VALOR HISTÓRICO E AMBIENTAL

ONG pede tombamento de 2,6 mil canteiros e 27 ruas do Cambuí

Documento protocolado no Condepacc será ainda analisado pela Administração

Thiago Rovêdo/ Correio Popular
06/04/2022 às 18:05.
Atualizado em 06/04/2022 às 18:05
A ONG Associação Movimento Resgate o Cambuí pediu o tombamento dos canteiros, já que seria impossível fazer esse processo com as árvores por se tratarem de seres vivos (Diogo Zacarias)

A ONG Associação Movimento Resgate o Cambuí pediu o tombamento dos canteiros, já que seria impossível fazer esse processo com as árvores por se tratarem de seres vivos (Diogo Zacarias)

A ONG Associação Movimento Resgate o Cambuí protocolou, no Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), um pedido de tombamento de 27 ruas de paralelepípedos do bairro. No documento também está incluído o tombamento de 2,6 mil canteiros de árvores do Cambuí. A Administração informou que o assunto será analisado.

Segundo a Associação, os pedidos foram feitos por questões de valor histórico e porque os canteiros de árvores são patrimônios ambientais do bairro. No documento, de 28 páginas, são apontadas ruas como Maria Monteiro, Santa Cruz, Santos Dumont, Sampainho, entre outras.

"A gente entende a importância histórica dos paralelepípedos. Não é um pedido inédito em se tratando desse tipo de piso. A preservação dos paralelepípedos é necessária por sua importância como patrimônio histórico, ao fazer parte da formação do próprio bairro, bem como da memória das pessoas. Além disso, tem a importância térmica, a drenagem, entre outros", afirmou Tereza Penteado, presidente da ONG.

Em relação às arvores, a Associação explicou que pediu o tombamento dos canteiros onde elas ficam, já que da árvore em si é impossível fazer esse processo, pois se tratam de seres vivos. Além disso, a entidade quer seguir uma lei municipal que determina 100 árvores por quilômetro de calçada.

"O Cambuí é o único bairro que tem um levantamento e um inventário correto de todas as árvores. Sabemos quais árvores existem, a altura, o estado delas, etc. Ele foi feito em 2007, 2012, 2017 e agora vamos fazer o quarto inventário. Hoje, o Cambuí tem 2.676 árvores. Como deveriam ser mais de 8 mil, faltam mais de 6 mil árvores para cumprir a lei", explicou a presidente.

Procurada, a Secretaria de Cultura e Turismo informou que recebeu os protocolos da Associação Movimento Resgate o Cambuí e encaminhou-os para a Coordenadoria Departamental de Patrimônio Cultural (CDPC) que fará a análise dos pedidos. O rito seguinte é enviar a análise do CDPC para o Condepacc, que tem a competência de votar se há pertinência ou não para a abertura do pedido de tombamento.

Maria Monteiro

Uma das 27 vias que a Associação Resgate o Cambuí reivindica o tombamento é a Maria Monteiro, uma das mais famosas e movimentadas ruas localizadas no 'coração' do bairro. Com 1,2 quilômetro de extensão, a rua é basicamente comercial, mas ainda mantém prédios residenciais de alto padrão. Ela recebe diariamente comerciantes, clientes e moradores de classe média alta. Aqui se encontra a Paróquia Nossa Senhora das Dores, uma das principais igrejas situadas no bairro e que foi inaugurada em 1937.

Após a compra do terreno pela Diocese de Campinas, foi necessária a abertura da Avenida Coronel Silva Teles. As obras de construção, incluindo o projeto arquitetônico e a arte final, duraram um pouco mais de dois anos. Com a inauguração, a igreja foi desmembrada da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, à qual pertencia. É aqui também que estão localizados dois importantes clubes sociais da cidade.

A rua leva o nome da primeira cantora lírica brasileira, homenageada pela Câmara Municipal de Campinas em 1923.

Zica, como era conhecida pelos familiares, nasceu em 1870. Durante a infância, cantava em coros de igreja e na escola. Em 1883, recebeu elogios da imprensa após se apresentar na festa de inauguração da Igreja Nossa Senhora da Conceição, a Matriz Nova, que depois receberia o nome de Catedral Metropolitana de Campinas.

Ainda adolescente, em 1886, encantou o casal imperial do Brasil, Dom Pedro II e a imperatriz Teresa Cristina, durante uma apresentação na escola, e conseguiu uma bolsa de estudos da imperatriz e viajou para a Europa. No continente europeu, se formou maestrina, artista de canto e se apresentou em países como Itália, França, Inglaterra e Espanha.

A cantora fazia parte da família Monteiro, que tinha, entre seus membros, músicos tradicionais.

Em Jundiaí, foi aluna de Joaquim Romão da Silva Prado. Em Campinas, recebeu aulas de Emilio Giorgetti, professor do Colégio Florence, onde estudou. Maria Monteiro era prima do maestro Carlos Gomes.

Aliás, no monumento-túmulo do maestro e compositor Carlos Gomes, localizado na Praça Bento Quirino, no Centro, está a escultura de Maria Monteiro, feita em 1905.

Apesar do sucesso, Maria Monteiro abandonou a carreira para se dedicar ao lar. Aos 27 anos, no entanto, morreu em decorrência de uma infecção na garganta e nos pulmões.

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