Novela sobre ocupação atrai novos atores e até a Polícia

Em mais um capítulo da controvérsia envolvendo um imóvel ocupado no Centro de Campinas, o ex-deputado estadual Arthur do Val, também conhecido pela alcunha de 'Mamãe, Falei", apareceu de surpresa na Ocupação de Mulheres Maria Lúcia Petit Vive e causou uma confusão envolvendo também militantes do MBL, integrantes da ocupação e vereadores da Câmara Municipal. A Polícia Militar precisou ser acionada para conter os ânimos e os dois lados informaram que registraram boletim de ocorrência por ameaça. 

A vereadora do PT, Guida Calixto, explicou que recebeu a informação por volta das 16h de que o ex-deputado, cassado por quebra de decoro parlamentar depois do vazamento de áudios com teor machista direcionado às ucranianas, estava tentando entrar no local e incomodando as mulheres da ocupação. Guida e outros vereadores, como Paulo Bufalo e Mariana Conti, ambos do PSOL, foram até o local averiguar a situação.

"É um absurdo essa pessoa que nem sei se é de Campinas, não sei a relação que ele tem com esse imóvel, vir aqui fazer esse tipo de evento, de ato. Não sei qual o interesse de agredir um grupo de mulheres que está ocupando esse espaço justamente porque ele está abandonado há quase dez anos", pontuou Guida. Ela defendeu a ocupação, dizendo que as mulheres tomaram a iniciativa pelo estado de completo abandono, com a propriedade não cumprindo a sua função social. 

"Ninguém está ocupando espaço, propriedade de outra pessoa. Está ocupando justamente porque tem locais públicos na cidade que poderiam ser equipamento público de atendimento às mulheres. O poder público não faz absolutamente nada e essas mulheres do movimento social resolveram tomar uma atitude". 

A vereadora do PSOL, Mariana Conti, reclamou da presença de Arthur do Val em uma ocupação que reivindica espaço de acolhimento para mulheres que estão em situação de violência. A vereadora alega que o ex-deputado fez provocações e ameaças. Já no 1º Distrito Policial, Mariana afirmou que Arthur do Val insinuou que ela deveria apanhar, dizendo que os policiais eram muito "bonzinhos". A vereadora do PSOL informou que faria um boletim de ocorrência por ameaça e desacato. "Isso está registrado no boletim de ocorrência. É impressionante a audácia deles."

As duas vereadoras e também Bufalo reclamaram da falta de mais políticas públicas voltadas ao acolhimento das mulheres vítimas de violência da cidade e criticaram o espaço dado à especulação imobiliária. "O movimento de mulheres já esteve com o vice-prefeito, já pautou isso na Câmara Municipal e tem pautado na cidade as ausências dessas políticas. Essa ocupação tem a ver com isso", afirmou Paulo Bufalo. 

O ex-deputado Arthur do Val conversou com a reportagem e relatou que foi xingado e alvo de cusparadas. Ele alegou ter ido ao local com perguntas simples, sem xingar, e que não tentou invadir o local, apenas requisitou a entrada e teve o pedido negado. 

Também conhecido por ter um canal no Youtube, Arthur disse que ficou sabendo da ocupação por meio de um vídeo que circula na internet em que o vereador Paulo Bufalo e o proprietário do imóvel ocupado, o empresário Álvaro Cesar Iglesias, discutiam em frente ao local. Arthur revelou que a ideia era justamente filmar a ocupação e divulgar o que estava acontecendo.

"Como se invade uma invasão? Eu não quis invadir. Em nenhum momento eu falei que ia quebrar o portão, nem tem como, é um portão forte, eu imagino, com cadeado. Nem que eu quisesse conseguiria entrar lá à força. Eu sou apenas um e eles não sei quantos são, uns 30."

O vídeo que o ex-deputado se refere foi filmado na quarta-feira, mesmo dia em que Iglesias afirma ter tomado conhecimento da ocupação. O empresário afirmou que o imóvel está desocupado há um ano e alegou que a razão de não estar sendo utilizado para nenhum fim é a crise financeira gerada na pandemia. Iglesias registrou um boletim de ocorrência, assim como Bufalo. (com informações de Israel Moreira)