PRIMEIRO DIA

‘Operação Sufoco’ autua 74 motoristas e recolhe 55 veículos em Campinas

Mais de 160 pessoas foram abordadas pela PM, que contou com o apoio do CP-Trans de São Paulo

Isadora Stentzler
07/05/2022 às 09:37.
Atualizado em 07/05/2022 às 09:37
Policiais militares abordam os veículos durante a “Operação Sufoco” em avenida movimentada de Campinas (Polícia Civil)

Policiais militares abordam os veículos durante a “Operação Sufoco” em avenida movimentada de Campinas (Polícia Civil)

A “Operação Sufoco”, deflagrada pelo Governo do Estado de São Paulo, começou oficialmente quinta-feira (5) em Campinas e autuou 74 condutores apenas no primeiro dia. Outros 55 veículos foram removidos ao pátio, por irregularidades - a maioria, 54,5% deles eram motocicletas. Foi a primeira vez que a Polícia Militar de Campinas contou com apoio do Comando de Policiamento de Trânsito (CPTran), de São Paulo, na abordagem e recolhimento de veículos. A operação deve seguir por tempo indeterminado. 

Dos 81 condutores abordados, 91% tinham irregularidades na documentação e foram autuados. Em relação aos veículos, dos 82 fiscalizados, 67% foram removidos. Ninguém foi preso. Nesta primeira etapa, a ação se concentrou em dois pontos, um no Cambuí e outro no Jardim São Marcos.

Na mira

O foco da operação no município, assim como na capital paulista, onde a operação foi deflagrada na última quarta-feira (4), é a abordagem de veículos, sobretudo motocicletas, a fim de conter os índices de roubos cometidos por falsos entregadores de deliverys.

A cabeleireira Ana Paula Oliveira Terra, de 35 anos, foi vítima de um desses assaltos na quinta-feira, dia 21 de abril. Ela contou que deixava um barzinho, no bairro Cambuí, quando, ao se aproximar do seu veículo, um motociclista, com mochila de entrega, aproximou-se e anunciou o assalto.

“Eu estava entrando no carro quando um motoqueiro passou e falou: ‘passa a bolsa’. Quando olhei para trás, como minha bolsa estava só em um braço, ele puxou com tudo e saiu. Na hora, não consegui pensar em nada e nem mesmo anotar a placa. Só vi que ele estava com um baú de entrega”, lembra. 

Dentro da bolsa estava o celular da cabeleireira, um iPhone, que ela utilizava para fotografar seus trabalhos e divulgar nas redes sociais. Ela ainda estava pagando as parcelas do aparelho. 

“Demorei para comprá-lo. E ele era um instrumento de trabalho, de divulgação, devido à qualidade da câmera para fazer as fotos. Agora terei que terminar de pagar aquele para poder comprar outro. Fiquei muito frustrada”, desabafou.

De acordo com o tenente-coronel do 8º Batalhão da Polícia Militar de Campinas, Adriano Augusto Leão, esses motociclistas utilizam as mochilas de aplicativo para evitar chamar a atenção das pessoas, já que os serviços de entrega aumentaram em função da pandemia e a desses motoqueiros entregadores ocorre de forma intensa e sem gerar suspeita, inicialmente.

Uma tecnologia que permitirá a identificação dos falsos entregadores é um app que fará a conexão de dados das polícias com os aplicativos de entrega. Por meio dele, os agentes terão mais agilidade em identificar se a pessoa com uma bolsa de entrega é, de fato, um motociclista cadastrado em algum serviço de delivery ou não.

Rota do crime 

A “Operação Sufoco” ainda disponibilizará mais efetivo na rua, com a finalidade de aumentar a sensação de segurança. O tenente-coronel não informou a quantidade de policiais que estarão nas ruas para o cumprimento da operação, mas apontou que serão usadas as Diárias Especiais por Jornada Extraordinária de Trabalho (Dejen) para garantir o trabalho extra. 

A expectativa é a de que policiais de folga recebam esse incremento no salário para atuar no policiamento em horário que excede o expediente. “Como é algo recente, ainda não fui informado sobre quantos homens serão empregados nesse reforço, mas usaremos toda a força disponível na atividade operacional”, garantiu.

O comandante estuda a distribuição dos agentes em áreas mais críticas, a partir da análise dos indicadores. Estão na rota as regiões Central (1º Distrito Policial/SP), Jardins Chapadão (3º DP) e Aeroporto (9º DP), que concentram o maior número de ocorrências na cidade

“O planejamento das nossas operações, via de regra, é direcionado pelos indicadores criminais. Diante dos registros que temos, o policiamento se organiza e concentra onde são registrados os maiores índices. Isso é o que fazem todos os batalhões, que contam com apoio conjunto de todas as forças de segurança do município. Até por isso é fundamental lembrar as pessoas sobre a importância do registro criminal. Às vezes, é um furto de um objeto e a vítima acha que dará muito trabalho, que não vale a pena fazer o registro e, então, esse dado não aparece nas estatísticas. Por isso não tem como mensurar os casos daquela determinada localidade. Para isso, é preciso ter os números mais próximos à realidade daquela área”, apontou. 

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP/SP), o primeiro trimestre deste ano teve 1.448 ocorrências de roubo registradas, correspondendo a 16% casos a mais em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Apenas de furtos de veículos, foram 840 casos, 13% a mais, e roubos de veículos, 500 casos, aumento de 13,8%. 

Segundo o oficial da PM, o aumento acentuado em relação ao ano passado se dá pelo fim da pandemia e a retomada das atividades, o que tem impactado os indicadores. “Quando olhamos a estatística criminal, sobretudo nesse pós-pandemia, é necessário fazer uma análise correta dos números. Se compararmos 2022 com 2021, por exemplo, poderemos ter um entendimento incorreto, acreditando que houve um grande aumento nos indicadores. Mas é preciso destacar que entre 2020 e 2021 estivemos em uma condição diferenciada, com o fechamento do comércio e menos pessoas circulando. Então a análise correta deve tomar como parâmetro o período anterior à pandemia. É por isso que alguns indicadores, com a volta à normalidade, acabam aumentando: como o roubo de veículos, o próprio roubo a transeunte e o furto de veículos. E estes são os focos que devemos trabalhar para diminuir: roubo de veículos, roubo a transeunte e furto de veículos.”

No período citado pelo tenente-coronel, 2020, o primeiro trimestre registrou 1.479 casos de roubos, 549 roubos de veículos e 786 furtos de veículos. A expectativa do oficial é a de que, com a operação, os indicadores caiam. 

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