DEFICIÊNCIAS HISTÓRICAS

Os desafios ainda a serem superados pela educação

Resultado do Pisa indica que setor permaneceu estagnado nos últimos anos no país; Estado e município adotam ações para qualificar o ensino em vários níveis

Isadora Stentzler/ [email protected]
12/12/2023 às 08:41.
Atualizado em 12/12/2023 às 08:42
Professora observa alunos em sala de aula da rede estadual de ensino de São Paulo: Estado vai ampliar a partir de 2024 as aulas de física, geografia e história como forma de melhorar o aprendizado (Secretária da Educação/SP)

Professora observa alunos em sala de aula da rede estadual de ensino de São Paulo: Estado vai ampliar a partir de 2024 as aulas de física, geografia e história como forma de melhorar o aprendizado (Secretária da Educação/SP)

Diante dos péssimos indicadores do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), divulgados na semana passada e que revelaram que menos de 50% dos alunos brasileiros conseguiram atingir o nível mínimo de aprendizado em matemática e ciências, a analista de políticas educacionais do "Todos pela Educação", organização civil sem fins lucrativos, Natália Fregonesi, avalia ser necessário investimento na primeira infância para reverter este cenário. Mais que um indicador, o dado revela que o Brasil está atrás de países com perfil semelhante e não avançou nos últimos três anos - período de aplicação de uma prova e outra do programa. Na rede municipal de Campinas, que contempla alunos até o nono ano, a política freiriana visa aproximar a alfabetização dos alunos a partir de elementos comuns do dia a dia. Já na rede estadual, o foco está em uma nova matriz curricular que busca dar respostas à defasagem do ensino que ainda sofre com reflexos da pandemia.

O Pisa avalia os conhecimentos dos estudantes de 15 anos de idade nas disciplinas de matemática, leitura e ciências. No total, 690 mil estudantes de 81 países fizeram os testes. No Brasil, 10.798 alunos de 599 escolas passaram pela avaliação. Na edição de 2022, o foco foi em matemática.

De acordo com os resultados, o país alcançou 379 pontos em matemática, 410 em leitura e 403 em ciências. Já em 2018, ano anterior avaliado, o desempenho foi 384 pontos em matemática, 413 em leitura e 404 em ciências - dados semelhantes aos atuais e que apontam para queda de pelo menos dois indicadores no período.

De acordo com Natália, o impacto da pandemia apareceu de forma rasa, uma vez que se projetava uma queda ainda maior nos indicadores devido aos problemas do ensino durante os anos pandêmicos.

"Quando a gente compara 2018, pré-pandemia, com os resultados de 2022, já com efeitos desse período, a gente vê que o Brasil teve queda no seu desempenho, mas quando comparado a outros países as quedas do Brasil foram menores. Isso nos indica um ponto positivo que é os esforços que as redes estaduais e municipais colocaram nas ações para conseguir desenvolver o ensino remoto. Apesar de olhar esse ângulo positivo, o desempenho dos estudantes está estagnado. Há muito tempo os estudantes não conseguem avançar e ficam abaixo da media da OCDE [Cooperação e Desenvolvimento Econômico, organizadora do Pisa]. Isso mostra para a gente que ainda é muito necessário ter políticas públicas voltadas para educação", explica a especialista.

Entre ações que devem acompanhar essa mudança, ela cita a adoção de escolas em tempo integral, adesão à base nacional comum curricular, investimento na formação inicial de professores e foco numa política educacional sistêmica reforçada desde os anos iniciais.

"O Brasil vem evoluindo, implementando novas políticas, mas ainda não tem um projeto de educação de longo prazo. Olhando para os municípios, um fator muito importante que precisa ser pensado e que muitas vezes não é levado em consideração é o desenvolvimento de política da primeira infância. Ainda que se fale do Pisa de 15 anos, é lá na creche que esses estudantes entram na trajetória escolar e precisam ter nessa faixa etária o pleno desenvolvimento garantido. A probabilidade de o aluno ter uma trajetória mais adequada é melhor, e é muito importante para os municípios terem atenção especial para alfabetização", avalia.

Coordenador pedagógico da Secretaria Municipal de Educação, Guilherme Rodrigues dos Reis, cita que Campinas desenvolve ações formativas para professores da rede, o que inclui docentes dos anos iniciais. Dentro dessa perspectiva é que são adotadas frentes de projetos voltadas ao reforço na alfabetização, sendo uma delas o Programa Municipal de Leitura e Escrita.

Reis explica que a meta municipal é alfabetizar os alunos até o terceiro ano do fundamental. Para isso, é adotada uma linha freiriana, levando o aluno para o centro do ensino. "Uma boa situação de alfabetização é que o foco da ação seja o aluno e não o conteúdo de maneira mecânica. A língua tem uso social e o aluno faz uso social da língua. Tanto na escrita quanto na leitura, ela tem que partir do contexto social em que vive", aponta Reis.

Exemplo disso é trabalhar a alfabetização a partir do aprendizado do nome dos colegas, da lista de mercado feita pelas famílias e outros temas que sejam próximos à criança. Em relação aos adolescentes que já passaram pela alfabetização, os resultados do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) devem trazer um retrato mais fiel à realidade paulista. As provas foram aplicadas na última semana para 570 mil estudantes dos 2º, 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio.

Os resultados das provas do Saresp, junto com os dados de fluxo escolar dos estudantes (taxas de aprovação, reprovação e abandono), compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp). O Idesp é divulgado todos os anos e serve de termômetro para as políticas públicas e planejamento das unidades de ensino.

O que já está confirmado para o próximo ano são as mudanças nas matrizes curriculares do Ensino Médio e dos anos finais do Ensino Fundamental. De acordo com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (Seduc), as mudanças são uma resposta à demanda de professores e estudantes da rede estadual, sobretudo do Ensino Médio, que fizeram coro contra a política do Novo Ensino Médio instituído no ano anterior.

Dentro dessas mudanças, as aulas de física, geografia e história serão reintegradas à 3ª série do Ensino Médio, o que significa um aumento de 50% em cada uma dessas disciplinas na comparação com o ano letivo de 2023.

O tempo destinado ao aprendizado de língua portuguesa também será ampliado de 10 para 16 aulas, o que representa um aumento de 60%; e as aulas de matemática passarão de 10 para 17 aulas. Em ambos os segmentos o país apresentou indicadores baixos no Pisa.

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