VIDA SELVAGEM

Número de animais silvestres atropelados na CAM-127 preocupa Congeapa

Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental de Campinas revelou que de dezembro a março foram 20 corpos encontrados na estrada que liga Joaquim Egídio à Rodovia Dom Pedro I

Bruno Luporini/[email protected]
26/03/2025 às 14:07.
Atualizado em 26/03/2025 às 15:01
Veado, sagui, sariguê, jacu, cobra e irara (foto) são algumas das espécies identificadas pela população; Congeapa pediu a instalação de radares na Estrada Municipal, porém a Emdec alegou que equipamentos atuais são incompatíveis com o piso intertravado (Rodrigo Zanotto)

Veado, sagui, sariguê, jacu, cobra e irara (foto) são algumas das espécies identificadas pela população; Congeapa pediu a instalação de radares na Estrada Municipal, porém a Emdec alegou que equipamentos atuais são incompatíveis com o piso intertravado (Rodrigo Zanotto)

O Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental de Campinas (Congeapa) demonstrou preocupação com o levantamento feito por eles que indica que, de dezembro de 2024 até hoje, 20 animais silvestres foram mortos por atropelamento na extensão de 2,7 quilômetros da Estrada Municipal Dona Isabel Fragoso Ferrão (CAM-127), que liga o distrito de Joaquim Egídio à Rodovia Dom Pedro I. Segundo o presidente do Congeapa, Pedro Rocha Lemos, os atropelamentos envolvendo animais eram raros antes da pavimentação que foi feita na via. “Como a estrada era de terra, os veículos andavam mais devagar, o que facilitava evitar uma colisão.”

A pavimentação na estrada foi concluída em novembro de 2023, com a utilização de bloquetes de concreto intertravados. Na análise do Congeapa, os veículos passaram a circular com uma velocidade mais elevada com o novo tipo de piso, fator apontado como a principal causa dos atropelamentos. Entre os 20 animais encontrados estão espécies como veado, sagui, sariguê, jacu, cobra e irara.

Para o Conselho Gestor, existe a necessidade de monitorar o trânsito no local, com o objetivo de constatar o possível aumento de fluxo de veículos e a velocidade praticada pelos motoristas. O limite para a estrada é de 50 km/h. O conselheiro Mário Luiz Cardoso de Araújo destacou que os principais horários de acidentes, relatados pelos moradores locais, são aos finais de semana, especialmente no período noturno. “Sábado à noite sempre aparece um bicho morto”, contou. Por isso ele entende que a fiscalização deve ser reforçada nesses horários. Para Araújo, o ideal é que aparelhos de radar sejam instalados por toda a extensão da CAM-127. Além disso, existe também a necessidade de reforçar a sinalização de placas, tanto as de velocidade quanto as que orientam os motoristas sobre a presença e travessia de animais silvestres.

Pedro Lemos acrescentou que há a necessidade da ampliação da área cercada nas duas margens da estrada, o que facilitaria o direcionamento dos animais para as passagens aéreas e subterrâneas. Atualmente as cercas de contenção de fauna existem no perímetro dos locais onde os corredores estão instalados. No entendimento de Lemos, o ideal é que o cercamento compreendesse toda a extensão da estrada, “evitando que os animais acessem a pista e consigam achar com mais facilidade as passagens de fauna”.

Lemos opinou que, além dessas medidas, a conscientização das pessoas é essencial para a mitigação do problema. “O indivíduo tem que entender que ele está passando por uma região de APA, é uma questão de educação ambiental”. O presidente considerou que o projeto de pavimentação foi aprovado dentro das regras de uma região de APA, porém “existe uma diferença entre o que está no projeto e a realidade”, por isso ele afirmou que o monitoramento e adequações constantes são parte da manutenção do equilíbrio entre a área de proteção e a ocupação urbana.

RESPOSTAS

De acordo com a Emdec, foi feita uma análise para a instalação de equipamentos de fiscalização eletrônica na CAM-127. A conclusão foi que a instalação dos equipamentos é tecnicamente inviável. A empresa informou que a instalação dos sensores causaria impactos na estrutura do pavimento, pois a configuração dos equipamentos contratados atualmente é incompatível com o piso intertravado existente na via. A Emdec optou pela instalação de lombadas para promover a redução da velocidade no local. Em 2024 foram duas lombadas implementadas na via. Além disso, os agentes da mobilidade urbana mantêm o monitoramento do trânsito na região, especialmente em horários de pico. A Emdec também ressaltou que a CAM-127 não figura entre os locais com altos índices de sensibilidade mapeados. Segundo a empresa, em 2024 não houve registro de nenhum sinistro de trânsito na via, incluindo atropelamento de animais. Os dados são da Central de Monitoramento de Operações, que coleta 30% do total de acidentes registrados em vias urbanas, atendidos pelos agentes da mobilidade urbana e, também do banco de dados do Infosiga.

Com relação à impossibilidade da instalação de radares por conta do tipo de piso, o conselheiro Mário Araújo sugeriu uma alternativa. “Creio que seria possível fazer uma faixa transversal de concreto para que o sensor conseguisse fazer a aferição de velocidade, essa seria a medida de controle de velocidade mais eficiente”.

A Prefeitura respondeu que a CAM-127 conta atualmente com seis passagens de fauna, sendo três aéreas e outras três subterrâneas. Como as passagens na estrada não possuem câmeras de monitoramento, a Prefeitura informou que não dá para mensurar o uso das estruturas pelos animais.

HISTÓRIA

Concluída em novembro de 2023, a pavimentação da estrada recebeu um investimento de R$ 8,3 milhões. A melhoria era uma antiga reivindicação dos moradores dos distritos de Sousas e Joaquim Egídio. Nos últimos anos a CAM-127 passou por grande mudança, recebendo muitas chácaras, sítios, locais de eventos, além de ser muito usada por pessoas que querem acessar os restaurantes e atrações naturais de Sousas e Joaquim Egídio. Automóveis, caminhões e motocicletas dividem espaço com ciclistas que buscam as trilhas dos distritos. “Existe a ausência de uma ciclovia e de uma calçada adequada para caminhadas, demandas que também devem ser consideradas para o benefício de todos”, concluiu Lemos.

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