RADIOGRAFIA DA SÍNDROME

Número de casos de Aids em 2023 é o menor em 10 anos

Pesquisa mostra que a doença atinge atualmente público cada vez mais jovem

Isadora Stentzler/ [email protected]
09/12/2023 às 09:04.
Atualizado em 09/12/2023 às 09:04
O Centro de Referência DST/Aids, localizado na Rua Regente Feijó, no Centro de Campinas, oferece serviços e acompanhamento para pessoas que já desenvolveram a doença; todas as unidades de saúde do município oferecem testes rápidos para o HIV e indivíduos que tenham tido relações de risco são encorajados a realizar o teste (Rodrigo Zanotto)

O Centro de Referência DST/Aids, localizado na Rua Regente Feijó, no Centro de Campinas, oferece serviços e acompanhamento para pessoas que já desenvolveram a doença; todas as unidades de saúde do município oferecem testes rápidos para o HIV e indivíduos que tenham tido relações de risco são encorajados a realizar o teste (Rodrigo Zanotto)

Em 2023, Campinas testemunhou uma significativa diminuição no número de casos de Aids, marcando o menor índice dos últimos dez anos, conforme indicam os dados fornecidos pela Secretaria de Saúde local. Apenas 49 pessoas foram diagnosticadas com a doença, em comparação com os 122 casos registrados no ano anterior. Adicionalmente, uma análise parcial revela uma leve redução nas notificações de infecções por HIV durante o mesmo período. No entanto, é importante ressaltar que o perfil dos casos demonstra uma tendência de rejuvenescimento.

O HIV, vírus causador da Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em inglês), pode levar ao desenvolvimento da doença caso não seja tratado. Indivíduos portadores do HIV que não buscam tratamento correm o risco de desenvolver a Aids, aumentando as chances de complicações de saúde e mortalidade. Vale ressaltar que nem todas as pessoas infectadas pelo HIV manifestam a doença, e aqueles que a desenvolvem geralmente estavam infectados por um período mais longo. Nesse contexto, os indicadores locais se dividem entre casos de infecção por HIV e casos de Aids.

PERFIL DA AIDS

Conforme dados reveladores dos últimos dez anos, o município de Campinas testemunhou um total de 1.708 casos de Aids, destacando-se o ano de 2023 como o de menor incidência e 2013 como o de maior registro, com 271 casos confirmados.

Ao analisar o perfil feminino ao longo desse período, observa-se que a faixa etária mais afetada foi a dos 40 aos 49 anos, com 120 mulheres diagnosticadas entre as 410 registradas com Aids. Uma análise mais aprofundada revela que mulheres negras apresentaram uma incidência mais elevada em comparação às mulheres brancas, com 196 casos contra 189 no recorte histórico, evidenciando uma estabilização ao longo dos anos.

A médica Valéria Correia de Almeida, infectologista do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), destaca a vulnerabilidade dessas mulheres, apontando que a infecção pelo HIV ocorre muitas vezes em contextos nos quais a negociação do uso de preservativos se torna difícil. A exposição a situações de violência doméstica e sexual também contribui para esse cenário complexo. A Dra. Almeida ressalta que, em alguns casos, a violência doméstica pode estar associada à não utilização de preservativos.

No que diz respeito aos homens, o aspecto racial não prevalece. Dos 1.298 casos positivos nos últimos 10 anos, 667 eram brancos e 529 negros. Quanto à faixa etária, a maior concentração de notificações ocorreu entre os 30 e 39 anos, totalizando 406 casos no período.

NOTIFICAÇÕES

Ao contrário da Aids, as notificações de HIV oferecem uma visão mais atualizada da disseminação do vírus, refletindo a exposição recente das pessoas a ele.

Segundo os indicadores, entre o ano passado e o atual, as notificações apresentaram uma leve redução de 174 para 165 casos. Embora os dados ainda sejam preliminares, a Secretaria de Saúde avalia que não houve uma diminuição significativa, indicando um cenário de estabilidade. Vale ressaltar que, entre 2021 e 2022, o município experimentou um aumento de 34% nas infecções por HIV. Uma hipótese plausível é que, durante o ápice da pandemia de covid-19, muitas pessoas deixaram de realizar diagnósticos de infecção por HIV devido às restrições nos serviços de saúde, resultando em menos diagnósticos.

Ao longo dos últimos dez anos, o ano de 2016 registrou o maior número de notificações de infecções por HIV, com 304 casos, enquanto o ano de 2021, ainda marcado pelos reflexos da pandemia, apresentou o menor número, com 130 casos.

Analisando o atual cenário, dos 165 casos notificados, 121 foram em indivíduos do sexo masculino e 44 do sexo feminino. Entre os homens, a faixa etária mais afetada foi a de 20 a 29 anos, com 54 casos, seguida pela faixa dos 30 aos 39 anos, com 38 casos. A Dra. Valéria destaca a importância do estímulo à testagem nessa população e faixa etária, reconhecida como mais suscetível à infecção por HIV.

Uma preocupação destacada pela médica é que o público jovem frequentemente se expõe a elementos de risco, como o uso de drogas sintéticas e álcool, negligenciando precauções durante as relações sexuais. Sob o efeito dessas substâncias, muitos deixam de usar preservativos, aumentando consideravelmente o risco de contrair o vírus HIV. A Dra. Valéria enfatiza a necessidade de conscientização, especialmente entre os jovens, sobre os perigos associados a comportamentos de risco e o impacto do uso de substâncias na percepção do risco.

O HIV, além de ser transmitido por relações sexuais desprotegidas, pode ser passado da mãe para o filho durante a gravidez, parto e amamentação, assim como através do compartilhamento de instrumentos perfurocortantes não esterilizados, como seringas e alicates de unha.

Para prevenir a infecção por HIV, é fundamental adotar práticas sexuais seguras, incluindo o uso de preservativos externos e internos. Além disso, a profilaxia pós-exposição ao HIV (PEP) e a profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) são estratégias eficazes de prevenção. É importante ressaltar que pessoas em tratamento para o HIV por mais de seis meses, com carga viral indetectável, não transmitem o vírus através de relações sexuais.

A Dra. Valéria destaca a importância do tratamento para reduzir a incidência de Aids, afirmando que, com a adesão adequada à medicação, uma pessoa com HIV pode evitar o desenvolvimento da doença. A evolução da medicina transformou o HIV de uma condição sem tratamento para uma doença crônica controlável. Ao buscar o tratamento e manter a carga viral sob controle, é possível evitar o adoecimento por Aids ao longo da vida.

Em Campinas, todas as unidades de saúde oferecem testes rápidos para o HIV. Indivíduos que tenham tido relações de risco são encorajados a procurar uma unidade para realizar o teste e, em caso de resultado positivo, iniciar imediatamente o tratamento. Além disso, o município dispõe do Centro de Referência DST/Aids, localizado na Rua Regente Feijó, que oferece serviços e acompanhamento para pessoas que já desenvolveram a doença. A conscientização, a testagem regular e o acesso ao tratamento são peças-chave na promoção da saúde e na prevenção da disseminação do HIV.

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