ALERTA VERMELHO

Ocupação de leitos de UTI em Campinas é alarmante

Dos 239 leitos de UTI nas redes pública e particular, 196 estão ocupados

Moara Semeghini/ Correio Popular
29/01/2021 às 13:38.
Atualizado em 22/03/2022 às 09:51
Funcion?ria do SUS durante vacina??o no Centro de Imuniza??o do CAIC Vila Uni?o, na regi?o Sudoeste de Campinas (Importação)

Funcion?ria do SUS durante vacina??o no Centro de Imuniza??o do CAIC Vila Uni?o, na regi?o Sudoeste de Campinas (Importação)

O recorde de casos de covid-19 no estado de São Paulo, o aumento na taxa de internações e a chegada de uma variante do novo coronavírus levaram especialistas a recomendar que sejam implementadas medidas mais rígidas de isolamento social para refrear o crescimento no número de infectados.

As taxas de ocupação dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) são de 70,7% na Grande São Paulo e 70,9% no Estado, segundo a Secretaria de Saúde do Estado. Em Campinas, o número é mais alarmante: dos 239 leitos de UTI exclusivos para pacientes com covid-19 nas redes pública e particular, 196 estão ocupados, o que corresponde a 82%. Há 43 leitos livres somando as redes pública e particular.

"A diferença entre 80% e 100% de leitos ocupados é nada", afirma o professor e pesquisador do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc) da Unicamp, Paulo José da Silva e Silva. Segundo ele, quando a ocupação atinge 80%, em apenas três dias pode-se perder o controle. É muito rápida a evolução e já representa um risco alto de colapso. "A ciência presta a esse papel de dizer qual o tipo de cenário vai acontecer, justamente para evitar que se chegue a um cenário como o de Manaus", explica Silva.

O mês de janeiro bateu recorde de novos casos de Covid-19 no estado em comparação com todos os meses da pandemia, e chegou à soma de 268.997 infecções confirmadas até anteontem. Já são quase sete mil novos casos a mais que em agosto, que havia registrado um total de 262.038 e até então era o mês de maior número de infectados. "Não dá para fingir que não está acontecendo nada!", alerta o professor.

O que chama a atenção é a rapidez com que o vírus está se espalhando, já que hoje atinge a mesma velocidade de propagação de maio de 2020. Desde a segunda semana de janeiro, a média móvel de sete dias de novos óbitos ultrapassa 200 mortes por dia. Este patamar é similar ao verificado entre junho e agosto, meses de pico da primeira onda da pandemia.

A diferença é que hoje temos muito mais doentes ativos, ou seja, pessoas que estão transmitindo a doença. Em maio, eram 25 mil doentes ativos e atualmente são 150 mil, segundo informação do pesquisador.

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, a nova variante do coronavírus foi identificada com a confirmação de três casos no estado e está se disseminando. Segundo o cientista, essa nova variante pode ter maior potencial de transmissão.

A recomendação de isolamento social rígido para conter a escalada da doença, é inevitável, segundo pesquisadores e infectologistas, pois a pandemina se encontra na fase laranja no estado, e na fase vermelha das 20h às 6h. "Falta pouco para voltarmos a ficar totalmente na fase vermelha", acredita Silva. Ele diz que sempre procura enxergar o lado bom dos fatos, mesmo que sejam das tragédias como a de agora. "Ficamos um ano sem perspectivas, fechados em casa, com medo de tudo isso, sem saber o que iria acontecer", explica.

"Agora nós temos a vacinas, feitas em tempo recorde. Temos a arma efetiva contra a doença, só é preciso paciência para que todos sejam vacinados e a vida volte ao normal. Com o imunizante, acredito que muitas vidaas serão salvas, em um período de seis meses”, diz o pesquisador.

Já a infectologista da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Raquel Stucchi, afirma que discorda da maioria das pessoas da área e defende soluções "menos simplistas", como diz.

Segundo Raquel Stucchi, o fato de o presidente não ter apoiado a ciência criou um grau de dificuldade por parte da população brasileira em entender a necessidade de obedecer às medidas preventivas. O resultado disso foi à longa duração do isolamento social que contribuiu para o enfraquecimento da economia e uma demora para o retorno à vida normal, em comparação a outros Países. Por isso, Stucchi acredita que depois de quase um ano de isolamento social, de comércio fechado e medidas restritivas, não é possível uma solução simples para o problema: "Deveríamos nos juntar: infectologistas, médicos, sanitaristas, sindicatos (de patrões e empregados), economistas, gestores e governo para apresentar uma solução mais eficiente", explicou. "Simplesmente fechar tudo nesse momento em que não há mais auxílio emergencial, por exemplo, resultará em um aumento do desemprego e uma violência urbana".

Segundo Raquel, o caminho “é aumentar o tempo das lojas abertas” e diluir , o número de pessoas nas ruas em vez de fechar o comércio.

Os patrões entrariam em acordo com sindicatos de trabalhadores para suspender o pagamento de horas extras, por exemplo, medidas que, de acordo com Raquel, reduziriam demissões, já que “estamos em situação de excessão.”

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