ESCALADA DA VIOLÊNCIA

OAB vê ‘migração’ do crime em caso de ataque à escola de Campinas

Para representante da entidade, os marginais procuram as áreas que estejam menos policiadas

Isadora Stentzler
14/05/2022 às 11:58.
Atualizado em 14/05/2022 às 11:58
Policias militares realizam a vigilância próximos à escola atacada no Jardim Florence na última quarta-feira (Kamá Ribeiro)

Policias militares realizam a vigilância próximos à escola atacada no Jardim Florence na última quarta-feira (Kamá Ribeiro)

Diante do assalto à turma de alunos da Escola Estadual Dr. Newton Oppermann, no Jardim Florence 2, na última quarta-feira (11), o presidente da Comissão de Assuntos de Segurança Pública da OAB de Campinas e vice-presidente do Conselho de Segurança Pública da cidade, Cláudio Ferrari, aponta uma “migração” do crime e avalia que o ato "atípico" é resultado de uma situação de "sufoco" em outras frente da criminalidade. 

"Isso foi um caso atípico, e espero que não se repita. Escola e estudantes não são frequentes alvos dos bandidos. Então, isso significa um desespero da criminalidade. Porque entrar numa escola para roubar alunos demonstra que a coisa está feia para o lado deles. O espaço para os delitos que estavam cometendo ficou mais arriscado", avalia. 

Segundo ele, a escalada de crimes passou a ser observada com intensidade no pós-pandemia, quando as pessoas deixaram as suas casas e a rotina foi se tornando mais próxima ao que era antes. Nesse cenário, os crimes também voltaram a ocorrer em locais que antes estavam vazios e agora comportam mais pessoas. 

"Por que isso está aparecendo muito mais agora? Porque estamos saindo de um período de pandemia, em que as pessoas voltaram a uma certa normalidade. Assim, reaparecem situações que havíamos nos esquecido: como os assaltos mais constantes e os perigos na rua."

No entanto, atentar contra estudantes, avalia Ferrari, mostra que os espaços onde os bandidos atuariam já não são tão disponíveis. Para ele, é um movimento ‘migratório’ comum dentro do contexto de vida, que busca oportunidades junto aos mais vulneráveis, longe do impacto das ações policiais que buscam reduzir os crimes. "Quando as operações policiais começam a sufocar, os criminosos buscam alternativas para agir em outros lugares, que ainda não estejam saturados, como uma escola. Nesse caso, vejo uma migração da criminalidade, que deve perdurar até que se comece a atacar isso. Então, são ações migratórias", defende. 

Em Campinas, estão em vigor as operações “Meu Bairro Seguro”, desencadeada pela Guarda Municipal, e a “Operação Sufoco”, que une todas as forças policiais. 

Ferrari acredita que, com a maior integração das polícias e participação popular, seja por meio da Vizinhança Solidária ou dos Conselhos de Segurança, será possível traçar melhores estratégias de combate ao crime e, gradualmente, construir uma cidade segura. 

"A Segurança Pública é um conjunto de fatores: exige do Estado, por meio de sua polícia, do município, mediante sua secretaria e da população, que não pode ficar apenas cobrando, precisa participar. Temos o exemplo dos Consegs, que são grupos de pessoas que se reúnem para debater os problemas do seu bairro, e o Vizinhança Solidária, que facilita a comunicação entre os moradores e as autoridades de segurança. E a comunidade precisa denunciar. É muito importante a denúncia. Se a denúncia não ocorrer, não tem como mobilizar uma reação e resposta, visto que toda a ação da Polícia é guiada pelas estatísticas."

SSP responde

Depois do fechamento da reportagem, na última quinta-feira, a Secretaria de Segurança Pública se pronunciou sobre o arrastão na escola. O órgão esclareceu que o caso é investigado pelo 11º Distrito Policial e que, no dia do ataque, policiais da unidade foram até a unidade escolar, onde tiveram acesso às imagens da câmera de segurança, as quais auxiliarão na identificação dos meliantes e na recuperação dos 23 aparelhos de celulares roubados.

E ainda que "a Polícia Militar realiza policiamento ostensivo e preventivo no entorno da unidade educacional, inclusive com o programa Ronda Escolar" e que "o contato com a direção da escola é permanente".

Sobre a vinda da Rota na última segunda-feira ao município, em apoio à “Operação Sufoco”, informou que ela veio "para apoiar as unidades no combate à criminalidade". "As ações das polícias na cidade resultaram na prisão de mais de mil pessoas, apreensão de 90 armas e recuperação de 382 veículos no primeiro trimestre deste ano. A SSP dobrou a quantidade de policiais nas ruas com a ‘Operação Sufoco’. A operação será ampliada gradativamente para todo Estado", afirmou, em trecho. 

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