Suçuarana precisou ser sedada pelos socorristas até ser devolvida ao habitat
Bombeiros carregam caixa com a onça parda suçuarana sedada após ter sido retirada de uma valeta nos fundos do hospital Madre Theodora (Kamá Ribeiro)
Uma onça parda suçuarana foi resgatada do hospital Madre Theodora, no Parque das Universidades, por policiais militares ambientais no início da tarde de segunda-feira (22). Ela estava em uma valeta, nos fundos do estabelecimento, e estima-se que ele tenha entrado ainda pela manhã, a partir de um corredor lateral. Para retirá-lo do local, foi necessário o uso de sedativos. O animal não ficou ferido e, após o resgate, foi devolvido em segurança para o habitat.
Trata-se de uma fêmea de médio porte e com peso aproximado de 40 a 45 quilos. Devido à movimentação no local, o felino se assustou e se escondeu em uma valeta, nos fundos do prédio. Ela não circulou pelas áreas comuns da maternidade e a presença dela também não impactou nos serviços prestados. Participaram do resgate oito bombeiros, três policiais ambientais, dois veterinários e três auxiliares.
As ações para retirar a onça começaram ainda pela manhã, por volta das 11h, após funcionários do hospital perceberem a presença dela e acionarem o Corpo de Bombeiros. "A gente recebeu o chamado de que uma onça passou pelo muro e entrou num buraco. Como a gente não tem condições de capturar ela acordada, foi feita a sedação dela. Como ela é de grande porte, fomos sedando aos poucos, até conseguirmos manipulá-la com segurança. Ela estava bastante acuada. Ela conseguiria sair sozinha, mas por conta do movimento acabou se escondendo", explicou o tenente Rafael Vieira, do Corpo de Bombeiros.
Segundo estima a Polícia Militar Ambiental (PMA) e o veterinário de animais exóticos Breno Martins Jakowski, a onça veio de uma distância de cerca de dois quilômetros, onde fica a mata Santa Cândida. "Tem bastante onça na região e provavelmente ela é de um fragmento de mata que fica na região da Unicamp [Universidade Estadual de Campinas]. Mas há bastante onça parda na região. Com cada vez mais frequência, elas acabam vindo para as nossas casas. Hoje [ONTEM]ela veio para o hospital. Mas está 100% saudável. É uma fêmea jovem", explicou o veterinário.
A onça foi colocada dentro de uma caixa e coberta por um pano. Para retornar ao habitat, foi feito o reversor da sedação, até ela acordar e poder retornar em segurança. Segundo a PMA, o animal foi devolvido às 14h de segunda-feira (22) a cerca de 1,5 quilômetro da maternidade, possivelmente na região próxima de onde veio.
Curiosos acompanham resgate da onça parda nos fundos do hospital (Kamá Ribeiro)
Duas onças
Segundo os moradores do entorno da maternidade, não foi a primeira vez que uma onça foi vista na região. O motorista Fabio Sofiato, de 48 anos, disse que já encontrou duas delas, por duas vezes, quando voltava do trabalho, por volta da meia-noite.
No celular, ele guarda uma foto feita à noite, onde é possível ver uma sombra, que seria do bicho. "Mas são duas e elas andam juntas", aponta Sofiato. A última vez que ele disse que viu o animal foi no ano passado. "Vi elas pularem a tela. Na hora pensei que fosse um cachorro, mas achei estranho porque era muito grande e cachorro não pula naquela altura. Quando olhei bem eram duas onças pardas. Passou uma e depois passou a outra, bem na minha frente. Elas ficaram na praça. Fiquei pertinho delas, vendo de dentro do carro. Até parei para tirar foto. São muito bonitas", conta.
Questionado se ele teria medo de encontrá-la, disse que não. "É a gente que está invadindo o espaço delas. Estamos desmatando tudo aqui em volta, mas é tranquilo. Elas vêm, andam, e depois somem".
A comerciante Gyovanna Fernandes Araújo dos Santos, de 19 anos, que tem um trailer em frente à maternidade onde vende lanches e bebidas, também disse que já viu os animais, por duas vezes. "Estavam nas ruas aqui do bairro. E elas andam em casal, um macho e uma fêmea, sempre andam juntas. Elas parecem bem tranquilas, não parecem que vão atacar, mas a gente não chega perto", disse, citando que também já viu outras espécies de animais como macacos e tatus na região.
Animais solitários
Segundo explica a doutora em Ecologia Eleonore Zulmara Freire Setz, as onças pardas brasileiras são animais solitários e que costumeiramente circulam pela região. Pelo comportamento da espécie, quando nasce os filhotes, a fêmea tende a ficar com eles até aprenderem a caçar, deixando-os sozinho depois.
A chegada desses animais ao ambiente urbano, aponta a especialista, tem muito a ver com a falta de caminhos para esses animais cruzarem. "São animais que não querem encontrar o ser humano", aponta. "Por isso a importância da manutenção de passagens de fauna, corredores ambientais e cuidado com os rios. Por que isso cria caminhos para esses animais seguirem. Se eles estão numa mata e a mata não tem ligação direta com outras matas, ele acaba atravessando pela cidade", aponta.
Em relação aos riscos da presença desse animal para o ser humano, ela aponta que não há muitos registros de ataques, a não ser em casos que fique encurralado ou acuado. "Mas em princípio, é o tipo do bicho que prefere não se meter em confusão, por assim dizer", explica.
Segundo o sargento Marinho, da PMA, caso alguém encontre uma onça parda, deve ser acionada as forças de segurança para acompanhamento do animal. "Não se aproxime e deixe ela seguir seus instintos, dentro da normalidade. Caso esteja machucada, presa, ou impossibilitada de locomoção ou colocando em perigo o ser humano, é necessário acionar a Polícia Ambiental ou o Corpo de Bombeiros para fazer esse resgate", pontuou.