Levantamento feito por concessionária de rodovia apresenta relato de falta de educação no trânsito
Crianças observam trânsito em cima de passarela em rodovia de Campinas (Edu Fortes/AAN)
Regras básicas de segurança no trânsito estão sendo ignoradas em cidades que margeiam as rodovias da região de Campinas e isso tem colocado a vida de milhares de pessoas em risco todos os dias. Para reverter esse quadro, os pequenos podem ser os principais aliados na mudança de mentalidade dos motoristas e pedestres adultos. Uma pesquisa realizada pela concessionária Rota das Bandeiras com 1.088 crianças do Ensino Fundamental de sete municípios mostra que 52,04% delas já tiveram alguém da família envolvido em acidente. Apesar de todas as campanhas existentes e das multas e punições decorrentes do não cumprimento das normas, 15,92% afirmaram não usar cinto de segurança no carro com os pais ou responsáveis. Outros 11,83% ainda dizem circular no banco da frente do automóvel. Quando as crianças estão em veículos escolares, a situação é ainda pior: 51,85% não usam o cinto. Em relação às motocicletas, o resultado é também alarmante. Exatos 28,50% dos pesquisados não usam capacete. Além disso, 38,10% garantiram não ser os únicos passageiros nas motos. A pesquisa faz parte do programa Rota da Educação, da concessionária.
Entre estudantes de Conchal, um dos locais pesquisados, 25% dos entrevistados garantiram não usar capacete. Nessa mesma cidade, 65% das crianças envolvidas no levantamento responderam que não usam cinto de segurança quando entram em um veículo. Ainda de acordo com os dados da pesquisa, em uma escola de Artur Nogueira, 44,8% das crianças afirmaram que não são os únicos passageiros quando chegam para as aulas ou vão embora para casa em cima de uma motocicleta. Nessa cidade, 33% dos estudantes ouvidos já foram vítimas de algum tipo de acidente.
O projeto nas escolas desenvolvido pela Rota das Bandeiras se baseia em quatro pontos: ética e cidadania, educação ambiental, mobilidade e educação no trânsito. “A ideia foi começar a preparar esses novos motoristas. As crianças são multiplicadoras de informação e levam o que aprendem para casa. Com isso, já é possível verificar reações positivas.
Os pais começam a mudar as atitudes em função do comportamento e das cobranças de seus filhos”, aponta o gestor de Responsabilidade Social da concessionária, que administra o Corredor D. Pedro I, Adherbal Vieira da Silva.
A pesquisa também mostrou um dado curioso sobre as placas de sinalização, que costumam ser ignoradas por muitos motoristas em áreas urbanas e nas estradas, o que pode acabar em acidentes. Das crianças ouvidas, 76,97% afirmaram perceber as placas, mas 31,65% disseram que não as utilizam, o que pode significar um reflexo do que a criança percebe no comportamento dos adultos, sejam motoristas ou pedestres.
Flagrantes
Basta circular pela região para flagrar situações de risco e desrespeito à legislação. Em Igaratá, outro município coberto pela pesquisa, a motorista de perua escolar Lucimara Moraes trafegava sem o cinto de segurança. As oito pessoas que ela transportava também não usavam. Questionada sobre a desatenção, ela disse não ter o costume de usar o equipamento de segurança. Minutos depois, a reportagem encontrou o lavrador José Carlos Souza e sua mulher, Silmara, em cima de uma moto. Os dois com capacete. Mas, entre eles, sem qualquer proteção, a filha do casal, de 4 meses. “Não tenho carro e, por isso, faço tudo com a moto. Precisava levar a minha filha no médico e não tinha outra alternativa. Sei que é perigoso”, admite o pai.
O agricultor Roldemar dos Santos e o filho Wesley, de 4 anos, costumam esperar o ônibus na beira de uma pista localizada no limite entre Jarinu e Atibaia. Os dois são testemunhas dos abusos ao volante. “Sempre tem acidente aqui. Tenho de ficar atento, de olho no menino, para ele não ir para a pista”, conta. Na mesma via, o motorista de van Laércio Félix dava o exemplo, usando o cinto de segurança, mas sua atitude não era seguida pelos demais. As outras 12 pessoas que estavam com ele no veículo ignoravam a proteção. “A gente sempre orienta a colocar, né?”, garante o profissional, constrangido com a cena.
Escola leva alunos para "passeio" em passarela
Os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Sérgio Gonçalves Viana, em Bom Jesus dos Perdões, participaram na semana passada de um passeio especial. Todos foram conhecer uma passarela de pedestres. A estrutura está na Rodovia D. Pedro I (SP-65). Muitos pequenos jamais haviam visto coisa parecida. “Falamos sobre isso em sala de aulas, mas muitos alunos não entendem porque não conhecem. Elas não sabem o que é uma passarela. Assim, decidimos apresentar a estrutura a eles como forma de atividade escolar”, afirma a professora e coordenadora do programa de Educação Infantil da escola, Márcia Cabral Blanco, que trabalha com crianças de 6 a 8 anos.
A estrutura foi instalada pela concessionária Rota das Bandeiras no último mês de março no Km 64 da rodovia. Em 2011, um grave acidente no local causou comoção na cidade. Um caminhão sem controle atropelou e matou quatro pessoas — sendo uma criança — que estavam em um ponto de ônibus clandestino. Cansado, o motorista havia permitido que o seu ajudante,
que não tinha habilitação para conduzir veículos pesados, dirigisse.
A passarela está colocada no bairro Kaikan. A estrada divide a área urbana e o local onde estão instaladas indústrias. Muitos moradores tinham que atravessar a pista para ir trabalhar e voltar para casa. O risco era alto. “Agora que elas conhecem a passarela, todas poderão multiplicar a informação dentro de casa”, disse Márcia. “Vou falar para o meu pai só atravessar na passarela”, confirma a pequena Lívia dos Santos, de 7 anos.
A pesquisa realizada pela Rota das Bandeiras em 22 escolas de sete cidades da região abordou o tema das passarelas de pedestres. Dos 474 alunos que comentaram sobre elas, 412 (86,92%) afirmaram não usar a estrutura. Grande parte porque não há necessidade disso em suas cidades, mas o assunto não deixa de ser importante.
Para que funciona?
Dentro da cidade de Bom Jesus dos Perdões, que não conta com semáforos em seus cruzamentos, a Prefeitura instalou rotatórias para organizar melhor o tráfego e evitar acidentes. Isso também é uma grande novidade para as crianças. “Elas querem saber para que serve e como funciona uma rotatória”, diz a professora, já prevendo um novo passeio com seus pequenos cidadãos e futuros motoristas.