NA CONTRAMÃO

O Natal daquele que, por algum motivo, não receberá abraços

Causas diversas levam famílias a se dividirem em data conhecida pela união

Verônica Guimarães/ vero.guimaraes@rac.com.br
24/12/2022 às 09:35.
Atualizado em 24/12/2022 às 09:35

Isolada em sua casa por causa da covid, Ana Clara terá de abrir mão de passar o Natal em família este ano (Rodrigo Zanotto)

Natal é uma data familiar, porém, nem todos têm a felicidade de desfrutar desse momento. E os motivos são vários: desde casos de desavenças pessoais até longas distâncias a separar as pessoas. Tem ainda o caso de quem, por questões financeiras, terão um Natal diferente.

Segundo a psicóloga Luciene Cristina Rosseto, o Natal dá sim uma conotação de família em que a união visa a confraternização e o agradecer o ano que está terminando. "Desde a vinda da pandemia, os isolamentos se tornaram mais frequentes, inicialmente por conta dos riscos de contaminação e, atualmente, porque muitas ainda estão em recuperação financeira vinda desse processo que a gente ainda vivencia", conta ela.

A orientação que Luciene faz é que se busque minimizar o sentimento de tristeza ou isolamento com algumas ações. "Nada substitui o contato físico. Mas há como diminuir a distância. Uma delas é o uso da tecnologia. Ela existe e é para isso mesmo, nos aproximar independente da distância".

Outra dica é manter as características da tradição da família. "É legal organizar uma ceia, por mais simples que seja. Além disso, enfeitar a casa com os motivos natalinos, como luzes e a árvore decorada". Manter a rotina do que seria vivenciado pode ajudar a afastar o sentimento de isolamento e a curtir um pouco mais a Festança. "Importante é fazer se sentir bem", finaliza.

A Ana Clara Naletto Xavier e o namorado terão um Natal isolados. No caso deles, o isolamento acontece em função da covid. "Esse seria nosso primeiro Natal com as duas famílias, que estarão em São Paulo e Guarulhos". Ela conta que os planos eram muitos até então. "Para nós era algo impensável, já que priorizamos e muito nossos momentos em família. Não foi uma opção de escolha".

Ana Clara conta que mesmo já em casal, chegaram a passar a época de festas separados para que ambos pudessem estar com as famílias. "Neste ano, a família dele terá um encontro grande, com familiares do sul do país e uma prima que mora do outro lado do Atlântico, na Irlanda. Não poderemos estar juntos", lamenta. Além disso, ela conta que sua avó de 89 anos sentiu a necessidade do isolamento, "ela disse que estaria torcendo até o último minuto para que a gente pudesse se juntar à família".

Para que não se sintam tão isolados, farão chamadas de vídeo com os familiares. "Será a nossa maneira de participar um pouco. Foi bem difícil e triste aceitar essa realidade, o mundo pareceu cair quando o médico afirmou que na data ainda estaríamos em isolamento". E, para fazer da data algo feliz entre eles, ela afirma que planejaram uma ceia especial.

O advogado paraense Rafael Ferreira Gomes, morador de Campinas há oito anos vai passar o Natal sozinho sem qualquer membro da família pela primeira vez este ano em função dos custos. "Para eu ir até o Pará fica caro, decidi por não ir esse ano. Essa é uma situação inédita para mim. Sou muito ligado aos meus e sempre acontece da família toda se reunir em Belém. Não vou fazer nada, vou ficar em casa mesmo com meus dois pets, que é a minha família aqui".

Rafael conta que recebeu algumas propostas de amigos para não passar a data sozinho, mas prefere ficar em casa. Ele diz ainda que para se sentir mais perto da família, fará chamada de vídeo. "A gente sempre faz chamadas de vídeos para matar a saudade e vou fazer também no Natal. Vou poder conversar e sentir mais perto minha mãe, meus avós, tios e tias e também meus primos. Só não estarei mesmo de maneira presencial com eles", finaliza.

Embora casada e com três filhos, Juliana Valéria Monteiro Feitosa, corretora de imóveis, conta que neste ano a opção foi não juntar a família toda. Ela conta que em outubro houve um desentendimento em que resultou no afastamento dos pais e de um dos filhos. "Para a minha família é lei se juntar no período de festas. Mas esse ano, assumo que por orgulho e teimosia, não estarei com meus pais. Até achei que chegando mais próximo a dezembro a questão estaria resolvida, mas não aconteceu", conta.

Ela afirma que sente um vácuo com a falta e emocionada conta que "o coração está apertado, passam mil coisas na cabeça. Não imagino como será a ceia de Natal sem eles. Está um clima tenso e ruim", compartilha.

Kumiho Lim, veterinário e que sofreu transição de gênero há alguns meses, vai passar mais uma data festiva sem se encontrar com a família de origem. Ele conta que o posicionamento político e ideológico é algo que o afeta a relação. "As brigas sempre existiram e não tinham relação direta com minha orientação sexual, que de fato aconteceu depois do meu afastamento. Mudei de cidade e depois da mudança não falei mais com minha mãe e poucas vezes com meu pai. Sei que uma possível ida até lá terminaria em conflito, a maneira de enxergar a vida é um ponto de atrito".

O veterinário conta que teve na família do marido o acolhimento que não encontrou na sua. "Tenho meu marido e meu filho como minha família atual e vamos para a casa dos meus sogros, onde tive acolhimento. Meus pais sequer sabem da minha transição de gênero e do meu novo nome, enquanto meus sogros fazendo todo o possível para me respeitar e me sentir bem-vindo". 

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