Ampliação do prédio e novos telescópios devem elevar status do turismo astronômico na cidade; intervenção será feita com verba do Ministério da Cultura
Nascer do sol visto do observatório: localização, em região serrana e sem poluição, favorece visualizações ( Carlos Sousa Ramos)
Ele é um dos espaços públicos que mais vem conquistando a simpatia da população de Campinas e da região, atraindo um público cada vez maior e fazendo milhares de pessoas olharem para o céu. Aos 38 anos, o Observatório Municipal Jean Nicolini, no distrito de Joaquim Egídio, está prestes a passar pela sua primeira grande reforma desde a inauguração. A ampliação do prédio, com aumento no número de telescópios, é o primeiro passo para que Campinas possa se transformar em um importante expoente no turismo astronômico nacional. “O observatório está localizado em um ponto estratégico, numa região serrana, área de preservação ambiental, sem indústrias e sem poluição”, explica o astrônomo Júlio Lobo. Todos esses diferenciais melhoram a qualidade da observação dos astros. A última etapa antes do início da obra, que deve começar até 2016, é a realização do projeto executivo. “A licitação para contratação do projeto executivo está sendo feita. Como não há um prazo ao certo para que o projeto fique pronto, acreditamos que a obra deva começar até o ano que vem”, afirmou o secretário de Cultura Ney Carrasco. A intervenção, que será feita com uma verba de R$ 2 milhões do Ministério da Cultura, é um passo fundamental para Campinas consolidar sua atuação no turismo astronômico, um sonho antigo de Julio Lobo, que está há 38 anos no observatório. O número de telescópios para observação saltará dos atuais dois para sete, reduzindo as longas filas e aumentando as possibilidades de observação. “Campinas tem um forte potencial de turismo astronômico, mas não é aproveitado. Pessoas de Itatiba, Valinhos, São Paulo, Jundiaí, Limeira e de outras cidades vêm para Campinas para observar o céu”, afirma Lobo. Com a reforma, o observatório terá um restaurante e novos banheiros. A obra prevê a ampliação do prédio principal, que contém a cúpula de pesquisa, e a criação de área de descanso, para os visitantes aguardarem sentados. A verba para o projeto vem do governo federal e segue um trâmite burocrático até a liberação do dinheiro. Mas o objetivo maior é transformar o local em parque temático da astronomia, com diversas atrações. A ideia é que os visitantes possam passar o dia no local, fazendo piqueniques, assistindo a atrações musicais ou fazendo meditação. O projeto paisagístico do parque será feito aos poucos, pois ainda não há uma verba específica para o grandioso projeto. Hoje o local funciona, muitas vezes, na base do improviso. Não há vagas de estacionamento para todos os visitantes, não há espaço para descanso ou alimentação e o número de telescópios é insuficiente para atender a um público cada vez maior. “As pessoas estão voltando a olhar para o céu e se surpreendem ao chegar aqui e conseguir ver a Via Láctea, coisa que não é possível na cidade”, afirma Lobo. O Observatório Municipal Jean Nicolini foi o primeiro observatório municipal do Brasil e o primeiro público a abrir para visitação.PesquisasAlém de receber escolas e o público para a observação dos astros, Jean Nicolini desenvolve pesquisas sobre o céu e montou uma rede de vigilância de meteoros. Em funcionamento desde o final do ano passado, a Campinas Observatory Meteor Surveillance (COMS) consiste em uma série de câmeras de vigilância que foram modificadas e configuradas para capturar imagens de meteoros que passam pelos céus da região em uma altura de até 100 quilômetros. O COMS integra a Bramon, uma rede nacional de observação de meteoros formada por astrônomos de vários estados brasileiros. As câmeras, que têm capacidade de monitorar uma área de até 700 quilômetros de raio, são conectadas a softwares inteligentes que conseguem distinguir aviões e outros objetos dos meteoros. Meteoros são restos de cometas ou asteroides que deixam uma trilha de “sujeira” e duram de meio a dois segundos. A Terra, com sua força gravitacional, atrai esses objetos, que entram diariamente na nossa atmosfera. A rede de observação permite aos astrônomos coletar informações sobre o brilho e a duração dos meteoros e determinar de onde eles saíram. A intenção é criar um mapa das chuvas de meteoros e, assim, conhecer melhor esses objetos. Coordenador quer regras para iluminação pública Outro passo fundamental para Campinas desenvolver seu potencial de turismo astronômico é a preservação do céu campineiro. O desenvolvimento da cidade e a consequente expansão urbana para a zona rural está “apagando” as estrelas do nosso céu. Feita em desacordo com a lei federal, a iluminação pública e particular é, em sua grande maioria, voltada para o céu. Quando mandamos muita luz artificial para o alto, ofuscamos o brilho das estrelas, que passam a ser “invisíveis” a olho nu. O estabelecimento de regras claras para a iluminação e a fiscalização do seu cumprimento têm que ser redobrados na região que fica no entorno do observatório, em Joaquim Egídio. “Vamos fazer uma reunião com a Secretaria do Verde para discutir os termos em que será feito o decreto de regulamentação da lei”, afirma o secretário de cultura Ney Carrasco, acrescentando que quase toda iluminação que existe em Joaquim Egídio está fora da norma. O astrônomo Julio Lobo explica que é preciso um trabalho de convencimento junto aos vizinhos do observatório. “Não queremos que deixem de iluminar suas casas ou residências, mas alguns cuidados podem ser tomados para preservar o céu sem prejudicar a segurança e o conforto”, completa Lobo. Ele explica que a colocação de protetores em postes e lâmpadas faz com que a luz fique virada para baixo e ilumine o solo. “Com isso, você diminui a quantidade de lâmpadas e reduz também o consumo de energia”, afirma o secretário de cultura.O estabelecimento de normas para a iluminação do entorno do observatório é uma bandeira antiga de Lobo. A ideia foi comprada pelo prefeito Jonas Donizette (PSB), que afirmou que o Executivo irá enviar ainda esse ano o texto do decreto para aprovação na Câmara. “Vamos enviar para a Câmara o decreto para que possamos proteger o céu de Campinas”, disse Donizette. O cuidado com a iluminação na área de proteção ambiental não terá como único benefício o céu. A fauna local também será preservada. “Há 38 anos, quando comecei a trabalhar aqui, via dezenas de animais selvagens e isso está desaparecendo por causa da luz”, completa Lobo. Muitos animais caçam durante a noite e a luz acaba atrapalhando o ciclo.