literatura musical

O sono eterno no berço natal

Naquela tarde de 24 de outubro de 1896, o trem que trazia o corpo do maestro Carlos Gomes chegou à estação da Paulista por volta das quatro da tarde

Rogério Verzignasse
26/09/2018 às 22:23.
Atualizado em 22/04/2022 às 01:04
O escritor Jorge Alves de Lima com sua obra-prima (Cedoc/RAC)

O escritor Jorge Alves de Lima com sua obra-prima (Cedoc/RAC)

Naquela tarde de 24 de outubro de 1896, o trem que trazia o corpo do maestro Carlos Gomes chegou à estação da Paulista por volta das quatro da tarde. Uma multidão tomava conta do largo. De lá, o ataúde foi transportado até a Matriz Nova em uma carreta puxada por cavalos. O povo atirava flores das janelas dos sobrados. Campinas chorava a morte do seu filho mais ilustre. Aquele foi um dos episódios tocantes resgatados pelo livro Carlos Gomes - O Sono Eterno no Berço Natal, escrito pelo historiador Jorge Alves de Lima, que será lançado na noite desta quinta-feira (27), na Catedral Metropolitana. O evento, para lá de especial, acontece sob o som encantador do órgão de tubos Cavaillé-Coll, recentemente restaurado pela Igreja. É uma atração imperdível, aberta ao acesso gratuito do público. A obra é o terceiro volume de uma série que começou a ser publicada em 2016. Nas edições anteriores, o autor detalhou a vida do maestro, que nasceu em Campinas, teve seu talento reconhecido no Rio, e acabou se mudando para a Europa. Suas óperas foram ovacionadas em palcos célebres. E a crítica mundial se rendeu a composições que fizeram de Carlos Gomes o nome mais importante da música clássica brasileira. A escolha da Catedral para o evento tem um significado muito especial. Foi naquele templo que o corpo do maestro foi velado durante três dias. O ataúde permaneceu em um catafalco belíssimo, ornamentado com bustos, quadros, harpas e bandeiras. Imagens, aliás, resgatadas pelo autor ao longo de uma pesquisa incansável para arquivos públicos e privados. Da Catedral, o corpo foi transferido para o mausoléu cedido pela família Ferreira Penteado no Cemitério da Saudade. Lá ele permaneceu até 1903, quando os restos mortais foram transferidos para o terreno da Praça Antônio Pompeu, onde mais tarde seria finalizado o monumento-túmulo. Comovente Mas o livro belíssimo, com 254 páginas e editado pela Pontes, também tem a descrição detalhada dos últimos dias do maestro na cidade de Belém (PA), que o acolheu na volta ao Brasil. Lá no Pará, muito doente, Carlos Gomes assumiu a direção do conservatório local, e passou a ser adorado pela população. “A cena do enfermeiro chorando no porto, quando o corpo do maestro deixava a cidade, foi a imagem mais forte daquele momento”, revela o historiador. A obra detalhe toda a viagem do ataúde, que passou por Salvador e pelo Rio de janeiro antes de atracar definitivamente em Santos. Alves de Lima conseguiu imagens raríssimas, como a do momento em que o ataúde foi aberto no Arsenal de Guerra da Marinha, no Rio, para que os legislas conferissem o estado do corpo embalsamado. Em Santos, o historiador narra o momento emocionante em que o mestre de cerimônias convidou o público presente ao velório do Largo do Carmo para que caminhassem até o ataúde e beijassem a bandeira do Pará, em reconhecimento à atenção ministrada ao maestro em seus últimos dias. As pesquisas em jornais de época registram episódios pouco conhecidos, como o velório de duas horas na Estação da Sé, em São Paulo. O vagão onde estava o caixão foi aberto só para autoridades do governo. Em Jundiaí, onde o ataúde também não saiu do vagão, três mil pessoas tomaram a linha férrea e impediam a saída do trem para Campinas. “As cerimônias fúnebres tocaram o Brasil todo, no tempo em que nem existia televisão.” SERVIÇO Livro Carlos Gomes - O Sono Eterno no Berço Natal Quando - Quinta-feira (27), às 19h30 Onde - Catedral Metropolitana de Campinas Ingresso - Gratuito Preço (exclusivo para venda) - R$ 50,00

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