ARTIGO

O novo normal?

Rubens Ribeiro, sócio-proprietário da agência E-3 Comunicação, de Campinas, analisa desafios e efeitos da pandemia

Rubens Ribeiro
21/08/2020 às 15:03.
Atualizado em 28/03/2022 às 18:12
Rubens Ribeiro é publicitário e sócio-proprietário da agência E-3 Comunicação, em Campinas (Divulgação)

Rubens Ribeiro é publicitário e sócio-proprietário da agência E-3 Comunicação, em Campinas (Divulgação)

Como será o pós-Covid-19? Teremos uma nova onda de contágio? A pandemia vai acabar? Quando vai acabar? Tantas perguntas sem respostas, tantas verdades absolutas, mas sem nenhuma comprovação científica. Esse texto não tem a pretensão de responder questões que ninguém no planeta consegue responder. Resta-nos apenas dialogar, dialogar e dialogar (pelo WhatsApp, Zoom ou Meet, é claro). Antes do debate sobre como as coisas serão daqui em diante, proponho que evitemos minimizar o drama que estamos vivendo com alguns argumentos simplórios como “fazer deste limão uma limonada” ou “tudo isso foi bom para a nossa evolução”. Não, não foi. Trata-se de uma tragédia sem precedentes, muita gente morreu e está morrendo e a economia global foi engolida por esse “tsunami”. Vamos sofrer muito ainda, seja pela ameaça da doença, seja pelo medo de perdermos pessoas que amamos, seja pelos problemas decorrentes do retrocesso econômico.O controle da pandemia e a descoberta da tão esperada vacina, deixemos apenas sob a responsabilidade da comunidade científica e da Organização Mundial da Saúde. Sobre o “novo normal” e a retomada da economia, aí sim, devemos fazer um debate amplo, lúcido, à luz da realidade e com a soma dos esforços de todos.A queda do Produto Interno Bruto (PIB) e a certeza de que o fundo do poço chega neste segundo semestre devem fazer com que o país encerre 2020 com o pior desempenho econômico da história. Mais um dado desanimador: segundo levantamento que cruza previsões do Fundo Monetário Internacional com dados do Boletim Focus do Banco Central, a retomada do Brasil no pós-pandemia será mais lenta do que em 90% dos países. Ou seja, como sempre, aqui o buraco é mais embaixo. A reinvenção urgente dos métodos e do comportamento da sociedade e a adaptação da economia a esta nova realidade é uma obrigação para a nossa sobrevivência. Sim, sou um otimista (senão não seria sócio de uma agência de publicidade que está há 18 anos no mercado e se reinventando nessa crise). Sim, acredito na força do povo brasileiro e sim, acho que somos criativos o suficiente para superar esses dados desanimadores do Banco Central. Mas não podemos ter uma fé cega, achar que tudo se ajeitará rapidamente sem grandes esforços, sem grandes mudanças. Lembram daquele ditado: “Quando a água bater...”? Pois é, no Brasil, ela naturalmente bate sempre e agora ela está “esbofeteando”. O novo normal, além de máscara e álcool em gel, exige que se faça muito mais com muito menos. Quem entender rapidamente esse gatilho e conseguir perceber a profundidade da mudança sai na frente. Esse raciocínio vale tanto para um pequeno empreendedor quanto para as grandes companhias. A depender da agilidade como cada um entende este momento, pequenos podem virar grandes e gigantes podem simplesmente desaparecer. É preciso agir e agir rápido. Vamos pegar como exemplo um restaurante: não basta distanciar mesas e esperar. Tem que fidelizar clientes, falar menos e ouvir mais. Recriar cardápios, pesquisar novos drinks, reconquistar. É a árdua tarefa de tirar a pessoa de sua casa, onde, em tese, ela está segura. É preciso investir em logística de entrega, entender que o delivery, por enquanto, é fundamental e a tendência é seguir assim até pelo menos 2021. Nesse sentido, é preciso valorizar muito o entregador do produto. Essa atividade deixou de ser figurante e está disputando os papéis principais, pois de nada adianta uma bela comida chegar fria e atrasada na casa do consumidor. Esse raciocínio vale para todos os segmentos. Não é fácil, eu sei. Nossa geração não tem a oportunidade de fazer um recorte histórico e entender o que está acontecendo. Somos obrigados a rever tudo enquanto tudo está acontecendo. É o popular “trocar o pneu com o carro andando”. Não estamos em 2030, mas sim no ápice. As futuras gerações terão o privilégio de poder estudar e compreender essa transformação com a complexidade que ela exige. Para quem ainda vai escolher uma carreira ou tem a oportunidade de se adaptar ou até mesmo mudar de área, a InfoMoney fez um estudo bem interessante, apontando as dez profissões que sairão fortalecidas no pós-pandemia, são elas e nesta ordem: profissional de cibersegurança, profissional customer experience, especialista em nuvem (ou cloud), CFO (ou diretor financeiro), diretor comercial, gerente de tesouraria, planejador financeiro, assessor de investimentos, profissional de recursos humanos e enfermeiros e técnicos de enfermagem. Ainda não achei algum texto interessante, que trate com dados e pesquisa, sobre como está o “psicológico” da sociedade. O abismo social que existe no Brasil impede um debate mais aprofundado sobre o assunto. Falar em novo normal para quem acorda cedo, pega transporte público lotado, ou para quem está desempregado chega a ser agressivo. Em uma simples pesquisa no Google para contribuir com este artigo, encontrei uma frase forte, mas muito pertinente de Gilson Rodrigues, líder comunitário de Paraisópolis e integrante do G10 das Favelas: “Não há 'novo normal' para quem não tem nem o normal.” Como contestar? Sob o ponto de vista sanitário, o caminho mais simples para explicar esse conceito é recomendar que todos usem máscaras, lavem as mãos e evitem aglomerações. Sob o ponto de vista econômico, o mais simples e rápido é o que está sendo feito: abrir as torneiras, injetar dinheiro público na roda, esquecer os fundamentos da macroeconomia e saberá Deus como isso vai terminar (se é que vai terminar). Mas não basta, a gente sabe. Para nós, agências, e o mercado de comunicação, as mudanças tão radicais não assustaram tanto. Na E3, antes da pandemia, já criamos importantes campanhas com o diretor de arte morando em Portugal, o redator no Rio e a mídia em Campinas. O novo normal já era normal no antigo normal. Essa realidade de trabalho remoto não é só da E3, mas uma realidade em todo o mercado de comunicação e outras áreas, como o mercado financeiro, por exemplo. Agora, somos confrontados a buscar ainda mais formas inovadoras de chamar a atenção do consumidor e usar a Inteligência Artificial para cruzar os dados coletados e gerar uma ação mais eficiente para os nossos clientes. É dessa maneira que estamos construindo a E3 2021. Cada vez mais a tecnologia e suas possibilidades avançam em todos os processos. E assim começa a nossa “nova vida”. Na E3, muito em breve, voltaremos à antiga rotina, mas de um jeito totalmente novo, atendendo a todos os protocolos e reestruturando as nossas estruturas físicas. A ideia é que, no médio prazo, menos gente esteja presencialmente nos escritórios e mais gente esteja em casa, além de contar com um processo constante de rodízios entre colaboradores. Por fim, um desabafo pessoal: que saudade de poder concretizar um negócio com um aperto firme de mãos. Que saudade de compartilhar momentos importantes com amigos e familiares, que saudade de viajar... Tudo isso está aos poucos voltando, de um jeito novo, evidentemente, mas e daí? Mais importa fechar um negócio do que o aperto de mãos, mais importa ter pessoas que amamos com saúde, mais importa viajar, nem que o sorriso na foto esteja encoberto por uma máscara que está ajudando a salvar vidas.*Rubens Ribeiro é publicitário, formado pela Universidade Metodista de Piracicaba, com experiência de 20 anos em comunicação pública. Sócio proprietário da E3, agência responsável pelas contas das Prefeituras do Rio de Janeiro, Niterói, Campinas, Barueri, Suzano, além do Departamento de Águas e Esgoto de Jundiaí e do Conselho Federal da Ordem dos Advogado do Brasil.

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