drama urbano

Ocupações oferecem risco em Campinas

Assim como em São Paulo, onde um edifício ocupado por sem-teto pegou fogo e desabou nesta semana, Campinas também tem seus esqueletos urbanos habitados por centenas de famílias expostas aos mesmos riscos

Renato Piovesan
renato.piovesan@rac.com.br
03/05/2018 às 08:20.
Atualizado em 22/04/2022 às 03:52
Prédio na Rua Alberto Ferraz de Abreu, em frente a uma praça no Guanabara, está abandonado, mas ocupado (Renato Piovesan)

Prédio na Rua Alberto Ferraz de Abreu, em frente a uma praça no Guanabara, está abandonado, mas ocupado (Renato Piovesan)

Assim como em São Paulo, onde um edifício ocupado por sem-teto pegou fogo e desabou nesta semana, Campinas também tem seus “esqueletos urbanos” habitados por centenas de famílias expostas aos mesmos riscos da tragédia na capital paulista. A reportagem do Grupo RAC percorreu diversos pontos da cidade ontem e encontrou pelo menos quatro prédios inacabados ou abandonados que viraram moradia improvisada para famílias que estão na fila de espera da Companhia de Habitação Popular (Cohab) por casa própria. De acordo com a Secretaria de Habitação, cerca de 38 mil famílias de Campinas aguardam por um imóvel atualmente. Os dados mais recentes ainda dão conta que o município tem 16 áreas de ocupação, a maioria em casas ou estabelecimentos comerciais abandonados. Em pleno Centro da cidade, o antigo San Francisco Plaza Hotel, na Rua Saldanha Marinho, está com seus 56 quartos distribuídos em oito andares ocupados por famílias que não tinham onde morar. Desde dezembro de 2016, vivem lá entre 150 e 160 pessoas, segundo os responsáveis pela ocupação. E a procura por um dos quartos no prédio é grande. Nos 10 minutos em que a reportagem aguardou na recepção para falar com seus administradores, duas pessoas interessadas em morar ali apareceram na portaria, mas só ouviram do porteiro que “aqui está lotado já”. Já há uma decisão judicial em segunda instância pela reintegração de posse do local, mas ainda sem data definida. “Aqui está abandonado há 14 anos e o grande culpado é o governo. Estou há 18 anos inscrita na fila de espera da Cohab, desde que minha filha nasceu, e até hoje não fui contemplada”, disse Mariana Teixeira, que se apresentou como organizadora da ocupação. Durante a visita da reportagem, ela fez questão de exibir os extintores dentro do prazo de validade em todos os andares do edifício, bem como os cartazes espalhados orientando os moradores a não fumar no interior do prédio, tentando mostrar que a realidade dali é bem diferente da ocupação em São Paulo que desabou na última terça-feira. “Aqui não tem fiação exposta ou extintor vencido. Vivemos num clima de harmonia. Mora aqui gente que trabalha em banco, no aeroporto, em escolas”, contou. Não há cobrança de aluguel dos moradores, segundo Mariana. Eles apenas devem arcar com suas próprias contas e auxiliar na limpeza e manutenção de seus quartos e do hall de seus andares. De acordo com o engenheiro civil Henrique Rotondaro, edificações verticais que não ofereçam riscos aos seus moradores, como o prédio incendiado em São Paulo, devem apresentar, entre outros documentos, o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), extintores dentro do prazo de validade, hidrantes ativos, laudo sobre a estabilidade e condições estruturais, sistemas de iluminação de emergência e reservatórios de água limpos. “Quando se fala de prédios inacabados e com idade considerável, há sempre a possibilidade de elementos que não foram finalizados e podem oferecer riscos, como pontas de ferro ou vãos não fechados que podem causar quedas. Se não houver manutenções preventivas ou corretivas, há possibilidade de a estrutura estar abalada de alguma forma” , orienta o engenheiro. A reportagem também passou ontem por outros três prédios invadidos em Campinas, mas não teve autorização para entrar em nenhum deles. Na Rua Itapemirim, no Jardim Itayu, zona Sul da cidade, um condomínio com obras inacabadas e ruas de terra tem quatro torres ocupadas há dois anos. Por lá, vivem 120 famílias. Um dos moradores, que não quis se identificar, até ironizou: “Aqui não tem gato (ligações irregulares elétricas clandestinas) não, aqui tem leão”. Na Rua Alberto Ferraz de Abreu, em frente à Praça Elisa Moretti, no Jardim Guanabara, um prédio abandonado há 20 anos tem seus 12 andares ocupados. A precariedade do local impressiona logo na fachada, mas o responsável pela ocupação, que pediu para não ter seu nome publicado, disse que há uma estrutura aos moradores. “Temos porteiro 24 horas, câmeras de vigilância, água, luz. Cobramos R$ 450,00 de taxa de cada morador pra oferecer os serviços”, comenta. Já na Rua Padre Donizete Tavares de Lima, na Cidade Jardim, seis prédios de um condomínio inacabado da extinta incorporadora Encol estão sendo habitados, aos poucos, pelos próprios moradores que haviam comprado um apartamento e ficado na mão. Prefeito garante que monitora casos O prefeito Jonas Donizette (PSB) afirmou em coletiva de imprensa ontem que a Prefeitura de Campinas monitora as ocupações irregulares da cidade. Ele diz ter conhecimento dos três edifícios habitados ilegalmente: o hotel do Centro e os prédios dos jardins Itayu e Guanabara. O edifício do bairro Cidade Jardim, citado nesta página, não chega a ser considerado invasão, pelo fato de que os próprios compradores dos apartamentos estejam no local. “Temos três prédios nessas circunstâncias em Campinas, todos de propriedade particular e com processo de reintegração de posse em andamento. Em São Paulo, o prédio pertencia à União. A situação em Campinas, se comparado à capital, é de agravamento bem menor, mas é algo que sempre temos que estar atentos” , comentou. Jonas ainda disse que a Prefeitura obteve áreas que somam quase 1 milhão de m², em diversos pontos da cidade, que permitirão a construção de cerca de 3 mil unidades habitacionais para famílias de baixa renda, mas ainda sem data para início das obras.

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