EM CAMPINAS

Número de MEIs dobra em somente cinco anos

Em março eram 122.751 microempresas individuais cadastradas

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
10/04/2024 às 09:17.
Atualizado em 10/04/2024 às 09:17
Eduardo Augusto da Silva trocou a atividade de motoboy pela de cabeleireiro autônomo: "Como MEI, pelo menos, a gente tem aposentadoria” (Rodrigo Zanotto)

Eduardo Augusto da Silva trocou a atividade de motoboy pela de cabeleireiro autônomo: "Como MEI, pelo menos, a gente tem aposentadoria” (Rodrigo Zanotto)

O número de microempreendedores individuais (MEIs) em Campinas praticamente dobrou nos últimos cinco anos. O total saltou de 61.700, em fevereiro de 2019, para 122.751, no mês passado, de acordo com balanço divulgado pela Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), com base no banco de dados da Receita Federal. Para a economista e pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Cesit/Unicamp), Marilane Teixeira, o aumento se deve principalmente ao empreendedorismo por necessidade, pessoas que perderam o emprego e que buscam na atividade autônoma uma forma de renda, situação que se agravou após a pandemia de covid-19.

"O empreendedorismo é uma alternativa diante das dificuldades de se manter no mercado de trabalho formal", explicou a especialista. Entre os optantes por se MEI, 66.325 são homens, o equivalente a 54,04% do total, e 56.427 são mulheres, participação de 45,96%. A principal atividade dos microempreendedores individuais de Campinas é a de cabeleireiro, com 8.255 inscrições, o equivalente a 6,72%, ou seja, uma em cada 15 declarações. É nesse segmento que Eduardo Augusto da Silva atua diante da dificuldade de conseguir um emprego com carteira registrada. "Ninguém mais registra motoboy, é muito difícil", justificou o agora microempreendedor, que atuou na atividade por 24 anos, fazendo entrega de documentos e alimentos.

"Como MEI, pelo menos, a gente tem aposentadoria e benefícios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)", afirmou. A contribuição como microempreendedor, que varia de R$ 71,60 a R$ 76,60 por mês, dependendo da atividade, garante acesso a auxílios como maternidade, doença, acidente de trabalho, morte e reclusão. Depois de deixar a função de motoboy em busca também de uma renda maior, Eduardo Augusto passou a fazer marmitas, mas foi como cabeleireiro que se estabeleceu.

JORNADA

As MEIs locais atuam em torno de 350 atividades, com as cinco com maior número de optantes sendo formadas ainda por promoção de vendas (6.926), preparação de documentos e serviços de apoio administrativo (5.889), comércio de vestuário e acessórios (5.193) e transporte rodoviário de carga (4.714). Os microempreendedores individuais têm a maior taxa de mortalidade entre os pequenos negócios, com 29% fechando após cinco anos de atividades, de acordo com estudo feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Já as microempresas têm taxa de mortalidade intermediária, 21,6% para os mesmos cinco anos de atividades.

A entidade apontou a principal causa de fechamento de MEIs é o pouco preparo pessoal, com 59% declarando que estavam desempregados e abriram o próprio negócio por necessidade e 58% não buscaram nenhuma capacitação antes de empreender. Também contribuem para o encerramento das atividades o planejamento de negócio ineficiente e a gestão problemática.

Para ajudar os MEIs a não aumentarem essa estatística, a Acic realizou na terça-feira (9) a "Jornada Empreendedora", com os consultores empresariais Victor Barboza, que abordou a gestão empresarial, e Hélio Moraes, que destacou a importância do marketing digital para as negócios de todo os portes, do microempreendedor a grande empresa.

Para Victor Barboza, algo que é fundamental e simples, mas muitos não fazem, é separar as despesas da pessoa física e da jurídica. É não usar o dinheiro da empresa para pagar o supermercado, por exemplo. "O CPF e o CNPJ não podem usar a mesma receita", afirmou o especialista em finanças. Ele disse ainda que "é importante que tenham um sistema de gestão, seja uma planilha, um caderno ou um programa, existindo aqueles voltados para pequenas empresas". Esse controle, explicou Victor Barboza, irá gerar informações importantes para o sucesso do negócio, como definir o preço do produto, conhecer o mercado em que atua, o perfil do cliente e identificar o item mais vendido.

RESULTADO POSITIVO

Esse cuidado ajudou Antonio César Marcelino a crescer, investindo também em atendimento e qualidade do produto oferecido. Depois de 11 anos trabalhando em indústria de alimentos, em 2018 ele pediu as contas e se cadastrou como MEI para vender queijos na rua, usando o carro da família. "Eu havia chegado ao topo da carreira, não tinha para onde ir. Virava chefe ou ficaria estagnado", disse César Marcelino, que deixou o emprego de operador sênior para apostar no negócio próprio.

Dois anos depois, abriu uma microempresa porque o faturamento anual ultrapassou o limite, na época, de R$ 80 mil para atuar como microempreendedor individual. Hoje, ele tem uma loja aberta no Jardim Nova Europa, contando com a ajuda da mulher e do filho mais velho. Além disso, roda com um furgão adquirido no ano passado para atender os clientes que conquistou na rua, percorrendo empresas, casas e condomínios. O microempresário diz, com orgulho, que projetou o interior do veículo, contratando um profissional para fazer as prateleiras. O furgão tem praticamente os mesmos produtos da loja, como queijos, doces, biscoitos, vinhos, sucos, pão de queijo e outros itens. "Com o furgão, atendo em torno de mil clientes, percorrendo um roteiro a cada 15 dias, mas as vendas da loja estão em alta", afirmou César Marcelino, satisfeito com a evolução do negócio. O slogan da empresa é "trazendo os melhores produtos de Minas até você."

Para o consultor de marketing digital Hélio Moraes, essa é uma ferramenta essencial para todo empresário ser bem-sucedido em sua atividade. "A vida do empreendedor não é fácil", disse ele, acrescentando que é preciso sempre divulgar a empresa e também as realizações pessoais, como curso realizados, participação em eventos e outras atividades. "É preciso mostrar que não está parado no tempo", afirmou. 

De acordo com o especialista, em um mundo em que todos usam o telefone celular e estão conectados a internet, o empresário tem que usar os recursos disponíveis para aumentar as vendas, como sites e redes sociais, mas realizando um trabalho feito com foco e qualidade. "Tem que ser rápido para responder o cliente que usa o chat ou WhatsApp para entrar em contato. Se demorar, ele desiste e dificilmente voltará a fazer contato", explicou. Ele apontou ainda que é preciso desenvolver campanhas voltadas especificamente para os clientes digitais e incentivá-lo a interagir com a empresa. "Quando você faz a venda, aí que começa o processo. Tem que cativar o cliente, fazer que ele fale de você, que ele avalie você (nas plataformas digitais)", disse Hélio de Moraes. O consultor exemplificou que as estrelas dadas ou as avaliações feitas na internet vão influenciar outros possíveis compradores.

De acordo com o balanço divulgado pela Acic, Campinas concentra 38,91% dos 315.479 microempreendedores individuais cadastrados na Região Metropolitana. Sumaré aparece em segundo lugar, com 28.070, seguido por Hortolândia (26.315). Já a RMC tem participação de 7,3% entre os 4,3 milhões de MEIs declarados no Estado de São Paulo.

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