arquitetura

O Oscar Niemeyer da capital paulista

Assim ficou conhecido Ramos de Azevedo, que fez história em Campinas e deu uma identidade para São Paulo

Francisco Lima Neto
26/07/2020 às 00:19.
Atualizado em 28/03/2022 às 20:42
Francisco de Paula Ramos de Azevedo projetou vários prédios famosos em Campinas, mas foi em São Paulo que ele entrou para a história da arquitetura (Reprodução)

Francisco de Paula Ramos de Azevedo projetou vários prédios famosos em Campinas, mas foi em São Paulo que ele entrou para a história da arquitetura (Reprodução)

Francisco de Paula Ramos de Azevedo foi um engenheiro e arquiteto, proveniente de Campinas, que se graduou na Europa com todas as honras, antes de se estabelecer na terra natal. Mas, por força do destino, se consagrou na capital, onde fez história ao mudar toda a arquitetura com seu talento único e modernizar a cidade de São Paulo. Ramos de Azevedo, como ficou conhecido, era filho de uma família muito rica de Campinas. Mas desde o começo de sua vida já parecia claro que a cidade de São Paulo "roubaria" aquela figura ilustre para si. No ano de 1851, sua mãe, Ana Carolina de Azevedo, grávida, partiu para a capital da então Capitania para cuidar de uma irmã que estava muito doente. Foi assim que naquele mesmo ano, em 8 de dezembro — Dia da Padroeira de Campinas —, nasceu, em São Paulo, Francisco de Paula Ramos de Azevedo. Seu pai era o Major João Martins de Azevedo. Ramos de Azevedo foi criado em Campinas e gostava de deixar claro que, apesar de ter nascido em São Paulo, era um "legítimo campineiro". Só saiu daqui já adulto, em 1869, quando foi obrigado a se mudar para o Rio de Janeiro para cursar a Escola de Artilharia Militar. Contudo, abandonou aquela carreira depois de três anos, assim que terminou a Guerra do Paraguai. Voltou para Campinas, onde trabalhou na construção das estradas de ferro Paulista e Mogiana. Em 1875, se mudou para a Bélgica para estudar Engenharia Civil na Universidade de Gand. Como seus traços já impressionavam, foi aconselhado pelo diretor a se transferir para o curso de Arquitetura. Concluiu a graduação no ano de 1878 com louvor, e teve seus desenhos exibidos na Exposição Universal de Paris. Logo, o engenheiro arquiteto retornou a sua querida Campinas, onde abriu um escritório. Por aqui, projetou o prédio da Escola Correia de Melo, que tinha a frente para a Rua Bernardino de Campos e que foi usada como enfermaria na epidemia de febre amarela de 1889; o prédio da Delegacia de Polícia na Avenida Andrade Neves; o Clube Campineiro, que depois se tornou Jóquei Clube Campineiro, na Praça Antônio Pompeu; finalizou a construção da Catedral Metropolitana; projetou o prédio do Cotuca; o prédio do Mercado Municipal; o Casarão do Parque Jambeiro; um prédio na Avenida Campos Sales, que tem a entrada de frente à lateral do Fórum; colaborou com o engenheiro Samuele Malfatti no projeto do prédio da Casa de Saúde; muitas residências, entre outros. O Visconde de Parnaíba, que sempre foi um grande incentivador de Ramos de Azevedo, quando ocupava o cargo de presidente da província — o equivalente a governador, em 1886 —, o convidou para chefiar a Carteira Imobiliária do Banco da União, na capital. Assim, surgiu a oportunidade de realizar um conjunto de obras que deu a identidade da cidade de São Paulo para onde se mudou com sua esposa, Eugenia Lacaze. O governador pediu que Ramos de Azevedo arquitetasse a secretaria da Fazenda, no Pátio do Colégio — local histórico onde os jesuítas fundaram a cidade, em 1554. Foi o passo inicial para que ele entrasse para a história da arquitetura do Brasil. Se costuma dizer que Ramos de Azevedo representa na capital paulista o que Oscar Niemeyer representa para Brasília. Transformação urbana O arquiteto engenheiro estava no lugar certo na hora certa. São Paulo, no final daquele século, era uma cidadezinha feia, fedida, sem o básico da higiene, com construções em pau a pique que não fazia frente ao Rio de Janeiro, capital do império.  O momento econômico era ótimo, com vários barões do café fazendo fortuna. Entre 1890 e 1910, a população de São Paulo saltou de 64 mil para 240 mil. Apenas quatro anos depois de se mudar para a capital, o ilustre arquiteto já empregava 500 funcionários. Seu escritório, além de ser ativo na capital e no Interior, participava de todas as grandes licitações do País. Ficou muito famoso entre a elite cafeeira, que o elegia para levantar seus palacetes e também prédios residenciais nas avenidas mais famosas do Rio de Janeiro, São Paulo e em outras regiões do Brasil. A estimativa é que o escritório tenha realizado mais de 76 mil projetos durante seu tempo de atuação. Com todo esse renome, quase todos os engenheiros e arquitetos queriam trabalhar com ele. O Escritório Ramos de Azevedo foi o mais longevo escritório de arquitetura do Brasil, dirigido por ele entre a última década do século 19 e as três primeiras do século 20. Profissionalmente também se destacou como um dos fundadores e professor da Escola Politécnica de São Paulo (Poli), onde também foi diretor. Dirigiu também o Liceu de Artes e Ofícios, voltado para o estudo da arte. Em 1904, Ramos de Azevedo foi eleito senador estadual, cargo que exerceu por apenas um ano e meio. Preferiu seguir na iniciativa privada, pois assim poderia continuar a fazer construções para os governos. Morreu em 12 de junho de 1928, no Guarujá. Projetista tinha ainda perfil de negociante e empreendedor Conforme análise apresentada pela Enciclopédia Itaú cultural (http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa441557/ramos-de-azevedo), Ramos de Azevedo trouxe da Europa noções técnicas de higiene e conforto ambiental ainda desconhecidas dos engenheiros paulistas. E resolveu de modo inovador os programas apresentados por um Estado em pleno crescimento pela pujante economia do café, no período em que São Paulo deixava de ser um modesto sítio colonial para alçar-se à condição de moderno centro de comércio e serviços. Era a substituição das antigas construções de taipa por outras de tijolos e argamassa. Ramos de Azevedo protagonizou essa emancipação porque soube estabelecer relações produtivas que incluíam desde o desenvolvimento de projetos ao financiamento bancário das obras até sua execução e venda. Com raro tino para os negócios, gerenciava eficientemente o escritório de projetos, a contratação de mão de obra, a importação de materiais de acabamento e a industrialização de elementos de construção, como o tijolo e a cerâmica. Nesse sentido, pode-se dizer que a sua contribuição empreendedora e gerencial na criação de uma "indústria da construção" em São Paulo foi ainda mais relevante que seu papel como projetista. PRINCIPAIS OBRAS EM SÃO PAULO Prédio da Tesouraria da Fazenda, hoje Secretaria da Justiça do Estado de São Paulo; Palácio da Justiça; Liceu de Artes e Ofícios, hoje Pinacoteca do Estado; Escola Normal, hoje Secretaria da Educação do Estado de São Paulo; Hospital Militar;Asilo dos Alienados do Juqueri; Teatro Municipal; Mercado Municipal de São Paulo; Faculdade de Medicina da USP; Prédio dos Correios e Telégrafos; Palácio das Indústrias; Casa das Rosas

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