinto e sexto ano já estavam tendo aulas na Santa Casa de Campinas. Na minha turma havia sessenta estudantes e nós tínhamos um grande professor de clínica médica, Silvio Carvalhal, que, talvez, tenha sido um dos últimos propedeutas, que ensinava para nós como obter a história do paciente e conversar com ele. Todo mundo já foi paciente e a gente sabe como é importante que o médico faça a pergunta certa, do jeito certo e ele nos ensinava a examinar o doente, a importância da anamnese (diálogo estabelecido entre profissional de saúde e paciente com o objetivo de ajudá-lo a lembrar de situações e fatos que podem estar relacionados a sua doença), do exame físico e do fazer o raciocínio clínico para depois solicitar os exames que deveriam ser realizados. Ao sair da Unicamp, ele foi pra PUC e montou todo o serviço de clínica médica desta universidade.

O senhor poderia falar um pouco sobre a sua rotina. Como o senhor divide as suas atividades nos dias atuais?

Eu sou uma pessoa privilegiada porque, profissionalmente, eu realmente faço o que gosto. Eu sou um médico comum, de consultório, de ir ao hospital, cuidar dos pacientes. Faço isso todos os dias, à tarde toda e, às vezes, vou pela manhã. Paralelo a isso, eu sou professor convidado da Unicamp, pois eu me aposentei. Mas dou aulas todos os dias. A partir das 7 da manhã, passo em visita, junto aos residentes da Unidade Coronária, aos doentes da Cardiologia que internaram na véspera. Isso acontece até às 9 da manhã. Eu tenho uma atividade na Sociedade de Cardiologia. Eu fui um dos fundadores da Sociedade de Cardiologia da cidade de São Paulo. Lá eu tive diversos cargos na Diretoria e fui o presidente também. No ano que vem, eu serei o presidente do 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, que vai acontecer em São Paulo e que deve reunir cerca de dez mil cardiologistas. Além disso, eu participo de diversos programas de educação médica continuada.

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