IMIGRAÇÃO

Olimpíadas podem fazer Campinas uma porta de entrada para terroristas

A descoberta recente de duas pessoas que adulteraram passaportes da África do Sul para pedir refúgio na região elevou o alerta das autoridades locais

Fábio Gallacci
26/04/2015 às 21:54.
Atualizado em 23/04/2022 às 15:29
Militares e policiais federais fazem operação de segurança no Maracanã para a Copa do Mundo, esquema que também será utilizado para as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 ( Agência Brasil )

Militares e policiais federais fazem operação de segurança no Maracanã para a Copa do Mundo, esquema que também será utilizado para as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 ( Agência Brasil )

Campinas pode ser uma porta de entrada alternativa para o terrorismo às vésperas dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. A descoberta recente de duas pessoas que adulteraram passaportes da África do Sul para pedir refúgio na região — possivelmente parte de um esquema maior de venda de documentos para interessados de outras nacionalidades — elevou o alerta das autoridades locais. Para o delegado da Polícia Federal Jessé Coelho de Almeida, seria preciso ter um maior controle de quem entra no País. “Existe uma preocupação. Nós temos que saber quem está aqui. Temos que nos preocupar com o futuro do mundo, da Olimpíada... Podemos imaginar que esse caminho (da compra e adulteração de passaportes originais de terceiros) já seria uma forma de terroristas se estabelecerem aqui”, alerta o delegado. “Os nossos órgãos de análise estão trabalhando em cima disso. Temos, em Brasília, uma divisão antiterrorismo que está sempre atenta a esse tipo de questão. As informações de Campinas também foram repassadas”, informa. Almeida ainda lembra do perfil histórico do País, de ser uma nação aberta a quem esteja necessitando de abrigo, mas que isso precisa de uma melhor avaliação. “O Brasil tem, por princípio constitucional, o costume de abrigar refugiados e dar apoio a pessoas que tenham algum tipo de perseguição. Esse princípio é respeitado, mas, muitas vezes, ele costuma ser aplicado de uma forma muito ampla. Não existe um controle. Talvez isso precise ser aprimorado”, diz. Ainda segundo o delegado, um controle mais rígido é necessário para que venham para cá indivíduos que realmente tenham boas intenções; que não tenham um passado criminoso. “A maioria dos imigrantes é bem-intencionada, quer se estabelecer. Mas nós temos que ter o cuidado e não podemos aceitar uma pessoa que não sabemos quem é. O que tem acontecido ultimamente, e isso não é só com a delegacia de Campinas, é que algumas pessoas chegam com passaportes falsificados. A nossa função como polícia é identificar pessoas que não mereçam essa atenção”, afirma. “Provavelmente, existem grupos que transportam essas pessoas, os chamados coiotes, que oferecem um serviço pago — e muito caro — para dar uma nova identidade ao indivíduo e colocá-lo no Brasil”, explica Almeida. A autoridade policial ressalta que uma pessoa com identidade falsa pode facilmente fugir de suas responsabilidades com a Justiça de seu país de origem. Caso o documento falso passe pelo crivo da PF sem ser descoberto, o estrangeiro pode entrar com um pedido de refúgio, por exemplo, e um simples protocolo dessa solicitação é suficiente para tirar um CPF e a carteira de trabalho. “É uma questão de definição política. Quantas pessoas o País quer e pode receber? A abertura generalizada pode criar dificuldades, inclusive, no mercado interno. Não tem emprego para tantas pessoas. Já é difícil para quem está aqui”, comenta o delegado. Tráfico de pessoasA atuação ilegal dos chamados coiotes torna a situação ainda mais preocupante, já que o tráfico de pessoas em troca de grandes quantias de dinheiro alimenta a movimentação de milhares de pessoas de forma totalmente irregular. Sabe, por exemplo, que alguns haitianos que vieram para o Brasil de maneira ilegal chegaram a desembolsar cerca de 5 mil dólares (R$ 15 mil) para os coiotes. No final de março, dois homens foram até a sede da Polícia Federal em Campinas para pedir a regularização de suas permanências na região. Ambos estavam com passaportes falsos oriundos da África do Sul e as fraudes foram percebidas. Os documentos apresentados foram emitidos originalmente com nome e foto de outra pessoa e depois alterados para constar foto e nome declarados pelos investigados. Ao tomar depoimento desses homens, a PF acredita que um seja de Gana, no continente africano, e o outro do Haiti. O primeiro possuía um documento com uma falsificação mais refinada, enquanto o segundo apresentou uma fraude grosseira, com sua foto descolando do papel e deixando à mostra a imagem original por baixo. Com a comprovação da falsidade, os estrangeiros foram presos em flagrante. O Código Penal prevê pena de dois a seis anos de reclusão e multa. Após responder ao processo e cumprir eventual pena, eles deverão ser expulsos do território nacional.SAIBA MAISUm casal de congoleses foi preso na delegacia da Polícia Federal de Campinas em março, quando dava continuidade ao pedido de refúgio acompanhado dos filhos de 3 anos e 1 ano. De acordo com a PF, S.K.K.N., de 34 anos, e o filho mais velho estavam com vistos brasileiros temporários falsificados em seus passaportes. Ainda segundo a polícia, C.M.E., 28 anos, companheira de N., trabalhava na Embaixada Brasileira em Kinshasa, no Congo, justamente no setor que emite visto para estrangeiros que pretendem viajar e permanecer temporariamente no Brasil, e possivelmente falsificou os vistos em conluio com o marido. O casal foi preso por uso de documento falso e, se condenado, pode cumprir pena de dois a seis anos de reclusão e multa. Os filhos ficaram sob a guarda de uma tia, mas sua localização não foi divulgada.

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