Intenção é reduzir deslocamentos e concentrar o adensamento populacional; corredores Campo Grande e Ouro Verde já contam com uma ação do poder público em transporte
Projeto prevê concentrar adensamento populacional em áreas já urbanizadas ( Cedoc/ RAC)
O novo Plano Diretor de Campinas vai reordenar a cidade para concentrar o adensamento construtivo e populacional ao longo dos eixos de transportes de massa e tornar a cidade mais compacta — ter mais pessoas morando em áreas já urbanizadas e, assim, reduzir os deslocamentos, de forma a aproximar moradia e emprego. “A proposta é reduzir a mobilidade urbana e melhorar a qualidade de vida”, disse o secretário de Planejamento, Fernando Pupo, que espera ter, até junho, um diagnóstico do que mudou na cidade desde 2006, data do atual Plano Diretor, para poder iniciar o processo de revisão da legislação e formatar uma nova lei com as novas diretrizes estratégicas e globais do desenvolvimento urbano e rural da cidade. O prefeito Jonas Donizette (PSB) criou, por decreto, um grupo técnico que ficará encarregado de comandar o processo de revisão do Plano Diretor, e fazer sua atualização de acordo com o preconizado pelo Estatuto da Cidade — um conjunto de regras para a gestão das cidades. Segundo Pupo, o grupo já vem fazendo o diagnóstico da cidade e detectando mudanças ocorridas na última década. “Já sabemos que iremos estimular o adensamento de alguns eixos urbanos e desestimular outros”, disse. Segundo ele, a tendência atual de crescimento vem se configurando nos corredores Campo Grande e Ouro Verde e D. Pedro, que deverão ser estimulados pela nova lei de uso e ocupação do solo que está em elaboração. Os corredores Campo Grande e Ouro Verde já contam com uma ação do poder público em transporte, que projetou dois corredores de ônibus rápidos, os BRT, para essas regiões. O corredor D. Pedro se tornou o novo eixo de investimento econômico da região de Campinas, desde que o corredor rodoviário de exportação começou a ser implantado em 2005 para ligar o Aeroporto Internacional de Viracopos ao Porto de São Sebastião. Oportunidades imobiliárias estão tornando essa rodovia em forte corredor econômico. Há outros eixos importantes, como a Rodovia Santos Dumont, mas os três anteriores estão se estruturando como estimuladores de investimento econômico e adensamento populacional.PrazoA Campinas que será desenhada pelo novo Plano Diretor (a lei tem que estar sancionada até o final de 2016) não deverá ser tão compartimentada como é hoje, com regiões exclusivamente residenciais ou comerciais e industriais. A ideia, segundo Pupo, é que haja uma mescla de uso, tendo como critério principal para uma indústria estar junto de residências o fato de não ser incômoda. O plano, dessa forma, deverá regular a atuação do mercado imobiliário levando-o para a onde a cidade deve crescer e desestimulando sua atuação onde existe saturação ou necessidade de preservação. A Administração quer um novo modelo de ocupação e planejamento para Campinas, para evitar a perpetuação da cidade dispersa e para isso terá uma legislação para permitir em médio e longo prazo a redução das distâncias entre a casa, o trabalho e o lazer. A intenção é contar com a participação de toda a cidade nessa discussão e na definição da legislação. “Com o diagnóstico em mãos, começaremos a traçar diretrizes em conjunto com a sociedade”, disse. A Informática dos Municípios Associados (IMA) está elaborando uma plataforma mais robusta que o aplicativo Participa Campinas, que já permite que o cidadão possa acompanhar e participar do trabalho que vem sendo desenvolvido no processo de revisão da legislação urbanística do município. “Teremos uma ferramenta em que a cidade poderá opinar, analisar e participar pelo celular, PCs, tablets da revisão do Plano Diretor”, afirmou. Cidade nos EUA incentiva moradia perto do trabalhoA remodelação dos municípios para permitir o adensamento populacional é uma tendência mundial. Com distâncias menores entre a casa e o trabalho, o carro pode ficar na garagem e o deslocamento ser feito com bicicleta ou a pé. Melhora a mobilidade e reduz a emissão de gases do efeito estufa. Algumas cidades já estão levando essa proposta tão a sério que Washington, nos Estados Unidos, paga US$ 12 mil para quem decide se mudar para perto do trabalho. O Departamento de Planejamento lançou um programa piloto chamado Live Near Your Work (more perto de seu trabalho), que faz com que as empresas incentivem, com doações, empregados que se mudarem para perto do trabalho ou de pontos de transporte público. As novas habitações terão de estar a, no máximo, 3,2 quilômetros do trabalho, a 800 metros de estações de metrô, ou 400 metros de um corredor de ônibus. Para o urbanista Clóvis Carlos de Oliveira, dar condições para que as pessoas possam morar perto do trabalho, inclui, no caso local, pelo menos duas ações. Uma, é flexibilizar o uso do solo, para usos mistos, de forma que residências, comércio, serviços e até mesmo indústria convivam próximos. Outra ação é um programa de mobilidade que preveja corredores de ônibus que integrem regiões da cidade. Há muitos exemplos no mundo: Barcelona é uma cidade compacta, com 1,6 milhão de habitantes e uma densidade de 16 mil pessoas por quilômetro quadrado (em Campinas, a densidade é de 1.372 habitantes por quilômetro quadrado). Seu desenho urbanístico nasceu em 1860 e já era inovador na época O desafio atual é aumentar a superfície verde nos blocos de ruas em uma cidade que é compacta e que já tem muitas praças e parques. Paris tem 2 milhões de habitantes vivendo em 105 quilômetros quadrados — é a cidade mais densa da Europa. Na região metropolitana as cidades conurbadas estão alterando o uso do solo para permitir a mescla de residências, comércios e indústrias na mesma região. Rotterdan, uma média cidade de 600 mil habitantes na Holanda e que tem o porto mais movimentado da Europa e o 4º no mundo, decidiu que não vai se expandir e nem construir novas áreas satélites. A opção foi por se tornar mais densa e mais sustentável e com pessoas morando perto dos seus locais de trabalho, para poder ir a pé ou em bicicleta ou ainda usando o transporte público.