DECADÊNCIA

O palco esquecido no meio da Praça Carlos Gomes

Coreto foi esquecido com degradação da região do Centro e o afastamento da população

Rogério Verzignasse
rogerio@rac.com.br
09/06/2013 às 09:08.
Atualizado em 25/04/2022 às 12:49

O belíssimo coreto da Praça Carlos Gomes, inaugurado há exatamente cem anos, é remanescente de uma época em que o governo municipal concluía a urbanização de uma gleba que, originalmente, não passava de um brejo. A configuração atual do jardim, elaborada a partir de um projeto orientado por Ramos de Azevedo, permitiu que a cidade ganhasse um espaço cultural de primeira categoria, com apresentações de retretas, peças, números circenses. Um século depois, no entanto, o coreto é um monumento esquecido, pichado, no centro de um espaço público de lazer ignorado pelas famílias campineiras. Ao longo das duas últimas décadas, o governo municipal até implementou projetos culturais na praça, com o objetivo de revitalizar a região central da cidade. A presença eventual de cantores e bandas movimentou as noites no jardim. Mas foi só. No dia a dia, o cenário é tomado por prostitutas, michês, traficantes, moradores de rua. Pouca gente se aventura por aquelas alamedas. E a população prefere apreciar de longe a beleza dos coreto e das palmeiras imperiais. Os campineiros mais antigos se decepcionam de ver que ninguém nota o coreto histórico, com seus gradis torneados, forro de madeira, cobertura típica, esculturas na base. Obra que remete a uma cidade que, no passado, investia pesado em cultura. O monumento foi inaugurado em 1913, no governo de Heitor Penteado. Era a última etapa executada da reforma da praça (projeto dos jardineiros Juvenal Kirstein e Calixto Marin). Ao longo do século passado, o coreto virou ponto do footing. A apresentação de bandas e a organização de feiras de artesanato eram opção de lazer para campineiros de todas as classes sociais. Saudade Mas quem viveu os áureos tempos hoje se desaponta. Caso de Alonso Lino de Farias, alagoano de nascimento e campineiro de coração. O cidadão, de 75 anos, mora na Avenida Moraes Salles e integra uma associação de amigos do Bosque dos Jequitibás. Ele fala que sente muita tristeza de ver o coreto hoje em dia: paredes rabiscadas, placas roubadas. "O campineiro não tem a noção da importância do coreto. É o monumento preservado de um tempo em que a praça era rodeada de casas, e as crianças brincavam nos canteiros. Hoje ninguém passeia aqui. Tem prédio por todo lado. As pessoas na calçada nem se olham", fala. O português Antônio Rodrigues Neto, de 78 anos, mora há 20 anos em um prédio da Rua Conceição, bem na frente da praça. Ele diz que vê a paisagem encantadora da janela do apartamento, mas não tem coragem para andar por lá. "Não passa mais ninguém. À noite, vira um breu. A gente precisa de mais segurança. Pelo menos de dia, o povo tem direito de frequentar a praça" , afirma. Para seu amigo Vlademir de Oliveira, também de 78 anos, a praça de hoje é simplesmente imoral. Ele lembra que viveu o tempo dos passeios saudáveis, com músicos se apresentando no coreto. "Quando saio de casa, uso a calçada do outro lado da rua. O povo tem medo", diz. E para ele, que tem vários músicos na família, a frustração é maior ainda. "É um coreto lindo e inútil." Para o professor Alfredo Luiz Gomes, de 54 anos, basta que a Prefeitura leve bandas e feirinhas de volta para a Praça Carlos Gomes. "É uma pena que cidadão comum não possa aproveitar um espaço tão bonito", lamenta.

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