Nenhum dos 80 passageiros se feriu; nos últimos 15 dias, outras três ocorrências semelhantes foram registradas na cidade
Ônibus da mesma linha (332) passa pelo exato local do princípio de incêndio horas após o ocorrido: ainda não há informações sobre as possíveis causas (Kamá Ribeiro)
Um ônibus do transporte público de Campinas teve um princípio de incêndio na manhã de ontem, por volta das 5h15, no cruzamento das avenidas Brasil e Barão de Itapura. Em 15 dias, é a quarta ocorrência semelhante no município. O veículo articulado de prefixo 3243 operava na linha 332 e transportava cerca de 80 passageiros, mas todos conseguiram sair a tempo e ninguém ficou ferido. A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), disse que ainda não há informações sobre possíveis causas do fogo.
No dia 25 de junho, o ônibus prefixo 300 da linha 362, por volta das 13h10, começou a subir a Rua Major Solon logo ao sair da Avenida Orosimbo Maia. Foi quando o motorista do veículo, Daniel Tartani, ouviu um estalo vindo da parte debaixo da viatura. O incêndio começou na sequência e consumiu a viatura em questão de minutos, atingindo também três carros que estavam estacionados nos arredores. Ninguém ficou ferido.
Uma semana antes, em 17 de junho, um ônibus sem passageiros da linha BRT25, prefixo 2.540, pegou fogo na Rodovia Anhanguera (SP-330). O veículo tem inspeção veicular válida até 30 de novembro deste ano, segundo a Emdec. Dois dias depois, em 19 de junho, um ônibus reserva da empresa Itajaí, prefixo 2.963, pegou fogo enquanto estava estacionado dentro do Terminal BRT Campo Grande. Nesse caso, o veículo tem inspeção veicular válida até 31 de dezembro deste ano.
Por conta das ocorrências, a Emdec iniciou no dia 26 do mês passado a inspeção emergencial de toda a frota do sistema de transporte público coletivo. De acordo com a empresa, os 1.086 veículos operados pelas empresas concessionárias e pelas cooperativas do sistema alternativo serão vistoriados. Participam das inspeções três equipes da Emdec distribuídas em períodos distintos, entre 9h e 16h. Elas vão até os pátios das empresas de transporte para realizar o serviço nos veículos que não estão em operação naquele momento. O sistema elétrico dos ônibus é o principal foco das inspeções de emergência. Serão verificados componentes ligados ao motor de partida; bateria e compartimento de bateria; vazamento de óleo lubrificante e combustível; isolamento térmico do motor e isolamento do escapamento.
De acordo com a Emdec, foram inspecionados 97 veículos das empresas VB1, VB3, Campibus, Itajaí, Altercamp, Cooperatas, Coopcamp e Onicamp entre os dias 25 de junho e 1˚ de julho. Desses, sete foram retirados de operação e passaram por uma nova inspeção ontem, quando também ocorreram inspeções nas empresas Altercamp, Cooperatas e Cotalcamp. A empresa afirmou que a medida é preventiva e busca evitar que mais situações de incêndio sejam registradas, sem dar mais detalhes sobre as vistorias realizadas. O ônibus que teve princípio de incêndio ontem ainda não havia passado pela inspeção.
“É uma vergonha a situação da renovação da frota de ônibus”, criticou o vereador Gustavo Petta (PCdoB). Ele é membro titular da Comissão de Mobilidade Urbana e Planejamento Viário (CMUPV), da Câmara Municipal. De acordo com o parlamentar, a maioria dos ônibus possui idade muito acima da média de cinco anos prevista no contrato atual. “São panes elétricas, problemas no câmbio, problemas no freio, colocando em risco a vida de usuários, trabalhadores do transporte e de pessoas no entorno.” Petta afirmou que as medidas de fiscalização e cobrança tomadas pela Prefeitura contra as empresas são insuficientes e limitadas. “A Prefeitura precisa agir com muito mais rigor, multando, punindo e exigindo que as empresas de ônibus tratem com respeito os usuários do transporte público da cidade.”
Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros da Região Metropolitana de Campinas (SetCamp) informou que o motorista notou o princípio de incêndio na parte inferior da "sanfona" do ônibus articulado. Ele parou o ônibus, acionou o Corpo de Bombeiros e utilizou o extintor para controlar o fogo, debelado após a chegada do Corpo de Bombeiros. Foi aberta sindicância para apurar a causa do incidente.
Também em nota, a Emdec afirmou que a Administração já toma as medidas previstas em lei para que o serviço seja prestado com qualidade. Somente no primeiro quadrimestre deste ano foram 14,4 mil autuações aplicadas às empresas operadoras das linhas municipais, motivadas por problemas na prestação do serviço. Além disso, há fiscalização diária da operação das linhas municipais em campo e inspeções veiculares semestrais em toda a frota do transporte público coletivo, procedimento que verifica mais de 840 itens. A Emdec e a Secretaria de Transportes (Setransp) reconheceram o envelhecimento de parte da frota atual e a necessidade de renovação de toda a frota do transporte público coletivo, que está atrelada à nova licitação. “Até por isso, a Administração fechou um acordo com as empresas para a substituição de 50 ônibus por veículos novos. Desses, 30 estão circulando e outros 20 estão previstos.”
Para a integrante do Conselho Municipal de Mobilidade Urbana (CMMU), Andréia Marques, a situação não pode ser considerada normal. “Todo serviço público, ainda mais o que transporta vidas, deve ter sua manutenção preventiva garantida e bem fiscalizada”, pontuou. Para ela, o argumento de que a frota é velha e que será trocada durante a licitação não é desculpa para o mau gerenciamento de risco e desistência do usuário. A conselheira considerou que o ideal seria que as empresas cujos ônibus tiveram princípios de incêndio apresentassem o seu plano de manutenção e um perito independente fosse designado para a identificação da causa.
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram.