FUTURO SOBRE TRILHOS

Obras do TIC terão início em 2025; operação fica para 2031

Datas foram anunciadas na terça-feira pelo secretário estadual de Parcerias em Investimentos, Rafael Benini; licitação internacional está em andamento

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
05/04/2023 às 09:04.
Atualizado em 05/04/2023 às 09:04
Quando entrar em operação, o Trem Intercidades usará a mesma linha do Trem Intermetropolitano entre Campinas e Jundiaí; o trecho final até São Paulo contará com um ramal exclusivo (Alessandro Torres)

Quando entrar em operação, o Trem Intercidades usará a mesma linha do Trem Intermetropolitano entre Campinas e Jundiaí; o trecho final até São Paulo contará com um ramal exclusivo (Alessandro Torres)

As obras do Trem Intercidades (TIC) terão início no segundo semestre de 2025. O sistema será implantando em duas fases, com o primeiro serviço, o Intermetropolitano (TIM), que ligará a Campinas e Jundiaí, devendo entrar em operação em 2029. As datas foram divulgadas na terça-feira (4) pelo secretário estadual de Parcerias em Investimentos, Rafael Benini, responsável pela licitação pública internacional do projeto, lançada na última sexta-feira. Benini participou de uma viagem de trem entre São Paulo e Campinas para divulgar os novos serviços.

O Intermetropolitano, que terá a tarifa cheia entre R$ 9,60 e R$ 14,60, terá paradas em Louveira, Vinhedo e Valinhos. Esse serviço será operado com trens que circularão a uma velocidade entre 64 e 95 km/h. Já o trem expresso, que ligará Campinas, saindo da Estação Cultura, no Centro, à Estação Barra Funda, em São Paulo, entrará em operação em 2031. "A expectativa em torno dessa obra é muito grande. Vai atender um grande fluxo de pessoas e reduzir o trânsito na Anhanguera e Bandeirantes", disse Benini, ao divulgar novos detalhes do projeto.

Esse serviço expresso rodará até a 140 km/h e terá um novo ramal ferroviário exclusivo a partir de Jundiaí, onde fará sua única parada, entre as duas capitais. Entre Campinas e Jundiaí, a composição usará a mesma linha do TIM, mas serão construídos pontos de ultrapassagem. Além disso, serão retirados das linhas os trens de carga hoje operados por duas empresas, que passarão a circular em novos ramais, com todos correndo em paralelo.

A viagem de cerca de 100 km no trem expresso será feita em torno de uma hora, com a tarifa prevista de R$ 64. Além de ser uma nova opção de modal de transporte, que hoje se restringe ao rodoviário, também será uma alternativa para os passageiros da região que utilizam no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, o maior do país. Hoje, há uma ligação de trem entre a Barra Funda e o terminal aéreo, que é feita em meia hora.

Ou seja, no futuro será possível ir de Campinas a Cumbica em até 2 horas, contando tempo de espera, sem o incômodo de enfrentar o trânsito pesado em São Paulo e ter quer deixar o carro em estacionamentos no entorno de aeroporto, que têm tarifas altas. Além disso, a partir da Barra Funda, o passageiro terá a opção de ir para outros pontos de São Paulo através do metrô.

Participação

O secretário de Parcerias em Investimento prevê que pelo menos três empresas ou grupos participem da licitação do Trem Intercidades, com as propostas sendo abertas em 28 de novembro, na B3 (Bolsa de Valores). O projeto será executado através de Parceria PúblicoPrivada (PPP), e o critério de julgamento da concorrência será o de menor valor requerido a título de aporte, que é o valor que governo estadual destinará ao projeto. O empreendimento tem investimento previsto de R$ 12,8 bilhões, com contrato de concessão de 30 anos.

O vencedor do chamado Eixo Norte do TIC operará três serviços. Além dos novos intermetropolitano e expresso, há ainda a Linha 7-Rubi, que já existe entre Jundiaí e Rio Grande da Serra, sob responsabilidade da estatal Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que manterá o valor da tarifa, que hoje é de R$ 4,40, seguindo os parâmetros dos serviços de transporte metropolitanos de São Paulo. Ela tem 32 estações no percurso, com a viagem durando cerca de 2h20, ligando sete municípios, passando também por Várzea Paulista, Campo Limpa Paulista, Francisco Morato, São Paulo e Santo André. 

O TIC São Paulo-Campinas, disse o secretário de Parcerias em Investimentos, será o primeiro de três serviços nessa área previstos no Estado de São Paulo. Em 2025, será lançado o de Sorocaba e dois anos depois o de São José dos Campos. Benini admite, porém, que este último poderá ser inviabilizado, caso o projeto do trem-bala de São José até São Paulo seja concretizado pelo governo federal. Nesse caso, poderá ser substituído pelo TIC Campinas-Sorocaba, de acordo com ele.

A retomada do transporte ferroviário de passageiros de Campinas até a Capital faz parte de um pacote de 15 projetos apresentados pelo governo estadual para atrair R$ 180 bilhões em investimentos através da formação de PPPs. Na semana passada, uma comitiva liderada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) esteve na Europa para apresentar os projetos para potenciais investidores. Segundo Benini, a proposta do TIC atraiu principalmente o interesse de empresas da Espanha.

Viagem

Atualmente, não há uma linha de trem de passageiros entre Campinas e São Paulo. O serviço deixou de operar por volta do ano 2000, com a última viagem de passageiros por esse meio de transporte a partir de Campinas ocorrendo em março de 2001, com destino a Bauru. Benini, acompanhado por equipes do governo paulista e jornalistas convidados, fez a viagem da Estação da Luz até a Estação Cultura em 3h30. O secretário percorreu o trajeto em uma litorina, como é chamado o vagão de passageiros automotriz, que é um expresso turístico que circula apenas em ocasiões especiais.

A viagem simulou o trajeto previsto para o trem expresso entre São Paulo e Campinas. A composição fez uma parada em Jundiaí, onde há uma bem conservada e simpática estação ferroviária com mais de um século e meio de existência. Uma placa de bronze na parede informa que foi inaugurada em 16 de fevereiro de 1867, época em que o Brasil era regido pelo imperador Dom Pedro II e a cafeicultura na região estava no seu auge.

O trajeto dessa cidade até Campinas, que foi acompanhada pela reportagem do Correio Popular, levou 1h49, com o vagão usando a mesma linha férrea do trem de carga, onde a velocidade máxima é 40 km/h. Apesar do tempo, a viagem foi agradável, com a litorina tendo o padrão de conforto dos futuros trens intermetropolitano e expresso. Ela tem poltronas acolchoadas mais largas que as da classe econômica de um avião ou as normais de um ônibus, com a distribuição sendo feita em conjunto de quatro assentos, que são dispostos em dupla de frente um para o outro.

No sentido a Campinas, passou por zonas rurais e urbanas, tendo nas laterais um cenário diverso, de bairros populares, sítios e condomínios de luxo. Pela janela, era possível ver vagões e locomotivas abandonadas e tomadas pelos sinais do tempo, ferrugem e mato alto. "O transporte por trem não teve grandes investimentos no Brasil a partir de 1970", lamentou o ferroviário Aguinaldo Naiser, com certo tom de resignação. Na profissão desde 1984, ele passou por várias companhias e regiões do Brasil e tem planos de se aposentar em 2025, depois quatro décadas de trabalho.

A litorina passou por outras estações centenárias, como a de Louveira, Vinhedo e Valinhos, até parar na Estação Cultura, em Campinas, inaugurada em 1872, com seu estilo gótico-vitoriano.

Requalificação

"Vamos torcer pela retomada do trem de passageiro", disse o comerciante Denis Castro, um entusiasta do transporte ferroviário. Ele acompanhou de carro a viagem da litorina a partir de Caieiras, parando em diversos pontos para fazer vídeos e postar em suas redes sociais. Em partes do trajeto, teve a companhia de outras pessoas, que foram atraídas pela passagem da litorina, uma vez que há mais de 20 anos o trem de passageiros deixou de passar pela linha férrea.

Ao recepcionar o secretário Rafael Benini em Campinas, o prefeito Dário Saadi (Republicanos) anunciou que nas próximas semanas anunciará o projeto de requalificação da ligação entre a Estação Cultura e o Prédio do Relógio, que este ano sediará uma mostra de arquitetura e decoração.

Ele apresentou ainda o projeto de preservação, conservação e valorização do patrimônio do complexo ferroviário de Campinas, que tem partes tombadas ou em estudo de tombamento pelo patrimônio histórico. Ele foi formado a partir das companhias Paulista e Mogiana, que depois foram incorporadas e formaram a Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa), no início da década de 1970.

Em julho passado, o governo federal cedeu à Prefeitura de Campinas uma área de 200 mil metros quadrados do pátio, onde o propósito é incentivar a instalação de espaços de cultura, turismo, eventos, gastronomia, áreas de inovação e tecnologia, instituições de ensino e pesquisa, A ocupação dessa área faz parte do projeto de requalificação do Centro.

"Os passageiros não podem chegar à estação e encontrar um local degradado", disse Saadi. Ele prometeu que a recuperação do complexo ferroviário ficará pronta antes do trem de passageiros voltar a circular em Campinas. O prefeito revelou ainda que a Administração estuda projeto para criar um serviço de monotrilho de 17 km de extensão ligando o Centro ao Aeroporto Internacional de Viracopos.

De acordo com ele, já foram apresentadas duas propostas para esse serviço, mas que não são viáveis financeiramente neste momento. Sem especificar valores, Saadi diz que a parte da Prefeitura seria de "bilhões de reais". "Não temos a possibilidade financeira neste momento, mas é o futuro", disse.

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