patrimônio

O restauro da Campinas elegante

A restauração começou há apenas 45 dias. Mas quem passeia pela Rua Thomaz Alves, no Centro, já fica encantado com a nova pintura do Jockey Club

Rogério Verzignasse
03/06/2018 às 09:53.
Atualizado em 28/04/2022 às 11:02
A fachada já renovada do prédio histórico, voltada para a Rua Thomaz Alves, chama a atenção: pedestres se encantam com os detalhes em branco que se destacam na alvenaria azul (Leandro Torres)

A fachada já renovada do prédio histórico, voltada para a Rua Thomaz Alves, chama a atenção: pedestres se encantam com os detalhes em branco que se destacam na alvenaria azul (Leandro Torres)

A restauração começou há apenas 45 dias. Mas quem passeia pela Rua Thomaz Alves, no Centro, já fica encantado com a nova pintura na fachada do Jockey Club Campineiro, imóvel tombado como patrimônio público. Os adornos brancos se destacam na alvenaria azul. Agora, são restauradas as paredes laterais. Um guindaste eleva a 25 metros do chão a plataforma onde trabalham os operários. A presidência do clube estima concluir as obras dentro de dois meses. Mas da rua não se tem noção das intervenções já terminadas do lado de dentro. Os salões do terceiro piso, onde acontecem atividades de lazer dos associados, foram completamente renovados. Do assoalho antigo, foram removidos dois centímetros de cera. Depois, a madeira recebeu tratamento com bona (uma espécie de sinteco). O piso escuro de antes agora tem uma tonalidade próxima do marfim. Ficou novinho em folha. Também foram recuperados quadros e espelhos, com a substituição das molduras adornadas. Depois da troca completa da rede hidráulica, os sanitários ganham novos revestimentos. Todos os salões já contam com um sistema de iluminação por led. E a maior surpresa ainda vem por aí: as novas lâmpadas, tecnologia de última geração, também vão iluminar a fachada. O Jockey à noite vai ficar ainda mais deslumbrante. Regras rígidas O atual presidente do Jockey, o advogado Carlos Lucenti, afirma que todas as intervenções seguem as regras rígidas do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), que impõe a preservação dos traços arquitetônicos originais. E ele reconhece: não é uma missão das mais fáceis. Para se ter uma ideia, a equipe de restauradores se entregou a uma pesquisa paciente para localizar, no interior do Estado, uma cerâmica que fabricasse as telhas francesas com três frisos, idênticas às fabricadas há quase cem anos, na data da inauguração do prédio. As raridades foram encontradas em Laranjal Paulista. Foram encomendadas as 14 mil peças que já cobrem o imóvel. Aconteceu uma única mudança com relação ao prédio original. As paredes externas, originalmente, eram pintadas de areia. "O Condepacc nos autorizou a adotar o azul. Além de bem mais bonito, o imóvel resgata a cor consagrada pelas novas gerações. Quem mora hoje na cidade se acostumou com o Jockey azul", afirma Lucenti.    Vem mais E Lucenti explica que vem mais trabalho apurado por aí. Os janelões que se abrem para fora, em todos os pisos, vão passar pelo restauro paciente, com a recuperação do madeiramento original. Da mesma forma, a mobília centenária - como o piano e as mesas - passam por avaliação técnica especializada para o início das intervenções de restauro. Também será substituído todo o madeiramento ornamental que decorava os gradis das sacadas. Mas de 140 metros de madeira serão instalados, em substituição a peças já removidas. A revitalização será encerrada com a recuperação de 1.134 vidros, no prédio todo. CONHEÇA A visitação pública ao prédio histórico é aberta. Basta que os interessados peçam autorização na secretaria do clube, pelo telefone (19) 3232-1680. O imóvel fica localizado na Praça Antônio Pompeu (próxima da Basílica do Carmo), Centro de Campinas. Mesmo local onde está o monumento-túmulo de Carlos Gomes. Obras devem consumir cerca de R$ 1,15 milhão As intervenções no prédio histórico do Jockey Club de Campinas são orçadas em R$ 1,15 milhão, e os recursos são provenientes do potencial construtivo do patrimônio. Apesar das obras gradativas, são mantidas todas as atividades do Jockey, como eventos culturais e palestras. Funcionam normalmente as dependências do térreo e do primeiro piso, alugadas para um restaurante e uma casa noturna, respectivamente. Nos dois pisos, as obras acontecem nos dias e horários em que os estabelecimentos não funcionam. Epidemia atrapalhou a construção O prédio do Jockey Club começou a ser construído em 1877, por importantes nomes da alta sociedade campineira, que doaram o terreno e financiaram as obras. A cidade era, então, movida pelos milhões dos barões do café. Mas o imóvel só foi efetivamente inaugurado em 1925. Tudo por causa das seguidas epidemias de febre amarela, que quase riscaram Campinas do mapa no final do século 19. Por diversas vezes, as obras foram paralisadas.  Foi um tempo em que os investimentos rarearam. O Jockey parou, como a cidade toda. E aquela construção precisava de muito dinheiro. Afinal de contas, o prédio mesclava elementos da art nouveau e da escola neorrenascentista, ricos estilos arquitetônicos apreciados na época em que ele foi projetado. Passada a tormenta das epidemias, a sede social do clube foi inaugurada com toda a pompa. A praça de corridas era o antigo Hipódromo do Bonfim, que também era palco de festas, recitais e outras apresentações culturais. Ficava no mesmo local onde existe hoje o Sesc do Bonfim. Era um espaço de lazer belíssim, concorrido. Mas o terreno pertencia à Prefeitura, que o pediu de volta. Na década de 60, os páreos foram transferidos para o Hipódromo Boa Vista. Com o fim das corridas, em meados da década de 70, o clube entrou em decadência. Para se manter, o Jockey hoje loca as dependências e conta com a contribuição simbólica de antigos associados.

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