Dos 239 leitos de UTI nas redes pública e particular, 196 estão ocupados
Funcion?ria do SUS durante vacina??o no Centro de Imuniza??o do CAIC Vila Uni?o, na regi?o Sudoeste de Campinas (Importação)
O recorde de casos de covid-19 no estado de São Paulo, o aumento na taxa de internações e a chegada de uma variante do novo coronavírus levaram especialistas a recomendar que sejam implementadas medidas mais rígidas de isolamento social para refrear o crescimento no número de infectados.
As taxas de ocupação dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) são de 70,7% na Grande São Paulo e 70,9% no Estado, segundo a Secretaria de Saúde do Estado. Em Campinas, o número é mais alarmante: dos 239 leitos de UTI exclusivos para pacientes com covid-19 nas redes pública e particular, 196 estão ocupados, o que corresponde a 82%. Há 43 leitos livres somando as redes pública e particular.
"A diferença entre 80% e 100% de leitos ocupados é nada", afirma o professor e pesquisador do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) da Unicamp, Paulo José da Silva e Silva. Segundo ele, quando a ocupação atinge 80%, em apenas três dias pode-se perder o controle. É muito rápida a evolução e já representa um risco alto de colapso. "A ciência presta a esse papel de dizer qual o tipo de cenário vai acontecer, justamente para evitar que se chegue a um cenário como o de Manaus", explica Silva.
O mês de janeiro bateu recorde de novos casos de Covid-19 no estado em comparação com todos os meses da pandemia, e chegou à soma de 268.997 infecções confirmadas até anteontem. Já são quase sete mil novos casos a mais que em agosto, que havia registrado um total de 262.038 e até então era o mês de maior número de infectados. "Não dá para fingir que não está acontecendo nada!", alerta o professor.
O que chama a atenção é a rapidez com que o vírus está se espalhando, já que hoje atinge a mesma velocidade de propagação de maio de 2020. Desde a segunda semana de janeiro, a média móvel de sete dias de novos óbitos ultrapassa 200 mortes por dia. Este patamar é similar ao verificado entre junho e agosto, meses de pico da primeira onda da pandemia.
A diferença é que hoje temos muito mais doentes ativos, ou seja, pessoas que estão transmitindo a doença. Em maio, eram 25 mil doentes ativos e atualmente são 150 mil, segundo informação do pesquisador.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, a nova variante do coronavírus foi identificada com a confirmação de três casos no estado e está se disseminando. Segundo o cientista, essa nova variante pode ter maior potencial de transmissão.
A recomendação de isolamento social rígido para conter a escalada da doença, é inevitável, segundo pesquisadores e infectologistas, pois a pandemina se encontra na fase laranja no estado, e na fase vermelha das 20h às 6h. "Falta pouco para voltarmos a ficar totalmente na fase vermelha", acredita Silva. Ele diz que sempre procura enxergar o lado bom dos fatos, mesmo que sejam das tragédias como a de agora. "Ficamos um ano sem perspectivas, fechados em casa, com medo de tudo isso, sem saber o que iria acontecer", explica.
"Agora nós temos a vacinas, feitas em tempo recorde. Temos a arma efetiva contra a doença, só é preciso paciência para que todos sejam vacinados e a vida volte ao normal. Com o imunizante, acredito que muitas vidaas serão salvas, em um período de seis meses”, diz o pesquisador.
Já a infectologista da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Raquel Stucchi, afirma que discorda da maioria das pessoas da área e defende soluções "menos simplistas", como diz.
Segundo Raquel Stucchi, o fato de o presidente não ter apoiado a ciência criou um grau de dificuldade por parte da população brasileira em entender a necessidade de obedecer às medidas preventivas. O resultado disso foi à longa duração do isolamento social que contribuiu para o enfraquecimento da economia e uma demora para o retorno à vida normal, em comparação a outros Países. Por isso, Stucchi acredita que depois de quase um ano de isolamento social, de comércio fechado e medidas restritivas, não é possível uma solução simples para o problema: "Deveríamos nos juntar: infectologistas, médicos, sanitaristas, sindicatos (de patrões e empregados), economistas, gestores e governo para apresentar uma solução mais eficiente", explicou. "Simplesmente fechar tudo nesse momento em que não há mais auxílio emergencial, por exemplo, resultará em um aumento do desemprego e uma violência urbana".
Segundo Raquel, o caminho “é aumentar o tempo das lojas abertas” e diluir , o número de pessoas nas ruas em vez de fechar o comércio.
Os patrões entrariam em acordo com sindicatos de trabalhadores para suspender o pagamento de horas extras, por exemplo, medidas que, de acordo com Raquel, reduziriam demissões, já que “estamos em situação de excessão.”