FISCALIZAÇÃO NO TRÂNSITO

Novos radares na John Boyd Dunlop registram 2,33 multas a cada hora

Volume de infrações se refere a dois meses de funcionamento de dois equipamentos

Thiago Rovêdo/ [email protected]
22/10/2022 às 09:27.
Atualizado em 22/10/2022 às 09:27
Movimento de veículos na Av. John Boyd Dunlop, uma das principais ‘artérias’ de Campinas: novos equipamentos serão instalados em locais com mais ocorrências de acidentes graves (Kamá Ribeiro)

Movimento de veículos na Av. John Boyd Dunlop, uma das principais ‘artérias’ de Campinas: novos equipamentos serão instalados em locais com mais ocorrências de acidentes graves (Kamá Ribeiro)

Os dois equipamentos de fiscalização eletrônica instalados na Avenida John Boyd Dunlop no período de 30 de junho a 31 de agosto, no bairro Jardim Nova Esperança, na região do distrito do Campo Grande, registraram 2,33 multas por hora na via. Os dados foram obtidos na Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

De acordo com o relatório fornecido pela Administração Municipal, os radares, no sentido bairro-Centro, registraram 1.623 infrações e, no sentido Centro-bairro, 1.739 penalizações. Vale lembrar que a Avenida John Boyd Dunlop, assim como em outros locais de Campinas, está recebendo os novos equipamentos de fiscalização previstos no edital publicado no meio deste ano, mas ainda não têm um prazo definido para entrar em operação.

O advogado e especialista em trânsito, mobilidade e segurança, Renato Campestrini, avalia que, diariamente, muitos motoristas cometem diversas infrações no município. Ele considera todas as infrações graves, mas aponta justamente a de excesso de velocidade como a mais séria, devido a essa irregularidade ser a que mais oferece risco ao condutor e às outras pessoas. "A cada 1% de aumento na velocidade média, cresce em 4% o risco de se envolver em um acidente grave e 3% de em um acidente fatal. Esses são dados da Organização Mundial de Saúde, a OMS", informou.

Os radares foram instalados em locais onde foram registrados acidentes graves. São dois medidores fixos de velocidade no Jardim Nova Esperança, no sentido bairro - Centro da Avenida John Boyd Dunlop, próximo à Rua Francisca Alves do Pinho; e no sentido Centro - bairro da via, anterior à Rua Francisca Alves do Pinho. A velocidade máxima permitida é de 50 km/h. 

Esses dois radares geraram um montante de R$ 829.249,11, que ainda não são considerados arrecadados, visto que os motoristas devem efetuar o pagamento das infrações para isso. No total, em 2022, até o dia 30 de setembro, a cidade emitiu 41.066 multas. Março foi o mês com mais penalidades, somando 59.340 infrações. "Os radares precisam existir para incentivar o condutor a respeitar o limite de velocidade. O condutor brasileiro somente respeita as regras de trânsito quando está ciente de que é fiscalizado. A simples sensação de que é possível cometer mais infrações incentiva o desrespeito às regras de trânsito", afirma o especialista.

Há pouco mais de três meses, a estudante de engenharia da computação, Carolina Neves, de 23 anos, recebeu em sua casa uma péssima notícia: uma notificação da Emdec sobre uma multa por conta de um avanço de semáforo vermelho na Avenida John Boyd Dunlop, com o valor de R$ 293,47, além de sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH), por se tratar de uma infração de natureza gravíssima. Mesmo tendo sido punida, a estudante considera o radar um equipamento essencial para a segurança de motoristas e pedestres.

"Acredito que o propósito do radar é indispensável. Nós, enquanto pedestres ou motoristas, precisamos de um meio eficiente de garantir ainda mais a nossa segurança e a de outras pessoas. Por meio das multas aplicadas, seja por excesso de velocidade seja por avançar o sinal fechado, o motorista é forçado a ter mais consciência e, com o passar do tempo, talvez comece a respeitar mais as leis de trânsito. Assim, quem sabe, as multas poderão até diminuir", disse a estudante. 

Acidentes

Os novos radares foram instalados juntamente com outros dois no Jardim Roseira ainda no primeiro semestre deste ano. Em junho, a Emdec promoveu um período de conscientização e orientação por 30 dias. Na época, a empresa enviou 3.450 avisos educativos aos condutores que cometeram infrações de trânsito, mas as multas não foram registradas. 

Durante o período de conscientização a respeito dos novos equipamentos, dos 3.450 avisos educativos, 312 foram por avanço ao sinal vermelho; 2.350 por transitar acima da velocidade máxima permitida em até 20%; 614 por transitar acima da velocidade máxima em mais de 20% até 50%; e 174 avisos educativos por transitar em velocidade superior à máxima permitida em mais de 50%. Houve sete casos de registro de velocidade acima dos 100 km/h e em um dos casos a velocidade medida atingiu 110 km/h. 

Em 2021, 12 pessoas perderam a vida na Avenida John Boyd Dunlop. No total, 374 acidentes foram registrados na via, sendo 11 deles fatais. Por conta disso, em fevereiro deste ano a Prefeitura lançou a campanha "JBD: Morte Zerø no Trânsito". Entre os dez pontos que mais registraram acidentes em toda a cidade, oito estão nessa via.

A campanha incluiu, ainda, o mapeamento de outras ações de melhoria na sinalização, geometria viária e acessibilidade, além de reforço dos equipamentos de fiscalização eletrônica em pontos com altos índices de acidentes, alta circulação de pedestres, potencial desrespeito à velocidade regulamentada e presença de polos geradores de tráfego.

O novo contrato

A Emdec já iniciou a instalação dos novos radares na cidade - 18 a mais do que há atualmente, incluindo na Avenida John Boyd Dunlop. Conforme a licitação realizada no meio do ano, o novo contrato prevê a instalação de 144 equipamentos, já incluindo os novos 18 radares. Ainda não há um prazo para os equipamentos entrarem em funcionamento.

As avenidas das Amoreiras, Ruy Rodriguez e John Boyd Dunlop, além da Rua Piracicaba, estão sendo priorizadas nesta etapa do serviço. Especificamente no caso das Amoreiras, a fiscalização semafórica foi retirada durante as obras do BRT e não havia sido ainda reinstituída. A Avenida John Boyd Dunlop passou pelo mesmo processo, porém, por conta do alto número de acidentes e mortes, a fiscalização havia voltado a funcionar na região.

A instalação dos equipamentos tem sido realizada no horário noturno, a fim de evitar impacto no trânsito nas vias com alto volume de trânsito. A instalação dos radares inclui, além da colocação do poste na calçada, uma intervenção na rua, visto que ela precisa ser perfurada para que os medidores de velocidade e de avanço do semáforo vermelho sejam instalados.

A Emdec homologou o contrato com os dois consórcios no segundo semestre deste ano, mas somente a partir do lançamento da ordem de serviço os novos equipamentos poderiam ser instalados. Para evitar ficar sem fiscalização, a Administração, no final de junho, assinou um aditamento de seis meses do contrato com a empresa responsável pela gestão dos 126 radares de velocidade e semáforos que já existiam.

O edital foi um tema polêmico este ano, com o prefeito Dário Saadi (Republicanos) desautorizando o presidente da Emdec, Vinicius Riverete, ao cancelar o primeiro pregão, que previa a instalação de 58 novos equipamentos. Após a publicação da notícia pela imprensa e inúmeras críticas da população, o alcaide anunciou a suspensão do edital, alegando que não havia sido consultado sobre a proposta. Uma semana depois, outro edital foi lançado, desta vez, com apenas 18 novos equipamentos.

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