campinas, 246 anos

O combate dos heróis da Saúde

Médicos foram fundamentais na luta contra a febre amarela em Campinas

Francisco Lima Neto
14/07/2020 às 11:31.
Atualizado em 28/03/2022 às 21:33
O alemão Germano Melchert : zelo com os pobres (Reprodução)

O alemão Germano Melchert : zelo com os pobres (Reprodução)

Os médicos, é claro, tiveram um papel fundamental no socorro às vítimas da febre amarela em Campinas. Em especial, no ano de 1889, quando a doença misteriosa apavorou a todos, levando a maioria a fugir da cidade. De acordo com o historiador Jorge Alves de Lima, em seu livro O Ovo da Serpente, Campinas 1889, dos 23 médicos que aqui clinicavam, poucos ficaram. Entre eles: Dr. Ângelo Simões, Dr. Germano Melchert e Dr. João Guilherme Costa Aguiar. Ângelo Jacinto Simões Junior era carioca, mas passou boa parte da vida em Campinas. Tratou de milhares de pessoas, mas perdeu quatro filhos para a febre amarela, ainda assim, não abandonou o trabalho. Foi chefe do atendimento médico da Santa Casa de Misericórdia. Também teve destaque com o uso de água clorada para o tratamento da febre amarela. Era muito querido e recebeu diversas homenagens. Contudo, ele nunca teria se recuperado da perda dos filhos. Se matou em seu consultório, em 1907. No início da doença, Dr. João Guilherme Costa Aguiar, enviou a esposa e o filho pequeno para uma fazenda em Itu, que pertencia ao sogro. Ficou em Campinas, onde mantinha consultório na Rua Riachuelo. Passou a atender na enfermaria do Circolo Italiano Uniti. Quando a doença começou a declinar, decidiu passar uns dias com a família em Itu. Mas quando chegou lá percebeu que estava com febre amarela. Pediu que chamassem o colega, Dr. Eduardo Guimarães, que salvou José Paulino da mesma doença. Infelizmente, quando o colega chegou já não havia o que fazer. Morreu em 19 de maio. Sua partida causou grande comoção na cidade, principalmente, entre os mais necessitados. Uma figura notável nessa época de desespero foi a francesa Maria dos Seraphins Favre, da Congregação das Irmãs de São José. Mais conhecida como Irmã Serafina. A devota abnegada, estava em Campinas desde 1876. Era umas das que dirigiam a Santa Casa de Campinas e cuidava da enfermagem. Foi cedida junto com outra irmã para cuidar do Lazareto dos variolosos. Ali se contaminou e adoeceu. Foi cuidada na Santa Casa por Ângelo Simões, mas não resistiu. Morreu em 15 de abril, aos 44 anos. Germano Melchert era alemão, nascido em 1844. Se mudou para Campinas em 1874. Atendeu a suíça Rosa Beck e muitos outros pacientes. Tinha zelo especial com os pobres. Foi vereador em Campinas com bom trato no meio político. Outro ilustre que fez parte da história de Campinas foi o médico sanitarista Emílio Marcondes Ribas. Nascido em Pindamonhangaba, aos 34 anos foi nomeado pelo então governador do estado Manuel Ferraz de Campos Sales para assumir o enfrentamento da febre amarela em 1896. Instalou a Comissão Sanitária, com o nome de Desinfectório Central de Campinas, no prédio do Mercado Municipal, que ficava onde hoje é o Colégio Carlos Gomes, na Av. Anchieta. Dividiu a cidade em cinco distritos. Cada um era chefiado por um médico e um inspetor. Faziam inspeções e desinfecções. Mesmo sem saber que o mosquito transmitia a doença, de forma intuitiva acabou com os locais com água parada e sujeira, o que fez com que a cidade controlasse a situação. Personagem que não era médico, mas muito importante na luta, foi o engenheiro Francisco Saturnino Rodrigues de Brito. Depois de minuciosos estudos, propôs um novo plano de abastecimento de água, construiu um canal de saneamento e galerias para a drenagem e canalização dos riachos que cortavam a cidade e um novo sistema de esgoto. Todas as medidas implementadas permitiram que Campinas superasse aquele mal. Tinha 32 anos quando chegou por aqui.

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