CONTAS EM ATRASO

Número de inadimplentes na RMC bate recorde, com alta de 1,23%

Em março, a Região Metropolitana de Campinas registrou 1,09 milhão de devedores

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
19/05/2023 às 09:17.
Atualizado em 19/05/2023 às 09:17
Alto nível de inadimplência fez lojas mudarem suas estratégias de venda, um estabelecimento do Centro de Campinas parou de ter crediário próprio e passou a aceitar apenas cartão de crédito reduzindo o número de devedores (Rodrigo Zanotto)

Alto nível de inadimplência fez lojas mudarem suas estratégias de venda, um estabelecimento do Centro de Campinas parou de ter crediário próprio e passou a aceitar apenas cartão de crédito reduzindo o número de devedores (Rodrigo Zanotto)

A inadimplência voltou a subir em março na Região Metropolitana de Campinas (RMC), com alta de 1,23% em relação a fevereiro, e bateu novo recorde. O número de devedores chegou a 1.090.300, o equivalente a 34,07% da população de 3,2 milhões de pessoas RMC, ou seja, um em cada três moradores tem contas em atraso, de acordo com relatório divulgado pela Serasa Experian. Em comparação a março de 2022, quando o total era de 1,045 milhão, o aumento foi de 4,29%.

O relatório da empresa de análise de crédito mostra que, em quatro anos, 97.690 novos inscritos entraram na lista de devedores. É como se toda a população de Paulínia passasse a ter alguma dívida. Em março de 2019, o número de inadimplentes era de 992.894 pessoas na RMC. O número de nomes negativados no terceiro mês representa uma alta de 9,84% na comparação com mesmo período de 2019, ano a partir do qual estão disponíveis os dados da empresa.

O total das dívidas em março foi de R$ 6,24 bilhões, aumento de 25,45% em relação aos R$ 4,97 bilhões de igual mês de 2022. Na comparação com o terceiro mês de 2019, o crescimento foi 27,75%, quando o montante era de R$ 4,88 bilhões. Segundo a Serasa, em quatro anos, o valor aumentou R$ 1,35 bilhão.

PESA

A vendedora autônoma Maria Souza Santos estimou que acumula uma dívida de R$ 40 mil que começou há cinco anos e que não para de crescer. “Antes, tinha nome limpo na praça. Agora, não mais”, disse ela, que tem dívidas atrasadas de diversas origens, como contas de água, luz, celular, internet e cartões de crédito.

Morando sozinha, Maria paga os débitos de serviços essenciais o suficiente para evitar o corte e não tem nenhuma perspectiva de quitar as outras contas. “Se eu ganhasse R$ 2 mil por mês, estaria bem, não teria mais dívidas”, disse. De acordo com a vendedora, o alimento que chega à mesa muitas vezes são de cesta básica que ganha da igreja ou de outras entidades.

O alto nível de inadimplência fez até lojas mudarem suas estratégias de venda. Há três anos, um estabelecimento do Centro de Campinas parou de ter crediário próprio e passou a aceitar apenas cartão de crédito. “O custo até aumentou, mas o risco passou a ser da operadora do cartão, não mais da loja, que agora recebe tudo em dia”, disse o gerente Matheus Villaverde.

Ele acrescentou que a empresa reduziu as promoções e deixou de trabalhar com itens mais baratos. “O número de clientes que entram na loja diminuiu, mas o valor médio das vendas e o faturamento aumentaram”, disse. O resultado é que a loja, que foi fundada há quase 50 anos, elevou o lucro e segue aberta.

JUROS E DESEMPREGO

Para o economista-chefe da Serasa Experian, Luiz Rabi, “a inflação e os juros altos são os principais fatores que explicam o atual cenário” de alta da inadimplência. Ele acrescentou que contribuiu também a sazonalidade desfavorável do começo do ano, quando ocorrem muitas despesas extras típicas, como o início do pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).

“As pessoas ainda utilizam o cartão de crédito, por exemplo, para fazer compras básicas, como alimentação e remédios. Por isso, a relação com o parcelamento também deve ser pautada com base na organização financeira, para que não se torne mais uma dívida”, completou. Para a economista Alessandra Ribeiro, a redução da inadimplência ocorrerá somente com uma mudança na macroeconomia nacional.

De acordo com ela, somente com o aumento na oferta de emprego, da renda dos trabalhadores e queda dos juros é que se criará um quadro em que as pessoas terão condições de quitar as dívidas. Essas mudanças, explicou, serão reflexo do crescimento da economia e dos investimentos no País. “Com a melhora esperada para a renda (das pessoas) e do mercado de trabalho, esses débitos serão quitados”, afirmou.

COMPARAÇÕES

Na Região Metropolitana de Campinas, o maior do tíquete médio por dívida é de Hortolândia, onde o valor é de R$ 1.953,94, segundo a Serasa. O município fechou março com 88.058 inadimplentes, o que dá uma média de três em cada grupo de 11 pessoas. A média leva em conta a prévia da população apontada pelo Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que é de 246.449 moradores.

Em Campinas, o tíquete médio é de R$ 1.454,99. A cidade tem 431.063 devedores inscritos na Serasa, com o total da dívida sendo de R$ 2,55 bilhões. Responsável por 31,03% das dívidas, o cartão de crédito continua sendo o segmento com o maior número de brasileiros inadimplentes, seguido pelas contas básicas, o que inclui luz, água e gás, (22,02%), e pelo setor de varejo (11,29%). Em comparação a março de 2022, as contas com bancos e cartões tiveram aumento de 2,86 pontos percentuais, enquanto os outros dois segmentos demonstraram queda.

Em março de 2022, os serviços essenciais tinham uma participação de 23,21% do montante das dívidas, enquanto o varejo representava 12,62%. A inadimplência no Brasil chegou em março a 70,71 milhões de pessoas, alta de 0,255% em comparação aos 70,53 milhões de fevereiro, segundo a Serasa. Em apenas um mês, 180 mil pessoas foram incluídas na lista de devedores da empresa. O montante da dívida em março no País foi de R$ 334,5 bilhões, alta de 2,42%.

Apesar de atingir um novo recorde, a proporção de inadimplentes em relação a população na RMC é inferior a média do Estado de São Paulo. Enquanto na região é de 34,07%, chega a 44,97% no Estado, de acordo com o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas da Serasa. Segundo o levantamento, a maior proporção é no Rio de Janeiro, 52,65%. A média nacional é de 43,43%.

O relatório da empresa de análise de crédito mostra que 50,3% dos inadimplentes são mulheres, enquanto os homens são 49,7%. Entre os devedores, 69,5% do total estão na faixa etária entre 26 e 60 anos. Em março, 4,15 milhões de acordos no País foram fechados pela Serasa para pagamento de dívidas. Foi o segundo maior número em um mês desde janeiro de 2022, ficando atrás apenas de novembro passado, quando foram feitos 4,6 milhões de acordos. O valor médio dos acertos em março foi de R$ 744,17.

Além do aumento da inadimplência entre as pessoas físicas, a Serasa registrou em fevereiro deste ano crescimento entre as empresas. Entraram na lista de negativação 6,5 milhões de empresas, o maior número de toda a série histórica, iniciada em janeiro de 2016. A maior parte das empresas que estão na lista de inadimplência é do setor de serviços, representando 53,8% do total. Em sequência estão as do comércio (37,3%), indústria (7,7%), agropecuária (0,8%) e outros (0,4%), que inclui a área financeira e de terceiro setor.

Para o economista Luiz Rabi, a curva crescente na inadimplência dos consumidores acaba impactando também as empresas. “Mesmo que existam oscilações positivas e alguns empreendedores consigam quitar suas dívidas, como aconteceu em janeiro, a melhoria contínua da inadimplência dos empreendimentos depende muito do cenário de negativação entre os consumidores”, disse.

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