POLÊMICA ACIRRADA

Ocupação de imóvel provoca controvérsia em Campinas

Álvaro Cesar Iglesias, proprietário, chamou a PM para tentar desocupar a casa

Da Redação
05/05/2023 às 09:54.
Atualizado em 05/05/2023 às 14:20
Representantes do Movimento de Mulheres Olga Benário fazem um mutirão para retirar o lixo e o entulho do imóvel privado abandonado na Rua Delfino Cintra, no bairro Botafogo, em Campinas (Rodrigo Zanotto)

Representantes do Movimento de Mulheres Olga Benário fazem um mutirão para retirar o lixo e o entulho do imóvel privado abandonado na Rua Delfino Cintra, no bairro Botafogo, em Campinas (Rodrigo Zanotto)

A ocupação de um imóvel na Rua Delfino Cintra, no bairro Botafogo, em Campinas, está sendo alvo de polêmica entre ativistas sociais e o proprietário do local, o empresário Álvaro Cesar Iglesias, que acionou a Polícia Militar (PM) para que fosse feita a desocupação. Segundo ele, a propriedade está sem uso há um ano, mas possui planos futuros para a utilização do espaço. Por outro lado, representantes do Movimento de Mulheres Olga Benário, instalados no imóvel desde o dia 29 de abril, relataram que a casa está abandonada há quase 10 anos. Segundo uma das lideranças do movimento, Marta Fontenelle, quando o grupo chegou ao imóvel sequer havia uma placa de locação na fachada. O grupo tem a intenção de utilizar o espaço para o acolhimento de vítimas de violência e também como um alerta para o poder público.

Iglesias disse que tomou conhecimento da ocupação na quarta-feira, dia 3. "Os vizinhos do imóvel me avisaram que ele havia sido invadido. Fui até o local e conversei com dois invasores, um dos quais se identificou como Cadu. Avisei que se tratava de propriedade privada e pedi que se retirassem. Disseram que não iriam desocupar e, então, acionei a PM", explicou. No mesmo dia que recebeu o telefonema, o empresário foi até o local para certificar-se da informação. 

Após constatar a ocupação, o proprietário disse que ficou preocupado. "Acho muito importante a tolerância ideológica. Acredito que há espaço para todas as ideologias em um país democrático, mas não pode haver espaço para extremismos que pregam a extinção da propriedade privada e, portanto, o mais importante pilar da economia de uma nação. Tem que ser muito mal intencionado quem diz que está lutando pelos menos favorecidos, mas sabe perfeitamente que está lutando contra eles, pois ataca os empresários e proprietários, que garantem a grande massa de empregos e de salários."

O empresário alegou que a razão de o imóvel não estar sendo utilizado para nenhum fim é a crise financeira gerada na pandemia. "As dificuldades financeiras trazidas pelo 'fecha-tudo' atingiram muitas famílias, que acabaram buscando imóveis de menor aluguel, na periferia. Mas a locação do imóvel tem sido anunciada em diversas imobiliárias e esperamos que em breve volte a ser ocupado de forma legítima", finalizou Iglesias que afirmou que o imóvel está desocupado há um ano.

Por sua vez, os atuais ocupantes do local, ativistas do Movimento de Mulheres Olga Benário, afirmaram que está vago há cerca de 10 anos. Informação revelada pelos vizinhos e que eles constataram pela quantidade de lixo. "Encontramos o imóvel coberto de lixo e entulhos, com fezes, paredes quebradas, janelas e portas semi abertas, sem fiação elétrica e depredações em toda parte hidráulica", revelou Marta Fontenelle. A líder disse que a escolha do local se deu em razão das condições de abandono, pois, segundo ela, ele não estava cumprindo o papel social. A comunidade no entorno do prédio está oferecendo suporte através de doações para auxiliar a casa de acolhimento.

Com atuação desde 2021, o movimento tem operado na denúncia da situação da violência contra as mulheres em diversos espaços públicos e institucionais. "Diante da alta demanda, resolvemos criar em 2022 uma Rede de Apoio, a Rede de Apoio Maria Lúcia Petit, que desde o ano passado se organiza com voluntárias para acolher mulheres que sofrem violência". Dessa forma, o imóvel ocupado na Rua Delfino Cintra servirá como posto para ampliar o acolhimento das mulheres que sofrem violência.

"O Movimento Olga Benario atua na cidade há mais de 3 anos e vem tentando construir coletivamente uma alternativa ao contexto de violência contra as mulheres na cidade", disse Marta. Segundo a ativista, Campinas lidera os casos de violência e feminicídio no Estado e não oferece políticas públicas para combater.

Apoio do Poder Legislativo

O vereador Paulo Bufalo (PSOL) apoia o movimento e foi acionado pelos ativistas no dia que o proprietário esteve no local. "Estava na Câmara e fui até lá levar minha solidariedade. Quando estava saindo, já na praça, o proprietário me abordou. Ele me pediu para que eu me identificasse, disse que não me conhecia. O alertei que ele me devia respeito e que ele poderia estar incorrendo em desacato de autoridade e mesmo assim ele continuou com xingamentos", contou.

Diante disso, Bufalo fez um boletim de ocorrência. "Relatei minha experiência inusitada, para não dizer desagradável, com esse senhor, que sequer sabia o número do imóvel que ele se dizia proprietário. Como desdobramento, eu espero que consigamos consolidar o projeto inaugurado por essas mulheres", encerrou.

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