Cabeleireiro fecha estabelecimento depois de esperar cinco meses pela execução das reformas
Cinco meses depois de denunciar que três construções de porte provocavam danos estruturais em seu salão de beleza, o cabeleireiro José Soares Dias, de 62 anos, se prepara para fechar definitivamente as portas do estabelecimento. As rachaduras imensas nas paredes e o piso em desnível levaram a Defesa Civil a interditar um trecho do sobrado ainda no final do ano passado, e as construtoras envolvidas no caso se comprometeram a reparar os danos. Foram feitos reparos em vigas e pilares, mas as trincas continuaram aparecendo por todo canto. Dias perdeu os parceiros que sublocavam os cômodos e a clientela desapareceu.
Para piorar a situação, ele está sendo acionado judicialmente por não pagar o aluguel desde fevereiro e porque decidiu romper o contrato de locação que venceria em junho. As duas ações lhe cobram quase R$ 100 mil. E como não há como pagar, seu filho (e fiador) corre o risco de perder o apartamento onde mora.
O instituto funciona há cinco anos na sossegada Rua Dr. José Teodoro de Lima, que toma apenas uma quadra entre as ruas Barreto Leme e Joaquim Novaes, a poucos metros da Prefeitura de Campinas. Dias, que tinha salão no Castelo havia 12 anos, resolveu se mudar para o Cambuí, sonhando com uma clientela maior e mais abastada.
Os 15 cômodos do antigo sobrado foram sublocados em contratos verbais. Passaram a ocupar o prédio profissionais como manicure, fisioterapeuta, três equipes de cabeleireiros, nutricionista e psicólogo.
Até 2011, o espaço ia de vento em popa. Faltava até vaga de estacionamento para tantos clientes. Mas o que parecia sonho se transformou em pesadelo na metade do ano passado. Dois prédios de apartamento começaram a ser construídos dos lados. E um hotel brotou nos fundos.
A situação mais preocupante era na divisa com o prédio construído pela Camargo Pimentel. A saleta onde ficavam os lavatórios de cabelo rachou inteirinha. E o medo de um desabamento fez o cabeleireiro improvisar os equipamentos em outros pontos. Do outro lado da casa, o movimento de máquinas pesadas abalou um muro. Nos fundos, a charmosa cantina do salão ruiu: a cobertura já despencou e fendas enormes nas paredes afugentam quem chega perto.
Soares, no ato da locação, vendeu uma casa própria para investir no negócio. O casarão alugado, antigo, ganhou golas de gesso e divisórias. As redes elétrica e hidráulica foram recuperadas. A reforma custou R$ 80 mil. E, agora, para recomeçar a vida, ele alugou uma casa no Taquaral para instalar um novo salão. E pretende morar lá mesmo. Sem dinheiro para contratar pedreiros, eletricistas e encanadores, ele mesmo trabalha, com a ajuda de amigos e parentes. As mãos do profissional da beleza estão cheias de bolhas.
Mas Soares não se abate de ter de recomeçar a vida aos 62 anos. Mas acha um absurdo, inexplicável, que esteja sendo acionado judicialmente por não pagar o aluguel de um imóvel sem a menor condição de uso. Também considera ultrajante que as construtoras com obras nos terrenos vizinhos não invistam na recuperação do sobrado avariado. “As obras gigantes danificam o sobrado, eu não consigo trabalhar, e ainda são processado por não pagar o aluguel. É um desrespeito com quem se mudou para Campinas há 33 anos para trabalhar. É triste, muito triste. Me vejo arruinado, punido por algo que não tenho culpa”, diz.
O cabeleireiro já contratou uma advogada, que busca acordo com as construtoras Camargo Pimentel, TGV e LM para que elas assumam a dívida com o locador. Assim, o fiador não perde o seu imóvel e Dias pode retomar a vida em paz, longe dali. As construtoras , que ainda não se manifestaram oficialmente, aguardam da Prefeitura o laudo técnico confirmando que as obras provocaram as avarias.