ESCALADA DA DOENÇA

Número de casos de dengue aumenta 247% em Campinas

No Estado, o avanço da dengue foi de 170% nos óbitos e 30% nas infecções

Ronnie Romanini / [email protected]
07/06/2022 às 10:50.
Atualizado em 07/06/2022 às 10:50
Agentes da campanha de prevenção à dengue avaliam situação de piscina abandonada em quintal de residência em Campinas: equipes pedem colaboração dos moradores (Kamá Ribeiro)

Agentes da campanha de prevenção à dengue avaliam situação de piscina abandonada em quintal de residência em Campinas: equipes pedem colaboração dos moradores (Kamá Ribeiro)

O primeiro semestre de 2022 ainda nem terminou e o estrago feito pelo mosquito da dengue em Campinas, assim como em todo o Estado de São Paulo, já é bem superior ao do ano passado. O número de infecções na cidade aumentou 247,71%, comparando os cinco primeiros meses de 2021 com 2022. Foram 7.448 pessoas infectadas entre 1º de janeiro e 30 de maio, de acordo com a última atualização da Prefeitura, contra 2.142 casos no mesmo período do ano passado. Uma morte em decorrência da doença foi registrada neste ano, no dia 7 de abril. A Região Metropolitana de Campinas (RMC) tem duas cidades entre as cinco com mais vítimas no ano: Americana, que na semana passada confirmou a sétima morte, e Santa Bárbara d'Oeste, que tem seis.

A mesma situação de escalada da dengue é verificada em todo o Estado de São Paulo. Enquanto no decorrer de todo o ano passado foram contabilizados 145,8 mil casos, com 71 mortes, até a metade de maio deste ano, o quadro de infectados atingiu a marca de 153,3 mil casos e 119 vidas perdidas. Agora, comparando os dados deste ano com o mesmo período de 2021 - que contabilizou 117,5 mil infecções 44 mortes - o avanço da dengue foi de 170,45% nos óbitos e de 30,46% nos registros de contaminação.

O assessor técnico da Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD) da Secretaria Estadual de Saúde, Dalton Fonseca Junior, admitiu que o aumento de casos de um ano para o outro era esperado e que uma elevação proporcionalmente ainda maior nos óbitos pode se dar por inúmeros fatores. Ele explicou que a dengue é uma doença sazonal, então a cada dois, três anos, acontecem picos da doença. Como nos dois últimos anos houve restrições por causa da covid-19 e dificuldade dos agentes municipais vistoriarem os imóveis, houve um aumento na infestação.

Para o assessor da Prefeitura, o aumento da densidade do vetor facilitou a dispersão do vírus que está circulando na população. "Com relação aos óbitos, como houve um número elevado de casos de covid-19, uma parte das infecções por dengue pode ter sido em pessoas que já tiveram a doença, e ficaram com o sistema imunológico sensibilizado", disse.

A coordenadora do Programa Municipal de Controle de Arboviroses do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) da Prefeitura, Heloísa Malavasi, acrescentou que é um fator de gravidade ter repetidas infecções de dengue, assim como a falta de orientação em relação à hidratação adequada, que precisa ser intensa para que o quadro não se agrave. Além disso, ela explicou que uma demora na procura pelo atendimento também prejudica a condição do paciente.

Mesmo com o aumento dos casos de covid-19 no último mês, a orientação é que ninguém fique com medo de procurar uma unidade de saúde em caso de suspeita de dengue, ou incerteza se os sintomas sentidos são de alguma arbovirose. "Os serviços de saúde estão capacitados para fazer o diagnóstico e o atendimento. A dengue tem alguns sintomas específicos, por exemplo, uma dor de cabeça intensa na parte frontal e dor atrás dos olhos - como se estivessem espetando algo atrás deles. Há também as dores intensas nas articulações, quando é difícil dobrar o braço, levantar peso. Por fim, manchas avermelhadas que coçam e aparecem espalhadas pelo corpo é outro sintoma característico. Caso sinta uma dor abdominal, aí a recomendação é a de procurar urgentemente um serviço de saúde, pois este é um dos sinais de que você está evoluindo para uma dengue grave", acrescentou Fonseca.

Diante da situação da dengue, o governo do Estado de São Paulo decidiu investir R$ 10,7 milhões para ajudar 291 cidades no controle das arboviroses, como a própria dengue, mas também zika e chikungunya. A ideia é intensificar as fiscalizações em residências para eliminar possíveis criadouros e conscientizar a população para a adoção de medidas que evitem a proliferação dos insetos. "Nós monitoramos o aumento dos casos de dezembro do ano passado até março e aí, no final de março, a Secretaria avaliou a importância de um apoio extra aos municípios, em termos financeiros, até pelo custo que eles tiveram nos últimos dois anos com a pandemia de covid-19. A proposta foi a de R$ 1,00 per capita, ou seja, R$ 1,00 por habitante do município. As cidades selecionadas foram as que registraram infestação muito elevada, com larvas (do Aedes aegypti) encontradas em mais de 3,9% dos imóveis, e nos lugares que já apresentavam uma incidência acima de 300 casos por 100 mil habitantes no fim de março. Feita a avaliação, o total de municípios nessas condições foi de 291", explicou o assessor técnico.

Agora, no período com menos chuvas e temperaturas mais baixas, a tendência é que os casos diminuam até o final do ano. Porém, para que isso aconteça, é necessária a contribuição da população. Um levantamento do Devisa apontou que 80% dos criadouros estão dentro das residências.

"Precisamos que, de fato, a população fique mobilizada e não tenha criadouros em casa e no ambiente de trabalho. Quanto maior for a transmissão no segundo semestre deste ano, pior será o nosso cenário para o ano que vem. A ação tem que ser contínua e só assim conseguiremos reduzir o número de casos", concluiu Heloísa.

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