história

Orly baixa as portas após 55 anos

A Panificadora Orly, um dos estabelecimentos comerciais mais tradicionais de Campinas, fundada em 1965, comunicou oficialmente o encerramento

Gilson Rei
03/03/2020 às 07:39.
Atualizado em 29/03/2022 às 19:21

A Panificadora Orly, um dos estabelecimentos comerciais mais tradicionais de Campinas, fundada em 1965, comunicou oficialmente o encerramento das atividades ontem, após 55 anos de atendimento na esquina das ruas Barão de Jaguara e Tomás Alves, no Centro da cidade. A Orly — cujo nome remete ao aeroporto francês de Orly, onde surgiu o famoso pãozinho na chapa — é administrada desde 1997 pelo Grupo Giovannetti.  A notícia caiu como uma “bomba” para muitos clientes logo pela manhã, quando um aviso foi colocado nas portas de ferro com o breve comunicado: “Prezados clientes e amigos, pedimos desculpas, mas encerramos nossas atividades”. A panificadora funcionou normalmente até as 14h de sábado e nenhum comunicado foi dado anteriormente. Nestes 55 anos, a Orly foi um dos principais pontos de encontro de pessoas de todas as áreas e atividades, desde o simples cidadão até autoridades e políticos, que dividiam o espaço de balcão para beber cafés e comer o famoso pão com o tradicional Café Regina, que fica do outro lado da rua. Ontem, todos que passavam pelo local paravam para ler o comunicado e aproveitavam para fazer uma foto com o celular e, na sequência, disparar a notícia para conhecidos nas redes sociais. Entre essas pessoas estava Sueli Bastoni, advogada, que ficou um bom tempo olhando para a porta fechada da Orly, como se não estivesse acreditando no que via. “Eu sempre frequentei a Orly, desde criança. Eu adorava vir aqui toda vez que vinha ao Centro. Vinha no começo com minha mãe e depois ia até a loja da Copenhague, outro local tradicional que foi fechado. Fiquei abismada”, comentou. Marco Antonio dos Santos, funcionário público, disse que o fechamento foi uma surpresa desagradável. “A Orly faz parte da tradição na cidade. Todos que passam aqui não estão entendendo direito o que aconteceu. Na sexta-feira passada estava atendendo normalmente. Achei esse comunicado muito estranho, pois não disseram nada. Eu almoçava todo dia nesse lugar. Uma pena, pois a cidade perde muito com isso”, afirmou. Outro que estava surpreso era Rogério José Nithack Silva, patologista clínico, que frequenta o local com sua família há 50 anos. “Vinha aqui desde criança. Meu pai me trazia para tomar um café, comer bolos e pães de ótima qualidade. Achei um absurdo ter fechado. Nunca houve nada de errado e os produtos eram bons. Sempre fui bem atendido e pensei que tivesse morrido alguém. Mesmo que isso tivesse ocorrido, era para manter a Orly aberta, pois faz parte de Campinas, faz parte da história. É como se tivesse tirado uma praça da cidade”, disse. A Orly — além da localização privilegiada no Centro — ficou famosa pelos pães, doces e salgados produzidos de forma artesanal com receitas passadas durante gerações e que se perpetuaram nas mãos de habilidosos padeiros e confeiteiros. Um dos pedidos mais concorridos era a linha de doces premium BoMalla, criada em 2012 para atender a casamentos, aniversários e festas em geral. A BoMalla Pâtisserie tinha uma linha de mais de 20 produtos, desde bolos, doces variados e lembranças. Proprietários detalham fim da operação Os proprietários da Orly alegaram, em nota, que problemas financeiros levaram ao fechamento da panificadora. Os donos da Orly justificaram: “Devido a questões financeiras e baixos resultados, a operação do estabelecimento se tornou inviável, e o grupo optou por encerrar o negócio”. A nota complementa: “Tradicional na cidade, presente no mesmo endereço há 55 anos, a Orly agradece o carinho de todos os clientes que fizeram parte dessa história”. O local empregava aproximadamente 100 funcionários. O gerente da rede, entretanto, Wagner Giovanetti, justificou também que outros motivos levaram à decisão do fechamento da Orly. “A degradação do Centro de Campinas, com o crescimento de pedintes e a falta de segurança, pesou na decisão. Infelizmente houve um aumento da violência na região e pessoas até utilizam a fachada do estabelecimento para atos libidinosos e para fazer as necessidades”, comentou. Quanto à questão financeira, ele disse que o aluguel alto e o custo social elevado, com pagamento de uma carga tributária excessiva, também foram motivos. O gerente destacou que a decisão dos proprietários é irrevogável, mas lembrou que as atividades poderão no futuro ser retomadas com a marca Orly em outro ponto da cidade.

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