saúde

Número de geriatras está defasado no País

A Organização das Nações Unidas estima que, em 2050, uma pessoa a cada cinco terá mais de 60 anos, quase o dobro da relação atual de um para nove

Rafaela Dias
22/10/2017 às 14:43.
Atualizado em 22/04/2022 às 17:55
Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas considera urgente a formação de geriatras e ações de prevenção para atender demanda crescente (Leandro Ferreira)

Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas considera urgente a formação de geriatras e ações de prevenção para atender demanda crescente (Leandro Ferreira)

O envelhecimento da população pode ser um indicativo de melhoria na qualidade de vida. Mas esse prolongamento pode se tornar um problema sem cuidados médicos adequados. A Organização das Nações Unidas estima que, em 2050, uma pessoa a cada cinco terá mais de 60 anos, quase o dobro da relação atual de um para nove. Isso significa que, em 2050, haverá pela primeira vez mais idosos do que crianças e jovens abaixo dos 15 anos no planeta. No Brasil, o panorama não é diferente. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os idosos são 23,5 milhões, o equivalente a 12,1% da população total. Apesar de ser uma parcela bastante significativa da população, e com demandas de saúde específicas, no País, o número de geriatras — médico especialista no cuidado de pessoas idosas — ainda é muito pequeno. Segundo dados do Conselho Federal de Medicina, existem 1.405 geriatras no Brasil. Ou seja, um para cada 24 mil idosos, sendo que a Organização Mundial da Saúde recomenda que essa relação seja de um para mil. A falta de profissionais é tema urgente para a médica geriatra e presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas, Fátima Bastos. “A prevenção é o que mais ajuda o paciente na área da geriatria. Mas falta incentivo das próprias universidades, que só recentemente incluíram a saúde do idoso como disciplina. Ainda existem faculdades no País que nem se quer discutem o assunto”, lamentou. Para a especialista, outro assunto que deve ser discutido é a remuneração dos poucos profissionais que estão no mercado. “É preciso estímulo para mudar esse quadro. Não ganhamos por volume e sim por qualidade e se trata de uma especialidade muito árdua pois os atendimentos são longos e os tratamentos difíceis de ser explicados por se tratarem de idosos”, explicou a médica.   Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), o País não pode contar com a formação de novos médicos geriatras. “Não temos e não teremos médicos e precisamos lidar com essa realidade. Muitos dos profissionais formados na área já possuem certa convivência com pessoas acima de 60 anos. A solução é que todos os médicos de todas as especialidades tenham formação mínima nessa área. Para isso, já fizemos em São Paulo um curso com mais de quatro mil profissionais. Um universo pequeno diante de tanto déficit, mas que pode aliviar a demanda”, disse a presidente do Departamento de Gerontologia, Claudia Fló. O que alivia a situação é que, de acordo com o órgão, 60% dos idosos do País estão saudáveis. “Temos que continuar insistindo em políticas de prevenção. Essa é a única maneira de cuidar da população que está envelhecendo”, disse. Campinas A Região Metropolitana de Campinas (RMC) chegará a 2050 com 3,47 milhões de habitantes. A população com menos de 15 anos, que era de 1.285.210 pessoas em 2010, vai perder 343,9 mil jovens até 2050, enquanto a de maiores de 60 anos, que era formada por 738.269, vai ganhar 1,59 milhão de pessoas — ou seja, triplicará. O envelhecimento da população é uma tendência geral, mas impactará de forma mais intensa determinadas regiões. Na Região Administrativa de São José do Rio Preto, por exemplo, a participação de idosos será quase cinco pontos percentuais acima da média do Estado em 2050 — essa tendência é observada também em regiões como a de Barretos e a Central. Em contraste, determinadas regiões terão participação de crianças e adolescentes até 15 anos acima da média estadual, caso das de Registro, Baixada Santista e Grande SP. Para a aposentada Francisca Tibúrcio Ferro, de 70 anos, e que chegou recentemente a Campinas, é preciso investimento público na saúde. “Cheguei esses dias de Maceió. Lá cheguei a ir ao geriatra três vezes, e tive um bom atendimento, mas no geral, o serviço de saúde pública deixa a desejar. Precisamos de mais investimento, de boa gestão e de políticas de prevenção”, afirmou. Diabética, Aparecida Maria Ferreira, de 81 anos, vai periodicamente ao geriatra por causa da doença. Mas, como tem plano de saúde, ainda não enfrentou problemas com a falta do especialista. “Tenho plano, então, mesmo que demore o agendamento da consulta, nunca deixei de ser atendida. Mas não fazia ideia de que faltavam tantos médicos assim. Com a população envelhecendo, e nós idosos que vamos envelhecer ainda mais, isso pode se tornar um problema grave.” Fazendo parte da percentagem saudável da população idosa está Floriano de Barros Filho, de 70 anos. “No momento, estou muito bem. Como minha esposa é fisioterapeuta, temos muita consciência da prevenção. Sem dúvida esse deveria ser um investimento no Brasil. Não tratar doenças, mas previni-las”, disse. E muitos sequer sabem que existem especialistas em envelhecimento. “Nem sabia que existiam médicos especialistas para idosos”, disse Maria Teixeira da Silva Santos, de 57 anos. Já o aposentado Antônio Benedito da Silva, de 73 anos, disse que nunca foi informado de que havia médicos especialistas disponíveis no sistema de saúde. “Sempre fui atendido pelo médico que estava lá”, disse. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, Campinas possui geriatras disponíveis para atendimento no serviço público, mas os clínicos gerais também estão aptos para atender os idosos na rede.

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