Sirenes, charretes, sinos, trens: sinais sonoros que marcaram a história e a vida dos campineiros
Campinas é uma cidade de muitos sons. Sons que foram se transformando com o passar dos anos. Nos tempos iniciais, o som que cortava o povoado era o das cavalarias dos bandeirantes que faziam expedições pelo interior do Estado. Charretes, carros de bois também tiveram seu auge. Depois do estabelecimento da cidade, propriamente dita, durante muito tempo, o que se ouvia era o barulho das construções, dos homens que trabalhavam para dar a primeira identidade arquitetônica do Município. O barulho característico das locomotivas também reinou longo período por aqui. Ainda hoje é possível ouvir o barulho dos trens de cargas em alguns pontos de Campinas, principalmente, dos apitos, capazes de assustar os mais desavisados, já que as linhas férreas cortam vários bairros. Interessante é que, enquanto alguns desses ruídos se perderam, outros lutam bravamente para continuar na memória afetiva dos campineiros. Alguns deles tiveram grande importância na vida da população, a sua ativação podia significar a possibilidade de salvação. É o caso da sirene do Correio Popular, que funcionou durante décadas na esquina da Rua Conceição com a Rua Dr. Quirino, no Centro. A sirene ou sereia, como era carinhosamente chamada, tocava às 18h todos os dias. Ela soou também durante a Revolução de 1932, quando no dia 18 de setembro as bombas atingiram a Estação Paulista- hoje Estação Cultura. Poucos registros sobraram daquele tempo sombrio, em que Campinas foi uma das poucas cidades atacadas pelos próprios brasileiros. As bombas de Getúlio Vargas atingiram a Companhia MacHardy na Avenida Campos Sales com a Avenida Andrade Neves. Os fundos de uma casa, na Rua Visconde do Rio Branco, também foram atingidos. Esse bombardeio deixou um morto e 27 feridos. A vítima fatal foi o escoteiro Aldo Chioratto, que estudava no grupo escolar Orosimbo Maia, e foi atingido por estilhaços. Nessa época, o comando do Exército informava que quando a sereia do Correio soasse, a população deveria se abrigar. “AVISO À POPULAÇÃO, de ordem do commando geral desta praça, avisa-se a população desta cidade, que quando soarem as sereias deste commando e a do jornal Correio Popular, a população deverá recolher-se, em virtude de ser esse o signal da approximação da aviação inimiga. Após a retirada dos aviões inimigos será dado segundo signal”, alertava o informativo de 18 de setembro de 1932, assinado pelo Major Mario Rangel. Nem é possível mensurar o desespero dos moradores ao ouvir o som da tal sirene. Toda vez que ela tocava, significava que algo importante tinha acontecido. Tão logo o som da sirene rasgava o então silencioso Centro, uma multidão se aglomerava na frente do jornal em busca das notícias. A sirene também se fez ouvir em 16 de setembro de 1951, quando desabou o teto do antigo Cine Rink, que ficava na Rua Barão de Jaguara, esquina com a Rua Conceição. O acidente deixou 40 mortos e mais de 400 feridos. Ela também anunciou quando o Brasil foi campeão mundial pela primeira vez em 1958. Atualmente, o prédio do Correio Popular da Rua Conceição com a Rua Dr. Quirino está desocupado, porque todas as operações do Grupo RAC estão concentradas na unidade da Rua Sete de Setembro, na Vila Industrial. A sirene dos Correios e Telégrafos da Avenida Francisco Glicério também soaram durante décadas, mas acabaram mudas. Os sinos da Catedral Metropolitana de Campinas resistem ao passar do tempo e às mudanças sociais. Por conta de inúmeras reclamações de vizinhos, moradores do Centro, os horários de seu tilintar foram adaptados. Atualmente, ele se faz presente a cada hora cheia, anunciando o raiar do novo dia às 8h e emudecendo às 19h, para não perturbar o sossego alheio. Quem pega ônibus no Terminal Mercado ou transita pela região sabe que o Mercadão também tem a sua sereia. Ela foi instalada em 1967, justamente para anunciar o horário de abertura, às 7h. Também soa às 9h30 para avisar os permissionários que já não podem mais circular com lixo dentro do espaço. Às 18h30, ela anuncia o final de mais um dia de trabalho. SAIBA MAIS A Revolução Constitucionalista de 1932, Revolução de 1932 ou Guerra Paulista, foi o movimento armado ocorrido no Estado de São Paulo, entre os meses de julho e outubro de 1932, e tentava derrubar o Governo Provisório de Getúlio Vargas e promover a promulgação de uma nova constituição para o Brasil.